sexta-feira, 26 de novembro de 2010

UM INTERESSANTE OLHAR DA ACADEMIA SOBRE A GUERRA CONTRA O NARCOTRÁFICO NO RIO DE JANEIRO

Ao participar de uma entrevista para a Rede Globo de Televisão na manhã desta sexta-feira (26 de novembro), a Profª Drª Jacqueline Muniz, antropóloga e coordenadora do Grupo de Estudos Estratégicos da Universidade Cândido Mendes (UCAM), afirmou que vai ser difícil o policiamento permanente na Vila Cruzeiro.
Segundo a especialista, o que aconteceu na ocupação da Vila Cruzeiro foi a disponibilização de meios sob a orquestração da Secretaria de Segurança Pública do estado.
Bom Dia Brasil: Essa operação pode ser considerada um marco no combate ao tráfico de drogas no Rio de Janeiro?
Jacqueline Muniz: Sim. Ela tem vários fatores que diferem do que foi a tentativa de ocupação em 2007 e em 2002, por exemplo. E quais são os aspectos que fizeram a diferença para que a polícia pudesse sustentar a sua superioridade de método? O primeiro o aporte de meios. Quando se tem meios adequados, você aumenta as alternativas táticas de ação da polícia, reduzindo o risco e a incerteza de operações de alto risco. E o uso de unidades especiais, como a Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil/RJ (CORE) e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE).
A segunda é a pronta resposta de uma ação federativa. É possível perceber que não se trata mais do bloco do eu sozinho do estadual, municipal ou federal. O que se teve ali foi a disponibilização de meios sob a orquestração da Secretaria de Segurança Pública, o que é muito importante, porque quem detém as informações é quem conhece o modo do agir policial para ter superioridade de método.
Outra variável importante foi o assentimento da população. O consentimento popular que se deu pelo acompanhamento diário e direto que a população teve em operação. Com esse respaldo você reduz a resistência na expectativa de presença em ação policial.
Bom Dia Brasil: Pela complexidade da área é possível imaginar uma presença permanente do policiamento nessa região?
Jacqueline: É sim, mas vai ser difícil. Temos que ter muito claro que nas ações repressivas – todo tipo de operação policial especial seja aqui, seja na Colômbia, seja onde quiser – os resultados são pontuais. Para que o sucesso repressivo se sustente no tempo é preciso policiamento convencional comunitário, no estilo UPP, como foi o Gepai (Grupamento Especial de Policiamento em Áreas de Risco). É preciso lembrar que hoje, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) consomem 1,5% do efetivo da polícia porque ela tem uma razão policia/habitante muito alta (um policial para cada 100 habitantes). E é necessário que seja assim.
No caso da Vila Cruzeiro, é preciso lembrar que em 2002 foi implantado o Gepai, que é anterior às UPPs, com a mesma filosofia, mas que ‘uma andorinha sozinha ali, acabou não fazendo verão’. Nós vamos necessitar de aportes e recursos, tanto no efetivo, quanto em meios, para que se sustente o policiamento ostensivo em toda a área.
Bom Dia Brasil: O mundo espera que o Rio de Janeiro vença a violência diante da realização das Olimpíadas e da Copa do Mundo.
Jacqueline: Sim. Inclusive nos termos dos protocolos da FIFA consta exatamente a capacidade de presteza e pronta resposta de ação diante do risco que as polícias brasileiras e, de uma maneira geral, as forças públicas brasileiras - o exército, a marinha e a aeronáutica - possam prover durante esses eventos.
Já tivemos um bom ensaio durante os jogos pan americanos. E uma das preocupações maiores é, exatamente, o uso do terror que é o que vimos no Rio de Janeiro, exatamente por parte daqueles que não podem fazer a guerra convencional ou se sustentar como guerrilha. Então esse é um ponto fundamental.

Fonte: http://m.g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2010/11/para-antropologa-vai-ser-dificil-policiamento-permanente-na-vila-cruzeiro.html

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