terça-feira, 21 de dezembro de 2010

AMOR, PAIXÃO E TRAIÇÃO NA FAMÍLIA ITALIANA: o cinema como espelho da alma moderna

Meus amigos, o cinema apaixona e nos enlaça em enredos de toda sorte os quais nos levam a sentimentos díspares, do choro clássico ao agarradinho do cinema como um testemunho de um casal enamorado e ansioso.
Hoje, destaco a genialidade e a singularidade de Ingmar Bergman e do rol de filmes que lançou e o notabilizou com a alcunha de “cineasta da alma”, em face de sua sensibilidade aguçada e a capacidade de representar os dramas da humanidade em suas mais diversas facetas.
Essa característica de Bergman foi assinalada em seu livro “Imagens”, obra autobiográfica lançada no ano de 1993 no qual Bergman, do alto de sua coerência fílmica afirmou que “fazer filmes é mergulhar até as mais profundas raízes, até o mundo da infância”.
De maneira singela e despretensiosa, ofereço-lhes a dica cinematográfica da película italiana denominada “Ricordati di me”, rebatizada de “No Limite das Emoções” na versão portuguesa. O filme foi produzido pela Itália, França e Reino Unido, sob a direção de Gabriele Muccino. Lançado em 2003, o drama moderno tem em seu elenco os atores Fabrizio Bentivoglio, Laura Morante e Mônica Belucci, estonteante no papel de Alessia, ex-namorada na juventude e amante apaixonada de Carlo no meio da crise conjugal e existencial da família.
O filme é muito interessante e representa a realidade da sociedade italiana moderna a partir do enredo que expressa diversas crises na família de Carlo, Giulia, Valentina e Paolo e os limites éticos e morais que se apresentam para essa família e os desafios que cada um deles deve superar para garantir os seus interesses individuais.
Giulia representa aquela mulher européia moderna de meia idade que, no cerne de uma crise afetiva, vê sua sexualidade reprimida e procura um novo rumo para a sua vida, ao fazer um curso de teatro paralelo ao exercício do magistério.
Os dois filhos de Carlo e Giulia, Valentina e Paolo correm atrás de seus desejos e interesses pessoais; quer seja participar de um programa televisivo e se tornar uma estrela no caso de Valentina ou, aos 19 anos, seduzir e conquistas uma colega para iniciar sua vida sexual, no caso de Paolo.
Meus caros, assistir essa película vale a pena até pela abordagem universal feita pelo diretor, que pode ser uma espécie de espelho da alma européia, latino-americana e muitos outros rincões pelo mundo afora.
Por fim, “Ricordati di me” mostra o lado emotivo e passional dos italianos e a força de seu idioma e de sua cultura.
Meus caros, ao assistir esse filme, quem sabe, você poderá se perceber dentro dessa trama moderna, dramática e divertida ao mesmo tempo.
Arrivederci!

domingo, 19 de dezembro de 2010

DROPS DE FATOS DA “GREVE DE 51”: bambas da imprensa nacional cobrem o conflito político na Ilha Rebelde

Meus camaradas, a “Greve de 51” foi descoberta por mim ao ler, no início dos anos 90, o livro do jornalista-historiador Benedito Buzar, que havia sido publicado em 1982. Desde o primeiro período no curso de História Licenciatura (UFMA) fiquei literalmente fascinado por esse grande evento histórico de nossa Ilha Rebelde.
Numa perspectiva teórico-metodológica diferenciada do trabalho pioneiro e importante de Buzar, corri atrás de fontes que pudessem mostrar-me um contexto sócio-político e cultural de nossa capital ludovicense e a materialidade das coisas que havia: economia, educação, classes sociais e demais feições mostradas pela cidade.
Fiz uma primeira narrativa quando colei grau em abril de 1997, após defender a monografia intitulada provocadamente “Greve de 51: mito ou realidade?”. Ao ingressar no mestrado em 1999 (UFPE), em conjunto com outros colegas historiadores, ampliei a abordagem que havia feito na graduação e trabalhei com vários e diversificados aspectos a seguir: a história oral a partir de depoimentos de pessoas que vivenciaram a greve, as contradições da luta entre as facções oligárquicas do Maranhão pelo butim do aparelho estatal, o papel da imprensa, dentre tantos outros.
No caso da cobertura que a imprensa local, nacional e internacional fez da “Greve de 51” localizei na Biblioteca Nacional (RJ) e me saciei de informações dos grandes jornais brasileiros que cobriram o conflito desde o seu nascedouro no dia 28 de fevereiro de 1951 até o seu epílogo, no dia 6 de outubro de 1951, com a derrota política das “Oposições Coligadas” e a vitória do vitorinismo como facção oligárquica dominante naquele momento através da consolidação do governador Eugênio Barros no exercício da sua função mandatária.
Portanto, decidi que poderia ser interessante que o grande público pudesse ter acesso a documentos históricos alusivos a essa verdadeira batalha que foi a “Greve de 51”. Espero que apreciem a leitura ipsis litteris e se quiserem, vamos ao debate sobre nossa história!
O artigo abaixo transcrito é de autoria do célebre jornalista político brasileiro e parlamentar, Doutel de Andrade e narra a derrota dos oposicionistas daquela época. Fique à vontade!

"MELANCÓLICO EPÍLOGO DA “REVOLUÇÃO” NO MARANHÃO
Escreveu Doutel de Andrade
(enviado especial dos “Diários Associados”)

S. LUIZ, 9 – Para o repórter que aqui veio na certeza de que assistiria acontecimentos extraordinários, nada mais resta, senão adquirir, melancolicamente, passagem de volta, no próximo avião. A cidade retornou inteiramente ao seu ritmo normal de vida e até mesmo a política voltou à sua rotina, com os partidos disputando cargos através dos velhos processos, utilizados no país inteiro. Somente o PSP está disposto a firmar, já esta tarde, em reunião do seu diretório local, uma linha de oposição ao governo.
A sensação de frustração que domina o repórter, ocorre também aos demais jornalistas, inclusive os norte-americanos que aqui chegaram na expectativa de acontecimentos verdadeiramente inéditos. Mas a verdade é que a revolução maranhense não passou, mesmo, de um tremendo “bluff”.
Com o Sr. Eugênio Barros perfeitamente senhor da situação, o único fato político de evidência no momento, diz respeito à prisão da leader comunista Maria José Aragão. Tendo o Tribunal de Justiça negado “habeas-corpus” impetrado a seu favor, a médica agitadora permanecerá presa, respondendo a processo, não estando ainda confirmada a sua libertação. Afora isso, os deputados oposicionistas, que ultimamente só compareciam à Assembléia Legislativa para receber os subsídios, retornaram ao trabalho, com exceção do Sr. Neiva Moreira. Fogem, porém, aos debates sobre os acontecimentos, temerosos das críticas que lhes estão reservadas pelos situacionistas. Mais alguns dias e gregos e troianos estarão confraternizando, na Sala do Café, para maior decepção do povo.
Os dirigentes da fracassada tentativa de sublevação do povo maranhense tratam agora de salvar a pele enviando emissários ao governador, com protestos tardios de solidariedade. Demonstrando grande superioridade moral, o governador declarou que não pretende mover contra eles quaisquer sanções. Até mesmo Raimundo Bastos, chefe do caricato “Exército da Salvação”, e que ora se encontra no Rio, acaba de dirigir-se, por intermédio de um amigo, ao Sr. Eugênio Barros, a fim de saber da sua situação. O Sr. Eugênio Barros respondeu que nada havia contra ele, acrescentando que o “revolucionário” poderia continuar percebendo, tranqüilamente, os seus vencimentos, como sinecurista da Prefeitura. E assim se acaba a história da “guerra” maranhense, que afinal só serviu para mostrar a debilidade dos chefes das oposições coligadas".

Publicada em “O Jornal” – Rio de Janeiro, 10/10/1951. In: SIQUEIRA, Newton Pessoa de. Força da Lei e do Dever. São Luís: [s.n.], 1952

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

IGREJA E DITADURA MILITAR NO BRASIL: Teologia da Libertação e bispos combativos defendem seu rebanho

Dom Antonio Fragoso: "Crimes de tortura não podem nunca prescrever"
Recife (PE), 31/10/2003

Dom Antônio Fragoso deu muito trabalho aos militares. Esse paraibano de Teixeira, compulsoriamente aposentado em João Pessoa, aos 83 anos, foi um dos expoentes da ala radical-progressista da Igreja Católica. Um ardoroso pregador da Teologia da Libertação, que infernizou a vida dos militares latino-americanos nos anos de chumbo das décadas 60, 70 e 80. A visão sobre o Golpe de 64 mudou na ótica, mas não na oposição intransigente: o que era uma quebra de fidelidade à Constituição e ao presidente João Goulart, na visão de hoje foi um Golpe Militar, inspirado pela bipolaridade no mundo: o capitalismo americano e o comunismo soviético.
"As elites conservadoras tinham medo do acesso de lideranças populares ao Poder, e não do risco do comunismo no Brasil, mas se utilizaram desse instrumento para liquidar o projeto de governo popular", interpreta o religioso, que por 34 anos comandou a diocese de Crateús, no sertão do Ceará. Dom Fragoso diz que duas décadas de ditadura deixaram uma herança de alienação política para as gerações de jovens até hoje. "Os jovens daquele tempo pagaram um alto preço, tão grande que silenciou a paixão política nos jovens de hoje", disse o bispo a universitários da Universidade Rural de Pernambuco, em palestra sobre 1964, semana passada.
Quase 40 anos depois de Golpe de 64, dom Fragoso mantém-se indignado e irredutível em suas posições, que levaram os militares a lhe ficharem como socialista agitador. Organizador de pobres e desassistidos camponeses em sindicatos e cooperativas, dom Fragoso enfrentou a ira, a provocação e a campanha de oposição dos latifundiários do Crateús.
Defensor da idéia de que o Governo Lula esclareça os crimes, aponte e puna os autores de torturas e mortes, durante o regime militar, dom Fragoso argumenta que "crimes contra a dignidade humana não podem prescrever".

A seguir, a entrevista de Dom Fragoso para o Jornal do Commércio.
JORNAL DO COMMERCIO - 31 de março de 1964. Passados quase 40 anos, como pode ser analisado o Golpe de 64? Mudou a sua visão em relação à que tinha naquela época e ao longo do regime militar?
DOM ANTÔNIO FRAGOSO - Em 1964, apesar da confusão para a análise dos acontecimentos, eu via a chamada "Revolução" como um desrespeito dos militares ao juramento de fidelidade à Constituição e ao presidente da República, como um sinal de medo das Forças Armadas (e das lideranças conservadoras) diante dos "movimentos populares", da possibilidade de acesso ao poder de lideranças dos meios populares, de ameaça ao Capitalismo. O combate ao Comunismo não era o móvel principal da "Revolução", mas um instrumento fácil de manejar para cativar as lideranças conservadoras e as massas populares ainda não articuladas. Hoje, 40 anos depois, estou vendo a "Revolução de 1964" como um "Golpe Militar", inspirado na bipolaridade: a civilização capitalista e cristã, sob a hegemonia dos Estados Unidos, versus a civilização materialista e atéia, sob a hegemonia da então União Soviética.
JC - O que o leva a esta conclusão?
DOM FRAGOSO - Na Escola Superior de Guerra foram preparados, em nível de pós-graduação, os quadros que conduziram o "Golpe Militar". Eram quadros civis e militares. A chamada "Doutrina de Segurança Nacional", talvez subproduto do "War College", dizia que a nação não era o povo, mas a elite no Poder. Evidentemente, a elite militar, pois as Forças Armadas não tinham confiança nos políticos civis. Recuando 40 anos, confirma-se em mim a certeza de que as elites conservadoras tinham medo, não do Comunismo, mas dos meios populares.
JC - Quais as repercussões de 64 sobre os dias de hoje? Ficaram herança, influência ou reflexos daqueles 20 anos?
DOM FRAGOSO - As repercussões de 64 sobre os dias de hoje me aparecem como um preço muito alto que a nação está pagando. O "anticomunismo" negativo, que não tinha nenhum projeto de um Brasil de todos, foi utilizado como arma de justificação da repressão. Mas, pareciam tão evidentes as distorções, que o povo perdeu a confiança em políticas públicas conduzidas pelos militares. O Golpe foi sepultado! Quase ninguém mais festeja 64. Porém, a experiência coletiva suscitou novas expectativas, que se articulam e buscam expressão política em movimentos sociais.
JC - Em recente palestra para estudantes da UFRPE, o senhor destacou que os jovens daquele tempo "pagaram um alto preço (pela liberdade e por seu idealismo)". Um preço tão grande que "silenciou a paixão política nos jovens de hoje"? Por essa interpretação, podemos dizer que a alienação política de hoje é, em parte, conseqüência de 64?
DOM FRAGOSO - No contexto de 64, as lideranças estudantis eram criativas e acreditavam em utopias mobilizadoras. Ao nível da universidade, sobretudo pela mediação da UNE, as lideranças dos jovens eram projetistas. Os "fóruns de estudantes" eram mais cheios de sonhos e de ideais do que os "fóruns de reitores" e que os quadros de direção e de magistério. A UNE é fechada, e a presença das forças de investigação e segurança denunciavam, reprimiam. Nas duas décadas, cerca de dez mil presos políticos ocuparam nossas prisões. Destes, mais de 60% eram jovens. A vigilância nas universidades, a repressão das manifestações estudantis e as torturas quase estancaram a participação aberta nas lutas políticas. A clandestinidade pagou um preço alto. As grandes paixões políticas, as grandes causas de transformação da sociedade, as grandes utopias sociais não são mais a tônica da juventude. As duas décadas de ditadura produziram uma "alienação" que marcou gerações nesses 40 anos.
JC - Em 1964, onde o senhor estava?
DOM FRAGOSO - De julho de 1957 a julho de 1963, fui o bispo auxiliar do arcebispo dom José de Medeiros Delgado, na Arquidiocese de São Luís do Maranhão. Em julho de 1963, fui eleito vigário capitular da Arquidiocese de São Luís, com a missão de administrá-la até à chegada do novo Arcebispo. Em 31 de Março de 1963, eu estava no Arcebispado. As notícias eram confusas. Sabendo que iam ser detidas pessoas que trabalhavam comigo no Movimento de Educação de Base (MEB), na organização dos sindicatos rurais, coloquei-as no Arcebispado e, depois, tiveram que fugir. Pouco tempo depois, uma delas, Regina, que era formada em filosofia, carioca, foi surpreendida pelo DOPS no Rio e sumariamente assassinada sob tortura. Sendo informado de que o presidente do Sindicato Rural de Pindaré-Mirim estava sendo procurado para ser preso, coloquei-o no Arcebispado. Sentindo a sua insegurança, ele foi para o interior, passando "piedosamente" pelo posto da Polícia entre duas irmãs Vicentinas do Chapéu Grande, que usavam o hábito de religiosas.
JC - Como foram os dias seguintes, imediatos após o Golpe?
DOM FRAGOSO - Nos dias seguintes, eu soube que seriam detidas pessoas que trabalhavam no MEB. Fui ao quartel do Exército para dizer que eram de nossa inteira confiança. Então, fui interrogado por um capitão, que era aluno da Faculdade de Filosofia, que integrava a Universidade Católica do Maranhão, da qual eu era o reitor. O capitão era filho de um general reformado, que dom Delgado, meu arcebispo - que já havia sido transferido para a Arquidiocese de Fortaleza -, nomeara diretor do Banco Popular da Arquidiocese de São Luís. O Banco Popular foi organizado por dom Delgado para financiar as cooperativas dos agricultores pobres, que não tinham condições de ser acolhidos pelas instituições oficiais de crédito. A minha "ficha", organizada por indicação do general, pai do capitão, me catalogava como "socialista agitador". Em julho de 1964, fui nomeado como bispo diocesano de Crateús. Aí, fiquei na qualidade de seu primeiro bispo diocesano de agosto de 1964 a maio de 1988.
JC - Os déficits sociais de hoje são os mesmos de 1964: reforma agrária, má distribuição de renda, má assistência à saúde, baixos níveis de educação, desrespeitos aos direitos humanos e impunidade nas classes abastadas. Quarenta anos depois, o Brasil mudou em que?
DOM FRAGOSO - O Brasil mudou muito. A distribuição injusta das riquezas nacionais é mais visível e ampla. Mas, vejo uma crescente insatisfação das maiorias populares que se revela em momentos nacionais de crise, uma ascensão dos movimentos populares, uma sensibilidade crescente aos clamores das crianças, dos jovens pobres, das mulheres, idosos, dos "sem terra" e dos "sem teto". Nunca vi tanta insatisfação gritada em voz alta como nesses últimos anos. Dizia-se, "grite!. Não morra calado como o sapo debaixo da pata do boi".
JC - Centenas de pessoas sofreram torturas, algumas dezenas desapareceram ou morreram sob tortura e outras foram perseguidas por longo tempo. O Brasil, hoje, paga indenizações a sobreviventes e a parentes de desaparecidos e mortos. O senhor acha que o Governo deveria esclarecer os crimes e identificar os autores ou acredita que é revirar o passado e deve-se impedir revides?
DOM FRAGOSO - Sei que se trata de uma área de sensibilidade e turbulência. Lembro-me de que o Prêmio Nobel da Paz, o argentino Adolfo Perez Esquivel, veio ao Brasil e disse que, para todas as nações do mundo, também para o Brasil, é necessário identificar com seriedade os crimes de tortura e repressão e puní-los com firmeza e segundo as exigências da Justiça. Foi detido, interrogado e teve de voltar ao seu país, uma vez que a anistia era ampla, inclusive aos repressores. Mas, eu penso que Perez Esquivel tinha razão. Julgo necessário que o Governo esclareça os crimes, aponte e puna os autores. Crimes contra a dignidade humana não podem prescrever.
JC - O Brasil vive, hoje, um governo de esquerda, num quadro de carência social imensa. Há semelhanças entre as épocas e os Governos Jango e Lula?
DOM FRAGOSO - Penso que não há semelhança entre o projeto político de Jango e o de Lula. E Jango tinha projeto político? Ele me deixava a impressão de ser um "aventureiro" sem utopias mobilizadoras. Lula é um nordestino que experimentou na carne a dor do povo sofrido, lutou nas áreas mais duras do combate sindical, guardou uma fidelidade às aspirações populares e buscou com humilde tenacidade e ousadia a chegada ao Governo. Ele tem uma proposta popular inédita na história política do Brasil. O projeto de Lula não foi improvisado por "intelectuais", em gabinetes, mas emergiu de longas escutas e debates em todos os segmentos do povo brasileiro, sobretudo os trabalhadores.
JC - O senhor define o papel das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como "o esforço mais importante da Igreja popular, no Brasil, para tentar fazer com que desse certo o método Paulo Freire de alfabetização". Qual a função das CEB's no enfrentamento à ditadura de 64?
DOM FRAGOSO - As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nascidas na América Latina após o Concílio Vaticano II e a Conferência do Episcopado da América Latina, em Medellin , Colômbia (1968), tentam pôr em prática, com a limitação que todas as práticas humanas têm, o Modelo de Igreja Popular ou Igreja dos Pobres. O método Paulo Freire, a sua filosofia e o seu método específico de pedagogia, teve forte influência na caminhada das CEBs, principalmente no Brasil. As CEBs não tinham como missão "enfrentar" a ditadura militar. A proposta eclesial das CEBs era, em si mesma, incompatível com a doutrina de Segurança Nacional que inspirou a chamada ditadura. Na prática das CEBs, o conflito era inevitável.

Fonte: Jornal do Commercio.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

ELEIÇÕES DA UEMA 2010: MAIS UM CAPÍTULO LAMENTÁVEL E ULTRAJANTE

Camaradas, o que eu denominei no início do processo eleitoral na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), como sendo um “drama judicial”, um mês e meio depois, retomo o apelido de “golpe civil” que assinalei à maracutaia perpetrada por José Augusto Silva Oliveira, o reitor caudilho; golpe que se utilizou de casuísmos e chicanas típicas de causídicos de grosso calibre.
Promulgada há mais de 20(vinte) anos, a Constituição Federal de 1988 ainda não chegou a UEMA. Apos várias irregularidades praticadas pela direção da UEMA no processo eleitoral 2010 (terceira eleição para reitor, votos de eleitores não habilitados, uso da instituição em benefício de candidaturas, etc.), o atual reitor reuniu secretamente o Conselho Universitário na última sexta-feira, homologou a lista tríplice de candidatos e a enviou para a Governadora.
O procedimento de aprovar a lista tríplice decorre de normas da instituição, porém como da lista existe candidaturas impugnadas e questionadas juridicamente (do atual reitor e do atual vice-reitor), o Conselho Universitário, foi convocado às escondidas para reunião na Faculdade de Arquitetura no Centro da cidade.
Os componentes do Conselho Universitário não simpáticos ao terceiro mandato do Professor José Augusto (atual reitor) não foram convocados para a reunião (ex. Representante do SINTUEMA, Professor Gusmão, representantes dos estudantes), além do mais a reunião não ocorreu no Campus e a notícia de sua convocação foi publicada no site da UEMA após uma hora do seu início.
Ressalta-se que a reunião do Conselho não contou com a presença dos membros lotados no interior do Estado, bem como ocorreu na data das eleições para Diretor de Centro, Diretor de Curso e Chefe de Departamento, impedindo a participação de vários dos seus componentes.
Esse episódio é mais uma demonstração de que o reitor e seu vice usam a UEMA como se fosse um patrimônio particular, desrespeitando a comunidade universitária e a sociedade maranhense.
Na lição e na experiência do advogado Pedro Duailibe, os atos administrativos devem ser públicos possibilitando aos cidadãos a vigilância quanto a legalidade e a aferição quanto ao interesse público, evitando que a administração seja utilizada em benefícios particulares, esses são princípios constitucionais de observação obrigatória previstos no art.37 da nossa Carta Magna, portanto a sociedade maranhense não deve permitir mais um desrespeito vergonhoso as normas básicas da nossa democracia.
Camaradas, qualquer reação à postura vergonhosa da direção da UEMA é importante na construção de um Maranhão sem mandos e mais justo, onde o que vale são as regras postas em detrimento de qualquer interesse pessoal vil.
A luta sem tréguas deve continuar em nome da democracia interna da UEMA e dos milhares de maranhense que trabalham e estudam na Universidade Estadual do Maranhão, um patrimônio acadêmico-científico que é do povo!
A luta continua! Venha compartilhar conosco!

LUTA DE CLASSES NO BRASIL: para não esquecer que somos proletários e protagonistas da história

Para Marx "a luta de classes é o motor da história". Esta concepção revolucionária de interpretar a dinâmica do capital nos impõe subverter os modos analíticos vigentes nas Ciências Sociais, os quais têm deixado de lado o uso de categorias fundamentais para a compreensão das sociedades capitalistas tais como: infra-estrutura, superestrutura, aparelhos ideológicos do Estado, força de trabalho, forças produtivas, relações de produção.
O trabalho e a produção material são as bases estruturantes da história da humanidade. Os homens produzem os seus meios de existência, fabricando utensílios, trabalhando a terra, desenvolvendo técnicas e tecnologia e transmitindo-as de geração em geração. Esses utensílios circunscrevem os indivíduos em relações de produção que são a base objetiva da sua existência numa sociedade capitalista, historicamente determinada, definindo, desta forma, a divisão social do trabalho.
Dado o grau de complexidade atingido pelas forças produtivas ao longo da história, chegou-se à divisão técnica do trabalho, surgindo, por conseguinte, as bases das relações de trocas mercantis: cada um coloca no mercado aquilo que produz além do seu próprio consumo; cabe ao mercado regular a troca e a repartição das riquezas.
Numa dada sociedade capitalista, há uma separação do trabalho intelectual em relação ao trabalho manual, em vistas do aumento do nível de especialização da produção. A etapa fundamental nos termos da divisão social do trabalho é aquela em que uma parte da sociedade se apropria dos meios de produção, permitindo, desta maneira, a exploração da maioria dos indivíduos que o processo histórico separou dos meios de produção.
Vislumbra-se, então, a estruturação da sociedade de classes onde os capitalistas proprietários dos meios de produção passam a explorar os proletários que não têm outra possibilidade senão vender “sua própria pele” no dizer de Marx, ou seja, o proletariado. Este é o trabalhador “livre” da sociedade capitalista.
A exploração de classe gera necessariamente a luta de classes, principalmente sob a forma atual do capitalismo, nos marcos da hegemonia ideológica do neoliberalismo, na busca do lucro máximo, definindo, para os explorados que estes não têm outra saída senão a de lutar para avançar ou resistir bravamente para manter os direitos sociais em vigência.
Em contraposição às análises de Marx, perguntar-se-ia: mas as classes não desapareceram na nossa época? Sabemos que a consciência social recuou dramaticamente no seio das classes trabalhadoras de inúmeros países, inclusive o Brasil onde o processo de cooptação do proletariado é hegemônico e descaracteriza a natureza de classe, impondo o jugo do patrão. Esse difícil processo não está desligado das renúncias dos partidos e dos sindicatos de classe no campo teórico e ideológico.
A repartição dos indivíduos em classes sociais é um dado objetivo que resulta do fato de os capitalistas comprarem a força de trabalho e os proletários venderem-na. A consciência e a identidade de classe são um fenômeno político e ideológico que depende das relações de força na luta de classes. O recuo da consciência política da classe proletária não prova, pois, de modo nenhum, a inexistência de classes.
Determinados interesses de específicas classes e de suas respectivas frações de classe, tem a ver com as circunstâncias que fazem com que elas adquiram maior ou menor capacidade organizativa, que as levem ou não, a se transformarem em força social independente e autônoma, podendo produzir como resultado visível a construção dialética de uma nova direção política através de partidos políticos vinculados à uma ideologia de classes ou expressão da ascensão dos movimentos sociais.
Meus caros, ao que me parece, esse é o grande desafio histórico do proletariado brasileiro nesta virada da segunda década do terceiro milênio. Para avançarmos nessa quadra é preciso cerzir uma nova unidade na esquerda socialista e revolucionária. Sob essa unidade real e histórica, poderemos tornar a luta de classes no Brasil um momento de avanço e de conquistas da classe trabalhadora.
A luta te convida!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

NAS FRONTEIRAS ENTRE O CINEMA E A HISTÓRIA

Por Rafael Evangelista e Andréia Barbieri

As fontes de que os historiadores se utilizam para produzirem seus conhecimentos sobre o passado vão muito além dos documentos escritos, preservados nos arquivos históricos. Do mesmo modo, os meios de que os historiadores se utilizam para transmitirem suas idéias sobre o desenvolvimento da história gradativamente deixam de ser apenas os livros e os artigos acadêmicos.
Desde a verdadeira revolução causada pelos historiadores participantes da francesa Escola dos Annales, a ciência histórica tem incorporado como seus objetos (e sujeitos) não apenas os grandes fatos e personagens políticos, mas também as idéias, os costumes e as mentalidades de cada período. A "História Nova", como ficou conhecida, foi um movimento surgido inicialmente entre os membros da revista Annales d'histoire economique sociale – fundada em 1929 por Lucien Febvre e Marc Bloch e que, a partir de 1946 passa a se chamar Annales, Economies, Societés, Civilizations – em direção de novas abordagens para a compreensão da história, fazendo uso de muitos dos métodos e conceitos de outras ciências humanas, como a sociologia, a economia, a psicanálise e, principalmente, a antropologia.
É nesse contexto, de assimilação de novos objetos e de novos métodos que surge o trabalho do francês Marc Ferro. Em 1971, no artigo "O filme: uma contra-análise da sociedade?" – publicado no livro História: novos objetos, de Jacques Le Goff e Pierre Nora – Ferro, um influente participante da revista dos Annales, estabelece contatos iniciais para a apropriação do cinema como um documento histórico.
"Resta estudar o filme, associá-lo ao mundo que o produz. A hipótese? Que o filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é História; o postulado? Que aquilo que não se realizou, as crenças, as intenções, o imaginário do homem, é tanto a história quanto a História." Marc Ferro, no artigo "O filme: uma contra-análise da sociedade?"
Ferro foi um pioneiro na incorporação do cinema como fonte para o entendimento das ideologias e mentalidades dos sujeitos da História. Através dos filmes, passou a buscar evidências que pudessem ajudá-lo a perceber e compreender determinados eventos e períodos históricos. Conforme afirmou em uma conferência, quando da sua recente presença no Brasil, "estudar só o cinema é um absurdo, como também é um absurdo estudar o mundo sem o cinema".
Segundo Ferro, o filme seria uma importante fonte para revelar tanto aquilo que o autor busca expressar – que está contido na narrativa, as idéias sobre determinados personagens, fatos, práticas ou ideologias – como para se perceber o que não se queria mostrar, como os modos de narrar uma história, a maneira utilizada para marcar as passagens do tempo, os planos de câmera. A partir destes seria possível penetrar, de acordo com Ferro, em "zonas ideológicas não-visíveis" da sociedade.
Outra área de atuação postulada por Ferro para os historiadores situa-se na produção de filmes históricos. Para Ferro, os historiadores devem procurar também fazer uso do cinema como meio de comunicação de suas concepções sobre a História. O trabalho dos historiadores seria importante para acrescentar algo que, segundo ele, o jornalismo geralmente não faz, que é explicar a origem dos fenômenos e poderia acontecer tanto em colaboração com jornalistas e cineastas como em documentários históricos.
Além de ter publicado uma vasta bibliografia historiográfica, Marc Ferro foi autor de alguns filmes que tematizaram alguns de seus objetos de pesquisa como a Revolução Russa e a história da medicina (La Grande Guerre, 1964; Lénine par Lénine, 1970; Une histoire de la médecine, 1980). Hoje, além de dar aulas e viajar pelo mundo todo dando conferências em diversas universidades, produz(ia) e apresenta(va) semanalmente o programa História paralela na televisão francesa (TV5), em que discute História e atualidades fazendo uso de imagens.
Iniciativas como a de Marc Ferro foram responsáveis pela formação de diversos grupos de pesquisa sobre o tema, inclusive no Brasil...

Fonte: http://www.comciencia.br/

domingo, 12 de dezembro de 2010

ESTADO BUROCRÁTICO WEBERIANO: a ordem do capital em primeiro lugar

UMA NOVA QUESTÃO
A administração burocrática é efetiva e é segura. É segura porque diminui a corrupção e o nepotismo. E é efetiva porque garante que os resultados desejáveis sejam alcançados. Agora, o problema que se verificou logo é que esse tipo de administração, ao mesmo tempo que significou um grande progresso teve um problema sério. Era ineficiente. O que quer dizer ineficiente? Essa palavra tem vários sentidos. (...) Sabemos que a burocracia tem dois sentidos. Tem o sentido weberiano, científico, sociológico e administrativo, e tem o sentido popular. O senso comum é de que a burocracia é coisa lenta, ineficiente. E não é por acaso que a burocracia teria esse sentido popular” (Bresser Pereira, Anais do Ciclo de Estudos da Reforma Constitucional, UERJ, 1995).

No trecho acima, o Ex-Ministro Bresser Pereira faz menção à noção weberiana de burocracia. Identifique esta noção, com base no texto de Weber (A Política como Vocação), e comente as observações do Ex-Ministro quanto à segurança/efetivamente e ineficiência da burocracia, utilizando um autor vinculado à Teoria Econômica da Política.

UMA NOVA RESPOSTA
As formulações de Max Weber sobre a burocracia estatal são baseadas na perspectiva de que a atitude daqueles que exercem a função de burocratas, é completamente diferente daquela mantida em seu próprio ambiente doméstico ou privado.
Na visão weberiana, um caráter particular que é bastante reconhecido e esperado pelos detentores do capital é o fato de que quanto mais a burocracia se torna fria, impessoal, técnica, tanto mais esta burocracia será exitosa. Êxito este obtido através da postura racional dos burocratas, livres dos seus sentimentos e da sua subjetividade que lhe dá humanidade e que, por conseguinte, não podem na implementação dos negócios e das estratégias oficiais.
Esta, por assim dizer, assepsia, feita no corpo burocrático, é bastante valorizada por Weber e resultado de uma idealização da própria burocracia. Afinal, o burocrata, onde quer que atue, tanto na esfera pública quanto na esfera privada objetiva potencializar o seu trabalho. A atitude do burocrata em criar, respeitar e implementar as normas e regulamentos existentes se vincula àquele objetivo de valorização do seu próprio trabalho, no seio desse sistema normativo, quer público ou privado.
Desta forma, Weber vê a sociedade burocrática como a essência da sociedade capitalista e moderna. Compreendendo o processo de burocratização com detentor de um sentido histórico específico, a concepção weberiana conclui que as organizações burocráticas são os pilares da sociedade legal e racional, portanto, parte integrante da natureza desta. Assim, a burocracia se insere nos marcos da modernização.
No entanto, apesar de ter em conta que a burocracia era a mais eficiente forma de organização humana, Weber receava esta eficiência, uma vez que, para ele, os resultados oriundos dessa tendência histórica à burocratização no capitalismo moderno, poderiam se transformar numa ameaça ao liberalismo e à democracia.
Além desta hipotética ameaça da burocracia sobre a sociedade moderna, é preciso ressaltar que a visão que a população tem sobre a burocracia, nos termos de Bresser Pereira, nos leva a concluir que a sua eficiência administrativa não se coaduna com as expectativas oriundas da sociedade, numa demonstração de que o tipo-ideal de burocracia passa, necessariamente, por várias mudanças uma vez que o sistema burocrático, como se sabe, é criação e realização humana.
Neste sentido, buscando uma aproximação entre essa visão do senso comum sobre a eficiência e segurança da burocracia na sociedade moderna, destacamos as contribuições teóricas de Mancur Olson e seus estudos sobre a relação entre as instituições e o desempenho econômico, destacando-se os aspectos relacionados com o aparecimento, no interior das sociedades capitalistas, de vários grupos de interesse, os quais, dão significado à sua prática política nos termos do que o autor chama de ação coletiva.
Como sabemos, no conceito popular, a burocracia é vista como uma empresa ou organização onde a papelada se multiplica e se avoluma, dificultando e, até mesmo, impedindo as soluções aguardadas pela sociedade. O termo ainda é utilizado, no senso comum com o sentido de apego dos funcionários aos regulamentos, causando ineficiência à organização. A população passou a denominar como burocracia os defeitos e não o sistema em si mesmo.
Em razão desta percepção da realidade social, em termos do tipo de sistema burocrático existente, percebemos em Olson a possibilidade de análise desta realidade, segundo as condições nas quais as pessoas não conseguem obter os resultados que pretendem, ou então de que maneira a racionalidade de cada um não se torna uma condição suficiente no sentido de que a racionalidade coletiva possa ser assegurada, ou seja, para que os interesses coletivos, aqui entendidos a melhoria do sistema de administração burocrática ou a sua superação, sejam efetivamente assegurados a partir da ação coletiva.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O APARTHEID E O CINEMA: arte-denúncia de um drama épico que só a história pode resolver

Retomando uma de nossas assertivas, peço sua atenção. Desta feita, irei destacar um filme de fôlego e porquanto apropriado para uma sessão de cinema cuja temática é a história do odiento regime do Apartheid, que foi imposto pelos colonizadores bôeres desde o século XVII vigorou por mais três séculos, a saber: XVIII, XIX e XX. A partir de uma visão crítica, podemos demarcar o fim do Apartheid, mesmo que formalmente, quando o grande mártir da luta contra o regime, Nelson Mandela, foi eleito presidente da África do Sul em 1994.
Pois bem. O filme “Bopha! À flor da pele”, lançado em 2003, foi dirigido por Morgan Freeman e se relaciona com os estertores do Apartheid e a radicalização do movimento contra a permanência do regime no contexto da década de 1980.
O Enredo de Bopha! é estruturado na vida do sargento negro Micah Mangena e de seus dilemas éticos e sociais com o regime e com a sua própria família e, principalmente, com o seu filho, um dos jovens líderes da luta antiapartheid na África do Sul e um ferrenho crítico da postura de seu pai.
No contexto do filme, a polícia cria uma espécie de batalhão negro onde se sobressai o sargento Micah. O discurso de Micah é o discurso da ordem estabelecida e o cumprimento das funções de prisão e repressão que executa, sem apresentar nenhuma visão crítica. Entre seus colegas, vários policiais brancos e racistas mantendo a forte repressão e assassinatos de militantes negros quando da realização de suas manifestações pacíficas.
Bopha!. Palavra Zulu que significa “prender” ou “deter”. Para o Apartheid, nesse momento histórico, supostamente, Bopha! pode criar a ilusão aos brancos racistas de que o regime se fortalece cada vez mais. No entanto, para aqueles que fazem a luta antiapartheid, Bopha! é um potente grito que sai da boca e do coração de milhares e milhões de africanos do sul, confiantes que seriam vitoriosos!
Como é de domínio público, essa luta antiapartheid, de fato, saiu-se vitoriosa e, é claro, as massas da África do Sul ainda não chegaram ao paraíso prometido. Apesar do fim do regime e do fato de que Mandela e Mbeki personificaram o Estado sul-africano na última década, a vida das massas negras é um desafio gigantesco a ser vencido pelos líderes no rumo da construção do socialismo nesse país.
Para concluir, remeto-os a outras abordagens fílmicas de primeira grandeza acerca do Apartheid: “Frente a frente com o inimigo”, 2009; Invictus, 2009; “Em minha terra”, 2004; “Conspiração Violenta”, 1975; “Um grito de liberdade”, 1987; “Mandela – A luta pela liberdade”, 2007 e etc.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

REITOR CAUDILHO DA UEMA USA A INSTITUIÇÃO PARA DEFENDER SEUS INTERESSES PESSOAIS

O reitor caudilho da UEMA, na busca desesperada de obter ilegalmente um terceiro mandato, usa indevidamente a instituição para fazer valer seus interesses ilegais, antidemocráticos e casuísticos.
As candidaturas do professor José Augusto (reitor caudilho) e do professor Gustavo Pereira da Costa (vice-reitor) foram suspensas pela Juíza Luzia da 1ª Vara da Fazenda Pública de São Luís-MA com fundamento no que determina a lei (permitir apenas uma reeleição). O reitor caudilho e seu vice recorreram ao Tribunal de Justiça e não obtiveram êxito em agravo de instrumento da relatoria da Desembargadora Maria da Graça Duarte.
Sem mais possibilidade de recorrer, o reitor caudilho utilizou a UEMA e ingressou em nome da instituição com pedido de suspensão de segurança da decisão da Drª Luzia Madeiro Neponucena, Juíza Titular da 1ª Vara da Fazenda Pública para fazer com que fosse garantida a sua candidatura.
O absurdo é que o procedimento chamado Suspensão de Segurança só pode ser usado por pessoa jurídica de direito público para “evitar grave lesão à ordem, à segurança e a economia pública” assim estabelece a Lei nº12.016/2009.
Pois bem, a juíza da 1ª Vara da Fazenda determinou “...a imediata suspensão da chapa impugnada composta pelo Sr. José Augusto Silva Oliveira e Gustavo Pereira da Costa...”.
Em síntese, a juíza decidiu sobre os interesses individuais de dois candidatos, cabendo eles legitima e individualmente tentarem modificar a decisão da magistrada utilizando os recursos cabíveis, como fizeram e não obtiveram êxito.
Sem êxito nos recursos, o reitor caudilho utilizou a instituição e ajuizou a suspensão de segurança alegando que sua exclusão ocasionaria “grave lesão à ordem, à segurança e a economia pública”. Sinceramente, isso é desespero! É desespero! Afinal, o reitor caudilho acha que vai enganar quem com essa patacoada de que a correta aplicação da lei pela juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública e pela Desembargadora Maria das Graças vai causar grave lesão à ordem?
Na realidade, quem está causando uma grave lesão à democracia interna da UEMA e de seus integrantes da comunidade universitária é exatamente o reitor José Augusto, uma cria nova do caudilhismo acadêmico em que se transformou a Universidade Estadual, cada vez mais privatizada enquanto os alunos, professores e servidores técnico-administrativos sofrem as conseqüências do descalabro e da incompetência do reitor caudilho e sua trupe.
No presente caso o reitor caudilho usa a instituição para defender interesses pessoais, a saber, sua candidatura. O procedimento equivale a um candidato a governador ou prefeito ser excluído do pleito pela Justiça, e o Estado ou o Município ingressar com recurso para manter o candidato excluído, o que seria a lógica do absurdo.
Destaca-se também que o próprio reitor caudilho assinou procuração para o procurador da UEMA Benedito Bayma Piorski ajuizar a ação em nome da UEMA, o que demonstra a promiscuidade ente o interesse público e o interesse pessoal de um candidato que se acha dono da UEMA.
É preciso informar a todos que a última manobra travestida de decisão judicial não terá o condão de consagrar o apetite e a sanha do reitor caudilho em obter um terceiro mandato, a qualquer preço. Afinal de contas, estamos no Estado de Direito republicano ou o Brasil é mesmo uma república de bananas?
Camaradas, o tempo urge e é preciso uma ampla unidade da comunidade universitária da UEMA no sentido de barrar essa despudorada chicana judicial bancada pelo reitor caudilho. É preciso também cobrar do Poder Judiciário que tome o rumo que deve ser tomado, ou seja, o interesse público consubstanciado na Carta Magna (art. 37) e a impessoalidade como princípio democrático e constitucional para que a Justiça possa prevalecer!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

EM 2010 A UEMA EM IMPERATRIZ VOTA EM EXPEDITO BARROSO PARA DIRETOR DO CESI

A consigna dos que lutam pela universidade pública, transparente, democrática e de qualidade.
Para o CESI/UEMA não regredir, Expedito Barroso Diretor de Centro novamente!

Quando entrei no Centro de Estudos Superiores de Imperatriz da Universidade Estadual do Maranhão no ano de 2004, percebi o descaso e a forma intolerante e agressiva como os alunos eram tratados em todas as instancias. Desde a reitoria até as chefias de departamento, o autoritarismo era a marca registrada na UEMA. Criticar, reclamar e protestar eram coisas de outro mundo.
Os que faziam parte do Movimento Estudantil eram taxados de baderneiros, gays ou maconheiros. Essas injurias não me preocupava muito, o que me preocupava era forma tacanha e preconceituosa como nós éramos tratados. Se por um lado nós reclamávamos melhores condições de ensino, pesquisa e extensão, por outro prevalecia o silêncio.
Este silêncio era desejado pelos que ocupavam os cargos de chefias nessa universidade. Zelar pelo silêncio e comodismo na UEMA era o dever dos membros dessa rede corruptível. O pior de tudo é que essa rede era grande.
Do reitor que se elegeu a deputado, do chefe de departamento que se perpetuava sem eleição, do processo seletivo de cartas marcadas, dos cursos privados na universidade pública, dos TIDES que trabalhavam nas particulares, dos professores que não apareciam, dos alunos que se vendiam. Uma infinidade de elementos que se entrelaçavam e faziam da UEMA um espaço de tramóias e não de uma verdadeira universidade pública.
Lembro de como bolsa de iniciação cientifica era algo raro e quem tinha, no máximo 5 a 8 alunos, podia se considerar um abençoado.
Lutar contra os descalabros da UEMA não era fácil, eu mesmo recebi uns três processos juntamente com outros companheiros que não aceitavam esses desvios de finalidade. Mas fomos pra linha de frente, por acreditar que poderíamos mudar essa realidade.
Essa realidade começa a se desconfigurar com a eleição para reitor no ano de 2006. No I Encontro de Movimento Estudantil em Imperatriz lançamos o professor Juca candidato de uma classe a reitor da UEMA tendo como vice a professora Célia Pires. O DCE de Imperatriz levanta essa bandeira. No começo parecia loucura. Recurso financeiro era nosso maior problema. Mas o desejo de mudança e a militância era nossa principal força.
Ouvi por diversas vezes, gestos e falas preconceituosa. Contudo, conseguimos ficar em segundo lugar. Assustamos a corrente corrupta e atrasada da UEMA. Uma das grandes vitórias do grupo que defendia a eleição de Juca conseguiu fazer com que o PQD, na época, pago, se tornasse gratuito. Retomamos o debate da Autonomia dos Centros.
As bandeiras que embalaram a campanha de Juca foram fundamentais para a vitória dos professores Gusmão no CCA e de Expedito no CESI. Ambos sempre estiveram afinados com a proposta de uma UEMA livre e sem dependência política, entendendo que o papel da universidade é produzir ciência.
Acompanhei de perto os 4 anos de gestão do professor Expedito. O diálogo é sua principal característica. Seu academicismo e companheirismo podem ser percebidos no dia-a-dia de quem convive ou tem um contato rápido com ele.
Agora, em 2010, respaldado na honestidade, na autonomia e coerência política, o professor Expedito Barroso é novamente candidato a direção do CESI/UEMA. Infelizmente não posso mais votar, mas, peço a tod@s, professores, servidores administrativos e alunos que não regridam, que não desfaçam esse projeto em construção conquistado com tanto esforço e dedicação pelos que já passaram pelo CESI/UEMA.
Finalizo, reforçando não apenas um pedido de voto ao professor Expedito, mas que fiquem alerta a qualquer manobra traiçoeira por parte dos que querem o atraso da universidade entregado-a a iniciativa privada e reconectando a rede corruptível que ainda existe na UEMA.
Solidariamente,

Jhonny Santos
Mestrando em Desenvolvimento Sócioespacial e Regional/UEMA

HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO: Aliança Democrática, Sarney, Cafeteira e o PMDB

À guisa de um Prefácio.

Localizei as informações contidas no email abaixo que registram um diálogo democrático entre a deputada estadual Helena Heluy e o falecido e reconhecido jornalista político Walter Rodrigues a respeito da memória política no Maranhão que se referem às posições políticas do PMDB no contexto do crepúsculo da ditadura militar e o alvorecer da redemocratização com a criação da famosa Aliança Democrática e todos os fatos históricos, no plano nacional, vinculados à eleição e morte de Tancredo Neves, a subida de José Sarney ao cargo de presidente da república e, os desdobramentos regionais com a eleição de Cafeteira ao governo tendo o famoso Carcará (João Alberto) como seu vice.
Para mim, o texto-diálogo acima aludido se articula com o texto que lancei neste blog com o título “NUNES FREIRE ENFRENTA O SARNEÍSMO: tensões políticas e rivalidades no âmago das facções da Oligarquia”. A minha intenção fora narrar alguns fatos políticos que estão circunscritos no contexto informado pela deputada e pelo jornalista.
A idéia que tenho é no sentido de fazer um esforço acadêmico de buscar as fontes que poderão nos ajudar a fazer um grande painel histórico dos conflitos intra-oligárquicos no Maranhão e os seus desdobramentos em termos da natureza da governança no estado que se notabilizou e continua se notabilizando pela corrupção, patrimonialismo, clientelismo, empreguismo, etc. como forma de dominação política das diversas facções da Oligarquia.
O debate continua!

INÍCIO DO TEXTO-DIÁLOGO
Quinta-feira, 2 de outubro de 2008
História: o PMDB-MA de 1985
Um emeio da deputada Helena Heluy encaminhado ao blogue no último dia 22 escondeu-se entre outras mensagens e somente agora foi localizado. Ei-lo, antes tarde do que nunca:

“Caro Walter,
A propósito de algumas considerações emitidas em seu blog, permito-me mais uns breves esclarecimentos, a bem da história:
Em 1986, a coligação em torno da candidatura de Cafeteira ao governo do Estado foi apenas entre PMDB, PFL e PTB. O professor Wagner Cabral registra muito bem aquele instante político-eleitoral maranhense, à fl. 16 de seu trabalho intitulado Do ‘Maranhão Novo’ ao ‘Novo Tempo’: a trajetória da oligarquia Sarney no Maranhão, cuja fonte indicada é o TRE-MA. Por isso, não tive dúvidas e nem obstáculos para votar em Delta Martins, embora eu fosse candidata pelo PDT a deputada federal.
Como você bem lembrou no dia 18 último, ingressei, em 1985, no PMDB, “na época o maior partido de oposição ao sarneísmo” (citação sua), no que concordo, também. O PMDB tinha uma aguerrida bancada de deputados estaduais (ressalto, nela, Haroldo Sabóia, Gervásio Santos e Conceição Mota. Lamento se incorrer em algum lapso, no destaque). Havia, efetivamente, um descompasso entre o PMDB daqui e o nacional, naquele pleito, tanto que nem Ulysses Guimarães e nem Renato Archer vieram aqui, por ocasião da campanha, embora esperássemos por isso até o final.
A Convenção do PMDB municipal de são Luís, em 1985, realmente, foi memorável com a vitória do grupo de Haroldo: “PMDB – oposição pra valer.”
O convite que me foi formulado para compor a chapa majoritária, naquela eleição, aconteceu muito antes da Convenção.
A ida de Haroldo Sabóia até o presidente Sarney, numa visita rápida e protocolar, foi já no curso da campanha, no mês de agosto. Já estávamos em plena campanha. Não o acompanhei.
Essa minha ausência à mencionada visita faz parte das minhas saudáveis rebeldias, apesar do esforço e desejo do deputado Cid Carvalho (que eu os acompanhasse) e, também, do comandante Renato Archer – em quem votei, em 1965, para governador, integrando a Grande Marcha, em oposição à candidatura de José Sarney.
Por enquanto, é só. Sem ter a pretensão de polemizar, continuo à disposição para os esclarecimentos que se fizerem necessários sobre os fatos dos quais participei ou, simplesmente, vi.
Cordialmente, Helena.

WALTER RODRIGUES — Agradeço pelos oportunos esclarecimentos, aos quais acrescento minhas próprias memórias e ressalvas:
De fato a coligação pró-Cafeteira em 86 reuniu apenas os partidos citados, mas também é fato que, não tendo lançado candidato formal ao Governo, o PDT em geral fazia a campanha de Cafeteira. Tanto assim que o líder Jackson Lago, que viria a ser secretário de Saúde de Cafeteira, chegou a dividir palanque com Sarney Filho, cujo PFL estava coligado ao PMDB de Cafeteira.
Helena, por exceção, e sem transgredir a fidelidade partidária, votou em Delta Martins, candidata a governador pelo PT, bem como em Neiva Moreira (PDT) para senador. Sendo de registrar que Neiva também dobrava com Cafeteira, além de favorecer nos bastidores a coexistência pacífica entre Jackson e Sarney.
Um ano antes, em 1985, houvera de fato um certo “descompasso” entre o PMDB nacional e o do Maranhão. Mas o que quis assinalar anteriormente — e ninguém haverá de desmentir — é que Haroldo e Cid Carvalho negociaram uma coligação com o PFL na eleição municipal de 1985. A conversa empacou quando Haroldo propôs que Sarney Filho “inventasse uma viagem” e ficasse fora da campanha, para não constranger os eleitores que talvez não apreciassem vê-los juntos.
Cid Carvalho e Sérgio Braga, seu amigo íntimo e correligionário, contaram-me em detalhes esses fatos e também a visita que Cid e Haroldo fizeram a Sarney no Palácio do Planalto. Se não foi antes e sim no meio da campanha — como agora Helena, vice na chapa de Haroldo, me faz lembrar — isso prova que os entendimentos de algum modo prosseguiam.
A visita pode ter sido “rápida”, porém não dá para classificá-la de “protocolar”. Que protocolo exige que um candidato interrompa a campanha para apresentar-se ao presidente da República, ainda mais suposto adversário?
O significado político daquela audiência nada protocolar é absolutamente indiscutível, e acentuado pelo fato de que Helena, a quem nenhum protocolo impedia de comparecer, preferiu atender aos impulsos de uma saudável rebeldia...
A frase de Cid, já citada por mim anteriormente, é mais do que transparente: “Presidente, aqui está o PMDB que lhe convém, um PMDB erecto...”
Quanto à referência ao PMDB maranhense de 1985 como “o maior partido de oposição ao sarneísmo”, a frase é da própria Helena, em discurso feito no recente setembro na Assembléia. Citei-a criticamente em matéria deste blogue em 20/9, exatamente para recuperar as ambiguidades e contradições da época, nem sempre decorrentes de oportunismo ou qualquer interesse censurável dos políticos peemedebistas, mas sim da complicada conjuntura —redemocratização do país sob a liderança de ex-presidente do partido da ditadura.
Mais de 20 anos depois, cada qual analise e julgue como quiser, desde que preserve os fatos básicos:
— Sarney, presidente da República, pertencia ao PMDB.
— Os principais líderes do PMDB-MA, Cafeteira, Renato Archer e Cid Carvalho, aqueles que davam o tom do partido, solaridarizavam-se com o governo federal civil, instaurado após 20 anos de ditadura militar.
— A seção municipal de São Luís preservava muito do anti-sarneísmo tradicional. Mas Cid e Haroldo, em 1985, negociaram secretamente a reprodução municipal da “Aliança Democrática” PMDB-PFL que elegera Tancredo e Sarney no colégio eleitoral. Não deu certo, mas eles continuaram buscando um entendimento mesmo depois de iniciada a campanha.
— O inimigo comum na eleição de São Luís, convém recordar, era Gardênia, mulher de João Castelo, candidata do PDS de Paulo Maluf.
Se Haroldo ultrapassasse Jaime Santana (PFL), candidato de Sarney, está claro que teria o apoio aberto ou dissimulado dos sarneístas contra Gardênia. Pode-se dizer o mesmo e ainda com mais razão de Jackson (PDT), que disputava a eleição com apoio de Cafeteira. Acontece que Jaime ficou em 2o lugar até o fim, com Gardênia em primeiro, Jackson em terceiro e Haroldo em quarto.
É louvável que a deputada Helena Heluy, ao contrário da maioria de nossos políticos, cultive o hábito de reconstituir e polemizar a história dos últimos 30 anos, ou mais. No que me concerne, a conversa nunca tem fim.
FIM DO TEXTO-DIÁLOGO

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

HOBBES DIFERENTE DE ROUSSEAU: Estado-leviatã e o Contrato social como paradigma da sociedade liberal

UMA PERGUNTA
A teoria contratualista foi fundamental para produzir certos supostos que explicam a ordem política do capitalismo (O Estado-nação, sua legitimidade e suas instituições). No entanto, o contrato social pensado por Thomas Hobbes se diferencia bastante do contrato formulado por Jean-Jacques Rousseau. Mostre a principal diferença entre eles.

UMA RESPOSTA
O filósofo Thomas Hobbes elaborou uma teoria contratualista fundada no egoísmo, sentimento este que, segundo o filósofo, dominava o homem da sua época. Para Hobbes, a base do direito está no poder do mais forte. Sendo os homens relativamente iguais, "o mais débil dentre eles tem força suficiente para matar ao mais forte".
Para Hobbes, uma vez que os homens reconhecem que a guerra de um contra o outro pode levá-los à destruição, a sociedade política surge em razão da necessidade de pacificação, em que cada um concede ao outro a liberdade, desde que a recíproca seja verdadeira.
Na lição hobbesiana, o homem singular tem direito a tudo, inclusive o corpo do outro. No entanto, tendo em vista a existência da razão e da linguagem, o homem chega a um acordo com seus semelhantes e cria o Estado, com absolutos poderes para instituir o contrato social.
No caso de Jean-Jacques Rousseau, a sua teoria contratualista parte do homem individualista, com um caráter, sem egoísmos. Esta característica notável do homem no estado de natureza foi quebrada pela ambição. A sociedade criada a partir daí, foi defendida por uns para manter seus privilégios e promover a injustiça; por outros, para se fazer cumprir a ordem social consubstanciada nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
O sentimento que faz com que o homem teorizado por Rousseau estabeleça a sociedade, mesmo na modalidade de contrato, é a solidariedade. Isto porque, Rousseau professava o ideário liberal e republicano, interpretando o Estado como fruto de um contrato social livre, da vontade popular. Para Rousseau, a sociedade era espécie de abdicação dos direitos individuais a uma vontade geral soberana.
Rousseau defendia que o Estado não nascia e se desenvolvia apenas pelo motivo calculista estabelecido pelo individualismo de Hobbes. Sob o individualismo, o homem é um ser completo mesmo estando fora da sociedade. Na verdade, a sociedade se estruturou apenas para o homem defender suas garantias individuais, sobretudo interesses ou egoísmos.
Na visão rousseaniana, o homem é transformado quando se insere na sociedade. Na qualidade de cidadão ele assume novos valores, como o da moralidade. Para o contrato social não basta o homem defender seus interesses egoístas, pois o que o une com o outro é o sentimento, algo superior ao egoísmo.
Ao contrário de Hobbes, Rousseau constrói as bases do seu contratualismo com um vigoroso questionamento a respeito das origens da dependência e da submissão, pondo abaixo a suposta legitimidade desse tipo de associação. Para Rousseau, o objetivo primordial de levar-se o povo à virtude e ao conhecimento onde ele e o soberano representem uma só pessoa, é alcançado através do Contrato Social, pacto este que possui como norma fundamental o respeito à vontade geral, ou seja, a vontade da maioria.
Desta forma, Rousseau ao partir da concepção de um coletivo que se transforma em um corpo moral, vê a obrigatoriedade do cidadão em obedecer, se for o caso, apenas a si mesmo. Diferentemente de Hobbes, para Rousseau, o homem é possuidor de sua liberdade, que, se renunciada, pode representar a renúncia à sua própria existência ou torná-lo preso à vontade do soberano. Assim, para Rousseau, o contrato social de Hobbes é falso, é uma tentativa de convencer os mais pobres a se conformar com a desigualdade. Com isto, a condição dos mais ricos estaria protegida, mantendo e aprofundando as diferenças entre as pessoas.
Ao passo que Rousseau teorizava a respeito de um homem naturalmente bom, isto o distinguia do homem pintado como egoísta por Hobbes. Se por um lado, para Hobbes, no estado de natureza, o “homem era lobo do homem”, para Rousseau, por outro lado, o homem era auto-suficiente e não tinha em mente prejudicar seus semelhantes.
Neste sentido, os homens cultivavam a igualdade na repartição dos recursos econômicos, principalmente a propriedade. Como se disse, o estado de natureza - bom, livre e igualitário – foi destruído paulatinamente pela ambição típica dos homens, quando instituíram a propriedade privada e passaram a aprovar direitos contra os demais. Assim, em razão das guerras e lutas decorrentes da invenção da propriedade, foi preciso estabelecer um governo mediante o contrato social.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

MAQUIAVEL VERSUS MAQUIAVELISMO: teoria política moderna, senso comum e moralidade

A construção teórica levada a cabo por Niccolò Machiavelli, genial humanista que cindiu o pensamento político em sua longa caminhada desde os clássicos, demarcou uma nova teoria cujos conteúdos se relacionam com a ética, a história e a política propriamente dita, propondo para os modernos a fixação de uma inovadora moral que não se vincularia aos dogmas, princípios e práticas sociais atreladas ao campo religioso, concluindo que o Estado haveria de ter sua autonomia firmada.
Niccolò embute no seio de sua nova teoria política fundamentos morais singulares que lhes dão uma perspectiva inovadora. Nesse sentido, extraímos de Machiavelli a tensa relação existente entre a política e a moral religiosa vigente, tentando demarcar como a questão ética supera as noções do senso comum e passa a representar um insight seminal na direção de erigir uma nova moral, desta feita com um caráter leigo, destinada à eficiência e perenidade do bem público segundo as noções clássicas.
Mas em que pese os atributos e a genialidade de sua nova teoria, é preciso apontar aqui as distorções e limitações que a teoria do florentino sofreu ao longo do tempo, algo que no sentido da ética, tornou-se um mero adjetivo: maquiavélico, na sinonímia do político perverso, cerebral e, of course, completamente amoral.
Meus caros, alguma tentativa que venha a pensar a “perversidade” de Niccolò provavelmente será inócua e deserta. Ora, se por um lado, Machiavelli assevera a permanência do mal no interior das personificações humanas e cita o egoísmo como aspecto originário dessa nossa condição humana, por outro, propõe uma ação política que garanta ao “príncipe” manipular esse egoísmo das massas de uma forma eficaz para os interesses maiores do Estado. Neste caso, é preciso tomar a ação desde a racionalidade da política, justificando-a na qualidade moral de certo pessimismo de cunho antropológico, separando-a da moralidade hegemônica em seu contexto histórico.
É isso. Apenas isso.
No âmago dessa visão moral religiosa e corrente, o senso comum atribuiria a Niccolò a célebre consigna de que os fins justificam os meios, adaptando-se desta maneira o sentido que possui a real politik com todo o conteúdo que lhe dá significação. Poderíamos exemplificar o caso de uma singela tática eleitoral tornar-se, paradoxalmente, um princípio, uma causa a vencer a qualquer preço. Evidente que se pode tropeçar e sofrer as conseqüências danosas de uma derrota inesperada.
Lógico, é difícil negar liminarmente o uso da real politik. Como Machiavelli nos fez compreender, a política propriamente dita não está adstrita aos princípios morais inflexíveis das formações sócio-históricas tendo em vista que a sua própria racionalidade operativa acaba se impondo sobre as ações do cotidiano da política. No entanto, isto não quer dizer que é o tudo ou o nada. É preciso erigir princípios éticos que possam definir limites no exercício da ação.
Digo isso pensando e analisando a subida do lulo-petismo e de seus satélites ao poder no Brasil e no Maranhão. O que vimos ao longo dessas três décadas, meus caros amigos, digam-me? De minha parte, vi um processo radical de transformismo desbragado, de um “bando” de pragmáticos, centenas de criaturas aberrantes e reacionárias locupletadas pelas benesses do Estado ampliado que hoje, principalmente, se põem a cumprir o possibilismo do mister da reprodução da lógica selvagem do capitalismo nestas plagas tropicais, triplicando os valores das arcas do capital tupiniquim e suas associações alienígenas.
Para concluir, meus caros, devo ainda reiterar que Niccolò Machiavelli foi um grande escritor, estratégico militar e teórico da política. Duas das suas obras foram publicadas em vida, "A Mandrágora", levada ao público em 1524 e "A Arte da Guerra", publicada em 1519-1520. Destaco tmbém a seminal obra "Discursos sobra a primeira década de Tito Lívio", publicados em 1531. outras obras: "A Vita di Castruccio Castracani" (1520), as comédias Clizia, em 1524 e Andria, o conto Belfagor, e, é claro, "O Príncipe", divulgado em 1531.

domingo, 5 de dezembro de 2010

UM FILME BOSSA NOVA: poesia, cheiros e sabores no tempero da vida

Meus caros,
Não resisti. Hoje pela manhã me deparei com esse belo filme “O Tempero da Vida” e a película, meus caríssimos, é simplesmente tocante!
Sem mais delongas, remeto-os à versão espontânea e divertida de Cris de Lamônica que captou a singeleza e a sensibilidade do enredo do filme com os seus condimentos e temperos do amor, da memória e da cultura dos povos orientais e de suas especiarias, tão disputadas pelo ocidente ao longo de séculos.
Na realidade, o filme, lançado em 2003, é uma cinebiografia do roteirista e diretor Tassos Boulmetis em seu segundo filme e estrelada pelo grego Georges Corraface.
Bem, leia essa resenha e deleite-se com a magia e a graça do cinema. Não se esqueça da pipoca e da bebida que lhe convier e encha a sala com toda a família.

RESENHA: “O TEMPERO DA VIDA”

“O tempero da vida. Esse filme é lindo, poético, tem bela fotografia e a história é mais linda ainda. Ele tem um gostinho de casa de avós, gostinho de família.
É uma produção greco-turca que conta a história de um menino, Fanis, que nasceu em Istambul, na Turquia. O avô, Vassilis, um filósofo culinário e mentor de Fanis, ensina-lhe que tanto a comida quanto a vida requerem um pouquinho de sal para lhes adicionar sabor. Ambas precisam de um toque de tempero.
Por causa da guerra (Grécia e Turquia disputavam a Ilha de Chipre), os pais de Fanis são deportados para Atenas, na Grécia. Fanis é obrigado a deixar o avô e o seu primeiro amor.
É um filme muito sensível e ao mesmo tempo engraçadíssimo. O avô faz muitas comparações entre os temperos e a vida. Eu me lembrei muito da minha família, que por um lado é árabe e pelo outro é italiana. Então já viu né, eu cresci dentro de uma cozinha. Todas as reuniões eram na parte mais cheirosa da casa.
As minhas melhores lembranças vêem da hora do café da manhã, do almoço e do jantar. Tudo em torno da mesa. Só pra vocês terem idéia da beleza desse avô. Vou transcrever um trechinho do que ele fala no filme. Vassilis tem uma loja de temperos, antepastos, em Istambul. A mulher entra na loja dele para comprar cominho para temperar as almôndegas que vai fazer para a família do noivo. Então ele diz a ela: “Cominho é um tempero forte. Deixa as pessoas introspectivas. Coloque canela. A canela faz as pessoas olharem uma nos olhos das outras. Se quer dizer sim, então adicione canela”.
Não é lindo? Ele dizia que a canela representa Afrodite, que era a mais bela de todas as mulheres. Por isso é que a canela é doce e amarga, como todas as mulheres. Assista a esse banquete de poesia, cheiros, sabores, cores e, depois, conte aqui no blog quais são os verdadeiros temperos da vida!”

Autora: Cris De Lamônica
Fonte: http://www.blogvivendoeaprendendo.com/2009/07/filmoteca-o-tempero-da-vida.html

NUNES FREIRE ENFRENTA O SARNEÍSMO: tensões políticas e rivalidades no âmago das facções da Oligarquia

A partir da Proclamação da República, a história política maranhense é marcada por períodos quase que ininterruptos de domínio oligárquico, variando algumas características dessas oligarquias ao longo do tempo. Preservando, entretanto, aspectos fundamentais que nos permitem caracterizar uma oligarquia, a saber: o domínio de poucos por um período alongado com enfraquecimento e às vezes quase que o desaparecimento da Oposição.
Dentre esses períodos demarco neste texto em comum com Alessandro Barroso a origem do chamado Sarneísmo, pós-vitória de José Sarney em 1965 e posse em 1966 com as bênçãos do Cinema Novo de Glauber Rocha.
Há que se ressaltar, no entanto, que algumas das abordagens sobre o Sarneísmo têm se voltado para a maneira como Sir Ney e seus aliados organizaram e estruturaram um domínio que se estenderia praticamente por todos os segmentos políticos – administrativos do Maranhão.
Para assinalarmos a extensão de tal domínio e, ao mesmo tempo, ressaltar o nível de conflituosidade intra-oligárquico, voltamos nossas atenções prioritariamente para o outro lado da baliza, a Oposição; estabelecendo como centralidade o período correspondente à ascensão de Sarney no governo (1966) e o ocaso da Ditadura Militar com a eleição indireta de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral (1985).
Temos consciência da complexidade da questão posta, dada a dinâmica econômica, social e política do período, em que dois projetos distintos se enfrentavam na cena nacional e, inclusive, pelo fato de que José Sarney havia chegado ao poder, quando o Brasil vivia os primeiros anos da Ditadura.
O momento político brasileiro, após o golpe que levou os generais ao poder da república, influenciou diretamente a vida política maranhense. O projeto modernizador preconizado pela Ditadura de 1964 pretendia pagar a sua dívida com o Maranhão, considerando que Sarney assumiu claramente perante a nação a sua vinculação com esse projeto golpista. Na visão do saudoso professor Caldeira, por exemplo, “O Sarneísmo é diretamente produto da revolução de 1964 (ou mais especificamente dos governos Castelo Branco e Costa e Silva) e da própria ARENA”.
Desde o início de sua formação o Sarneísmo foi favorecido pela conjuntura política nacional e pela formação de uma Oposição que na maioria das vezes se mostrou ambígua e desestruturada. Os rumos políticos do Maranhão, no período Sarneísta relativo a 1965/1985, acompanham e são diretamente influenciados pelo contexto político nacional. É levando em conta esse contexto político que tecemos algumas considerações acerca do comportamento da Oposição.
No Maranhão, os anos que se seguem à chegada de Sarney ao poder são marcados pela atuação política da Oposição consentida agregada sob a bandeira do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), além de uma disputa interna às facções partidárias, no interior da Aliança Renovadora Nacional (ARENA). O partido da situação era a ARENA. No entanto, devido a sua composição heterogênea, este partido tornou-se palco de disputa das duas maiores lideranças políticas, José Sarney e Vitorino Freire.
No início da sua formação o Sarneísmo não enfrentou uma Oposição partidária forte já que o MDB, que representava a oposição oficial, não tinha forças para enfrentar a ARENA, partido da situação. As disputas internas pela hegemonia do partido, primeiro entre Renato Archer e Cid Carvalho e depois entre Epitácio Cafeteira e Freitas Diniz Neto, prejudicaram o fortalecimento e a expansão do MDB no Maranhão.
Os mais ardorosos inimigos do Sarneísmo eram os seus correligionários da ARENA, os vitorinistas. As lutas travadas por estas duas facções oligárquicas chegaram ao seu auge nas eleições para governador em 1975. José Sarney, Pedro Neiva Santana e Vitorino Freire não se entendiam quanto à escolha do melhor nome para comandar o governo do Estado. Cada um queria impor o nome que lhe convinha. O Ministro da Justiça Petrônio Portela foi designado para resolver o embate, mas nem mesmo com todo o seu poder e prestígio obteve êxito na missão.
O próprio presidente Ernesto Geisel resolveu intervir, indicando o nome do deputado federal Nunes Freire que até então tinha se mantido neutro na disputa. O objetivo do presidente da república com esta escolha era selar a união entre as lideranças estaduais da ARENA. Não conseguiu, pois para os partidários de José Sarney Nunes Freire era considerado herdeiro político de Vitorino Freire.
Numa perspectiva de continuidade na seara política maranhense, dadas as querelas anteriores entre os dois caciques, as disputas pela manutenção e/ou retomada do controle do aparato estatal entre Sarneístas e Vitorinistas permaneceram por vários anos, até a decadência definitiva e o desaparecimento político de Vitorino Freire, em 1978.
No período de 1966/68, por exemplo, quando então as presenças de Renato Archer e Cid Carvalho (integrantes da corrente vitorinista do MDB) eram as mais influentes, esse partido chegara a adotar certa coerência na sua condição de Oposição ao governo do estado e ao governo central. O afastamento de Renato Archer e Cid Carvalho retirou do MDB maranhense os elementos ideológicos que davam sustentação ao partido e que provavelmente poderia levá-lo a se expandir, através da conquista das parcelas do eleitorado.
O MDB maranhense era muito frágil a nível estadual, embora tivesse força na capital do Estado, mas não chegava a ameaçar o domínio do Sarneísmo. Nem mesmo quando houve cisão na ARENA o MDB soube tirar proveito da situação.
Para ressaltar esta assertiva, vale registrar que em 1970 quando da realização das eleições pela disputa de duas vagas ao Senado Federal, muitos arenistas discordaram do nome de Alexandre Costa. O MDB lançou Epitácio Cafeteira, mas a falta de articulação no interior do Estado fez malograr as intenções do candidato do MDB. Ao invés de fortalecer-se, o MDB saiu enfraquecido em meados da década de 1970. Esse partido que possuíra 14 prefeituras pela via eleitoral, em 1972, nas eleições de 1976 passaria a ter apenas 12.
A fragilidade do MDB pode ser demonstrada pelo resultado das disputas pelas cadeiras reservadas ao Estado do Maranhão na Câmara dos Deputados, em 1974, quando o MDB conquistou apenas uma das sete cadeiras oferecidas.
A oposição mais forte enfrentada pelo Sarneísmo vinha mesmo do próprio partido situacionista, a ARENA. No entanto, não se deve confundir o Sarneísmo com a ARENA, pois este partido comportava tanto Sarneístas como Vitorinistas, em que pese serem os dois líderes dessas duas facções, inimigos políticos irreconciliáveis.
As disputas internas pela hegemonia não eram exclusividades do MDB. Em meados da década de 1970, durante o governo de Nunes Freire, os Sarneístas foram oposição ao governo do Estado. Nas eleições municipais de 1976 Nunes Freire tentou derrotar várias lideranças arenistas, em diversos municípios do estado, ligados a José Sarney, inclusive na cidade de Pinheiro.
Para o governador Nunes Freire, desafeto político de Sarney, as crises atingiram o auge nos anos de 1975 e 1976, quando foi deflagrada, pelo Sarneísmo, violenta campanha contra a sua administração, acusada diariamente de corrupta através da mídia sarneísta. Esse estado de coisas fez ressurgir no cenário político maranhense a figura de Vitorino Freire, inimigo político declarado de Sarney, que chegou a indicar seu filho Luis Fernando Freire como candidato a vaga de suplente no Senado Federal.
O que se observa a olho nu são as limitações dessa Oposição ao sarneísmo, impostas pela busca de uma unidade ideal no plano nacional, algo difícil de ser almejado em razão da própria lógica política e controles impostos pela Ditadura. Quanto ao MDB, é preciso compreender a dinâmica e os desdobramentos de suas atividades na capital maranhense, uma vez que no interior do Estado esse partido não se tornou um adversário político à altura do poderio e da supremacia arenistas e de suas facções ou sublegendas em perfeita sintonia com os interesses maiores dos generais-presidentes, os verdadeiros donos do poder no plano federal neste contexto histórico.
Essa primeira incursão no tema em comento representa um singelo esforço historiográfico de traçar novos cenários explicativos para uma melhor recepção e compreensão da história política contemporânea do Maranhão.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

QUANTO VALE OU É POR QUILO? ONG's, assistencialismo desbragado e corrupção no Brasil

Como prometi, trago ainda nesta noite de brisa atlântica no Rio Claro, uma sugestão fílmica adequada para que possamos almejar uma síntese dos desdobramentos da linha do tempo, descortinando os meandros da nossa formação sócio-histórica do continente Brasil.
Desde que conheci a obra de Sérgio Bianchi, percebi a oportunidade que teria em construir novas abordagens nas aulas de História, História do Direito e Ciência Política, cujos conteúdos programáticos nos oferecem as condições teórico-metodológicas para firmar um debate acadêmico de qualidade, propício para ampliar e construir uma apreciação crítica de uma obra tão polêmica como a Bianchi.
Na realidade, a experiência no processo de formação política no interior de formações partidárias ou sindicais também se revelou producente e contextualizado para um engajamento dialético das novas gerações e velhas gerações de militantes espalhados por esse imenso território maranhense.
Não há nenhuma dúvida do sucesso de Sérgio Bianchi e de seu “Quanto Vale ou É por Quilo?”. Para conhecer um pouco mais dessa obra crítica, polêmica e importantíssima na filmografia do diretor, capaz de fazer o espectador se indignar com as cenas e o contexto trazido para o enredo do filme é preciso estar aberto para as questões levantadas na película, que passam pela prática da corrupção de setores importantes das ONG's, pela ocorrência do desmedido encarceramento e da violência urbana e pela "pilantropia" acerba que se abate sobre a pobreza, desnaturando o sentido e o princípio dessa prática social antiga e etc.
Aproveite! Vale a pena assistir!

"A fingida caridade do rico não passa, da sua parte de mais um luxo; ele alimenta os pobres como cães e cavalos." (Jean-Paul Sartre)

“O diretor paranaense Sérgio Bianchi, radicado em São Paulo desde os anos 70, sempre foi um provocador. Seus filmes são freqüentemente estruturados como soma de fragmentos ilustrativos dos descalabros e absurdos da sociedade brasileira. Seus alvos preferidos são a elite e o Estado, segundo suas imagens, responsáveis pelo vírus da amoralidade e da degeneração. No seu “Quanto Vale ou É Por Quilo?”, ele não salva nem as vítimas (os pobres), contaminados pelas práticas e pela ideologia de seus 'opressores'. Por meio de uma série de fios condutores, Bianchi ataca ainda a indústria da boa ação, por meio da qual, além de se lavar a alma, gera-se empregos e movimenta-se a economia, sem, no entanto, interferir na vida dos supostos beneficiados (os pobres, outra vez). Quase ao final dois personagens definem o seqüestro como mecanismo de distribuição de renda e de justiça social”.

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT961935-1655,00.html

O FASCÍNIO DO CINEMA NO SAUDOSO “CINE NATAL”: adolescência, cultura e amizade

Nascido e criado nas margens do outrora imponente Rio Parnaíba, na divisa entre Barão de Grajaú (MA) e Floriano (PI), relembro-me com saudade da minha inserção e predileção pela “sétima arte”, esta centenária denominação criada pelo italiano Ricciotto Canuto em 1912.
Camaradas, desde a minha inserção na diretoria da cinqüentenária Associação Florianense dos Estudantes Secundaristas (AFES) em 1977, quando nossa entidade, através da "Polícia Estudantil", ficou com a incumbência de “fiscalizar” e garantir o direito dos estudantes florianenses de usufruir o benefício da meia-entrada no também cinqüentenário Cine Natal, ali, ao lado do antigo Supermercado Triunfo, na Avenida Getúlio Vargas.
Tempos imemoriais que marcaram profundamente a nossa adolescência e a amizade perene, nas matinês com muito kung-fu, faroeste e, para os maiores de idade, muita pornochanchada, gêneros cinematográficos típicos dessa época.
O Cine Natal, sem dúvida alguma, tornou-se a melhor experiência cultural para nós, estudantes do também cinqüentenário “Colégio Estadual Osvaldo da Costa e Silva”, do “Colégio Industrial São Francisco de Assis”, dentre outras escolas florianenses. Destas escolas, onde estudávamos, saíamos em bandos na direção do cinema para curtir os filmes em cartazes e, no meu caso, descia celeremente a Rua Castro Alves, ansioso para chegar.
Muitos camaradas queridos, cuja amizade prezo até os dias de hoje, vivenciaram essa experiência única ao ter acesso à cultura e ao entretenimento numa cidade considerada, naquela época, como a terceira mais importante do estado do Piauí.
Reverencio aqui os meus “conspiradores” do BAPA (jornal publicado no segundo ano do 2º Grau, em 1978) veículo provocativo e crítico no contexto do final dos anos 70 em Floriano. Dentre eles, Pinto Neto, Bodão, Astrobaldo, Edom e tantos outros queridos e saudosos amigos.
O fato é que essa experiência cinematográfica numa cidade do interior do Nordeste brasileiro marcou todos nós que vivemos essa época, época da distensão lenta, gradual e segura, oferecida por Geisel e pela transição que se inicia em 1979, sob o jugo de Figueiredo. Para nós, um ano mágico, quando chegávamos à conclusão do segundo grau, nos despedíamos do velho Cine Natal e vislumbrávamos o futuro, de olho na universidade, conscientes de todos os enormes desafios que haveríamos de enfrentar.
Camaradas, pretendo, paulatinamente, oferecer algumas dicas cinematográficas neste espaço virtual de modo que eu possa – humildemente – contribuir com o debate sobre inúmeras questões e temas fundamentais para que possamos compreender melhor o mundo e a humanidade através de películas de primeira grandeza.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O SAMBA NO SEU DIA: um pouco de história, música e brasilidade

Oficialmente o primeiro samba foi gravado em 1917 com o título de "Pelo Telefone" e sob a autoria do músico carioca Donga.
A origem da palavra samba, contudo, parece ser mais remota. Seria, provavelmente, uma derivação do quimbundo semba, que significa umbigada, ou do umbumdo samba que significa estar animado ou estar excitado.
Há também quem afirme que a palavra tenha sua ligação com a língua luba e com outras línguas bantas, nas quais samba significa pular ou saltar com alegria. O que prova que o samba é bem anterior à música de Donga.
Há uma quadrinha de frei Miguel do Sacramento Lopes Gama, publicada no dia 12 de novembro de 1842, no número 64 da revista "Carapuceiro", de Pernambuco, de grande importância histórica. Vamos a ela:

Aqui pelo nosso mato,
Qu'estava então mui tatamba,
Não se sabia outra coisa
Senão a Dança do Samba
.

O mais curioso é que essa não é a primeira aparição da palavra samba na tal "Carapuceiro". Em 3 de fevereiro de 1838, o mesmo frei Miguel escreveu um texto contra um certo "samba d'almocreve". O que se deduz disso é que certamente "Pelo Telefone" não é o primeiro samba, ou melhor, que o samba já estava na praça muitos anos antes de sua primeira gravação.

Tipos de Samba
A partir do semba que os viajantes portugueses descobriram no século 18 em Angola e no Congo, o etnólogo Câmara Cascudo descobriu três tipos de dança que continham a base do ritmo que originou os sambas brasileiros.
Essas danças são: a dança da umbigada, a de pares e a de roda. Essa música e essas danças foram trazidas para o Brasil pelos escravos e desenvolveram-se em uma área que vai desde o Maranhão até São Paulo. Receberam, em cada Estado brasileiro, um nome diferente e um jeito diferente de ser tocadas. Dos nomes e das ramificações desse ritmo africano temos hoje o tambor de crioula no Maranhão; o bambelô no Rio Grande do Norte; o coco, o milindo, o piaui e o samba no Ceará e na Paraíba; o coco de parelha trocada, o coco solto, o troca parelha ou coco trocado, o virado e o coco em fileira em Pernambuco; o samba de roda e o batebaú na Bahia; o jongo, o samba-lenço, o samba-rural e o samba de roda em São Paulo; o caxambú, o jongo, o samba e o partido alto no Rio.
Portanto, é certo afirmarmos que o samba pode ser visto hoje como um ritmo que engloba vários outros, já que suas ramificações não param de crescer. Por exemplo, o pagode — ritmo que surgiu nas mídias entre as décadas de 70 e 80 — é uma dessas novas manifestações advindas do samba.

Construção
O samba é basicamente uma construção musical feita com um compasso binário e um ritmo sincopado. É sobre esta forma básica que todos os tipos de samba existentes hoje se formulam.

Renato Roschel
Fonte: http://almanaque.folha.uol.com.br/samba.htm

ECONOMIA POLÍTICA DO CRIME NO BRASIL: abismos sociais, medo e o cárcere como resposta

SEMINÁRIO “Encarceramento em massa – símbolo do Estado Penal
Data: 07 a 09/12/2010.
Local: São Paulo, Faculdade de Direito da USP
Largo do São Francisco, Centro

Representantes de movimentos sociais, pesquisadores, ex-presos, familiares de presos e representantes do judiciário discutirão, entre os dias 07, 08 e 09 de dezembro, os principais impasses e dilemas do sistema penitenciário brasileiro. Intitulado “Encarceramento em massa: símbolo do Estado Penal”, o encontro vai discutir temas como a política de apartheid do estado penal brasileiro, a criminalização das populações marginalizadas, as políticas de encarceramento em massa e as conseqüências sociais da institucionalização.
“Queremos discutir as práticas e ideologias estatais que transformam as prisões brasileiras, especialmente as paulistas, em verdadeiros centros de terror. É hora de discutirmos também como o direito penal tem se convertido em estratégia de legitimação dessa lógica fascista de encarceramento dos pobres e negros”, dizem os representantes do Tribunal Popular: O Estado Brasileiro no Banco dos Réus, uma das entidades organizadoras do seminário.
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), entre 1995 e 2005 o Brasil registrou um crescimento de 143,91% na sua população carcerária e já pode ser considerado como uma das principais ‘democracias penais’ do mundo. O termo, utilizado por pesquisadores e militantes sociais, chama a atenção para as contradições ilegitimidade de um regime que se quer democrático, mas segue com uma política sistemática de encarceramento em massa de indivíduos pertencentes a grupos historicamente marginalizados.
O seminário acontecerá na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Os interessados em participar do evento podem fazer a inscrição por formulário eletrônico no site http://www.tribunalpopular.org/ ou pelo email tribunalpopular2010@gmail.com.

Fonte: Passa Palavra

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A JUSTIÇA ENQUADRA A COMISSÃO ELEITORAL DA UEMA: manobras, ilegalidades e desrespeito à democracia

Caros camaradas,

Neste dia 1º de dezembro, os professores, servidores técnico-administrativos e os alunos da Universidade Estadual do Maranhão que fizeram e fazem a luta em defesa da universidade pública, transparente, democrática e de qualidade, têm muito que comemorar.
Refiro-me às novas decisões importantíssimas prolatadas pela ilustre Desembargadora Maria das Graças Mendes a partir de duas petições nos autos do Agravo de Instrumento, uma tentativa do reitor caudilho em legitimar a grande fraude que foi a “eleição” para a composição da lista tríplice para o cargo de reitor da UEMA.
A primeira petição que ingressou no gabinete da Desembargadora Maria das Graças Mendes foi apresentada pelo Dr. Pedro Duailibe, em nome da chapa liderada pelo professor Juca e pela professora Célia Costa. Nesta petição, conforme já havíamos chamado a atenção da comunidade universitária, o presidente da “Comissão Eleitoral”, devidamente orientado pelos mentores da chapa do reitor caudilho, fez uma “reunião” de faz de conta no dia 26 de novembro, às 08h20min, aprovando a entrega do “resultado final” da eleição para o Conselho Universitário (CONSUN).
Esta atitude do presidente e demais membros da “Comissão Eleitoral” representou, na realidade, uma manobra desqualificada e um desrespeito total à decisão da desembargadora responsável pelo julgamento do Agravo de Instrumento.
No entanto, a Desembargadora Maria das Graças suspendeu o processo eleitoral até o deslinde da ação judicial.
A segunda petição diz respeito à iniciativa do candidato a reitor, professor Mariano e sua assessoria jurídica que lograram êxito ao requerer que toda a documentação criada no processo eleitoral, das inscrições até a apuração da eleição, deve ser disponibilizada aos candidatos.
Essa decisão judicial freia o ímpeto antidemocrático da “Comissão Eleitoral” e restabelece uma oportunidade para que a democracia seja respeitada na comunidade universitária da UEMA.
Neste contexto, a decisão da Desembargadora Maria das Graças Mendes aponta um horizonte mais promissor para a Universidade Estadual do Maranhão, depurada de todas as irregularidades que foram cometidas pela “Comissão Eleitoral”, na verdade, o partido privado do reitor caudilho e de outros dois candidatos a reitor publicamente atrelados ao Sr. reitor.
Seremos vigilantes e ficaremos de olhos bem abertos!

JUSTIÇA NEGA PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO PARA O REITOR CAUDILHO

Camaradas, a tentativa do reitor caudilho de derrubar a decisão da Desembargadora Maria das Graças Mendes caiu por terra. Em decisão tomada nesta manhã, a magistrada manteve a sua determinação de sustar o processo eleitoral para a reitoria da UEMA até que sejam esclarecidos todos os pontos alusivos a esse pleito, uma vez que inúmeras denúncias de fraude, a compra de votos e etc. conspurcaram tal eleição e a magistrada deverá dar a decisão final nesta questão.
É preciso assinalar aqui que a comunidade universitária da UEMA não aceita o terceiro mandato do reitor caudilho e que ele deve entender de uma vez por todas: A UEMA NÃO TEM DONO! O reitor caudilho não é o dono da UEMA!
A Universidade Estadual do Maranhão merece respeito e deve continuar lutando para avançar e derrotar essa oligarquia que manda e desmanda na universidade há décadas, num total desrespeito à democracia.
O Maranhão quer uma universidade pública, transparente, democrática e de qualidade para cumprir o seu papel no interesse das grandes causas sociais, econômicas e culturais da população de nosso estado.
A luta continua!

TRANSCRIÇÃO DA DECISÃO NO SITE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Devolvido com Despacho - PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL
Observação: "...Por tais razões, deve ser mantida a medida acautelatória contra a qual se insurgem os Agravantes. Isto posto, indefiro o pedido de reconsideração vindicada".
Publique-se. Intimem-se. São Luís, 1º de dezembro de 2010.
Desembargadora Maria das Graças de Castro Duarte Mendes - Relatora.
Hora: 09:52:19