domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Box Cinema não tem jeito: o desrespeito aos espectadores continua

Domingo, 28 de fevereiro de 2010. 15h20min. Chego ao setor de bilheterias do Box Cinema juntamente com minha esposa e meu filho e me deparo – mais uma cansativa vez –com duas gigantescas filas para compra de ingressos. Ao meu redor, centenas de pessoas formam pequenos grupos e entabulam suas conversas esperando que as longas e vagarosas filas avancem um pouco mais. O passo lento e enervante está relacionado com o fato de que apenas duas jovens trabalhadoras atendiam a multidão ansiosa para comprar seus ingressos e adentrar as salas escolhidas.

A ansiedade explícita de várias pessoas ali presentes não se coadunava com uma atitude de passividade e conformismo observado naquele ambiente. À exceção deste blogueiro, apenas mais duas pessoas partiram na direção da gerência do Box Cinemas para reclamar aquela situação e exigir que fossem destinados mais funcionários para o atendimento nos caixas, uma vez que as próprias funcionárias nos informaram que outras colegas haviam faltado neste dia de trabalho.

Depois de muitas tentativas, conseguimos falar com o subgerente exigindo o respeito a todos os espectadores, o que foi de pouca valia, considerando que o ilustre subgerente nos disse que não poderia fazer nada, que isso era um problema da diretoria e que, se nós quiséssemos, poderíamos conversar pela internet com o presidente da empresa Box Cinemas, que é controlada pelo Grupo Internacional CineOcio Desarollo e tem sua sede na Espanha.

Imaginem se o capitalista espanhol, dono dessa rede de cinemas teria um tempinho para conversar com indignados espectadores de nossa Ilha Rebelde para discutir e resolver os inúmeros problemas criados por sua empresa.

Este desrespeito não pode continuar. Apenas para fins de registro desta questão, lembro-lhes que publiquei um artigo no dia 10 de janeiro, publicado no Jornal Pequeno, discutindo o mais completo desrespeito do Box Cinemas aos espectadores de São Luís e que esta atitude merece um olhar dos órgãos de controle e defesa dos consumidores de nossa cidade, a exemplo da Promotoria dos Direitos do Consumidor e do PROCON.

Da população, por outro lado, espera-se uma atitude mais protagonista e ativa no sentido de exigir os seus direitos de cidadão e consumidor e cobrar as mudanças necessárias e imediatas que o Box Cinemas deve fazer.

Temas para o debate na sociedade

Gostaria de ressaltar e agradecer o espaço que o Jornal Pequeno vem oferecendo em suas páginas de opinião para que eu possa levantar algumas questões pontuais, de interesse público, que se conectam com os grandes temas que serão amplamente debatidos no âmago do processo político e eleitoral deste ano de 2010.

Claro, o objetivo de publicar esses artigos também está relacionado com a necessidade de fazer chegar ao maior número de leitores estas idéais que venho lançando para o debate com os movimentos sociais e os lutadores das causas sociais em nosso estado e no Brasil.

Espero que meus artigos sejam recepcionados como uma pequena contribuição para esse debate e, em face disso, conclamo os camaradas para visitarem este blog e darem a sua balizada opinião sobre os temas já abordados por mim.

Você será bem recebido.

A MARCHA DO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA NO BRASIL: a economia política da questão regional

Pensar o conceito e a realidade histórica da chamada “questão regional” nos leva a considerar a análise do desenvolvimento nacional na medida em que a dimensão espacial é resultado da produção e reprodução da vida material no âmbito das relações sociais capitalistas, as quais se inserem no território como totalidade.

Um conceito como “questão regional” vem à tona e se estrutura com base em um contexto histórico específico externando tanto as abordagens teóricas, quanto os movimentos da história. A idéia de região é vinculada à definição de marcos espaciais fixos, sistematizados convencionalmente, tendo como base a existência de aspectos naturais similares ou certas características históricas e culturais afins.

As circunstâncias que levaram à ocupação e formação do espaço econômico no Brasil, com características de descontinuidades quer sejam temporais ou mesmo geográficas, teve como conseqüência em três séculos de história colonial, o fato de que cada região produtora buscasse sua vinculação econômica aos portos existentes, sem conseguir implantar inter-relações entre si. Esta herança da nossa formação social e econômica levou à determinação da natureza intrínseca da “questão regional” no Brasil.

A “questão regional” funda-se no desenvolvimento da colônia, contexto em que se estruturaram diversas economias regionais primário-exportadoras com base no trabalho escravo. Com o fim da escravidão e o desenvolvimento das formas capitalistas de produção, estas, ocasionaram um forte "desequilíbrio regional" no Brasil, uma vez que São Paulo passou a concentrar a produção industrial no país, passando a se configurar uma hegemonia do seu sistema fabril sobre o conjunto das regiões, hegemonia esta traduzida como sendo uma relação de trocas entre o centro e a periferia do capitalismo no Brasil (Cano, 1977).

O destaque paulista está relacionado com a emergência, no oeste daquela unidade federativa, da burguesia cafeeira. Surgia assim uma burguesia mais moderna que usava o trabalho assalariado do imigrante ao invés do escravo, numa referência à implantação das relações capitalistas de produção.

A tônica deste período foi o surgimento de várias crises e de várias transformações na estrutura produtiva do país marcada pela aliança política e de classe entre os estamentos burocráticos e patrimonialistas e a burguesia cafeeira (Oliveira, 1993). A manutenção destes pactos estabelecidos entre os segmentos políticos e econômicos atrasados com os modernos levou à industrialização, mas deixou de lado suas referências regionais. Estes arranjos deixaram de representar a aliança da burguesia industrial do Sudeste, que tinha como objetivo direcionar suas estratégicas para um mercado nacional em estruturação e um setor das burguesias agrárias detentoras de uma considerável inserção e controle do poder político.

Para Francisco de Oliveira, o regime escravocrata foi a grande base da unidade da América portuguesa, unidade esta que se manteve intacta no Brasil independente, mesmo com as rebeliões havidas. A escravidão percorreu todo o território nacional, de norte a sul, dos igapós amazônicos aos pampas gaúchos. A classe dominante também havia se unificado e tinha um tipo social característico: os senhores de escravos.

Estes senhores da Casa Grande e Senzala tinham todo o interesse em manter a unidade territorial. Em primeiro lugar, porque era prova de garantia de que o tráfico africano haveria de continuar, pelo menos até 1851, quando foi proibido, num enfrentamento com a Inglaterra. Em segundo lugar, era prova de garantia também que o tráfico interno seria parte dessa unidade de classe, uma vez que esta prática mantinha os preços da escravaria num nível adequado para os seus interesses mercantis.

A unidade política entre os potentados e o Estado serviu para sufocar as rebeliões escravas, dentre elas a Balaiada, em solo maranhense, sob a liderança de Negro Cosme. Esse processo criou as condições necessárias para que a classe senhorial escravagista impusesse a sua vertente centralizadora e unidade nacional, sublimando as tendências centrífugas, consubstanciadas em inúmeras tentativas de fragmentação, de criação de unidades independentes.

Abordando as desigualdades regionais e a concentração industrial no Brasil, Wilson Cano destaca que a partir de meados do século XIX, seriam criadas as bases para que a indústria pudesse surgir e crescer no país, levando à criação, mesmo que ainda embrionária, de um mercado interno. Para o autor, antes da subida de Vargas ao poder, em 1930, a economia se caracterizava pela dispersão na formação de suas regiões, pensadas separadamente. Cada uma delas apresentava uma conotação histórica e um desenvolvimento econômico particular.

O ano de 1930 tornou-se uma espécie de marco simbólico da inserção do Brasil na “modernidade”, uma vez que no contexto histórico adstrito a estas transformações estruturais do país, cabe tanto a passagem da economia agrário-exportadora para a civilização urbano-industrial como a estruturação do Estado Nacional, base essencial que levaria a fundo o projeto burguês.

Esse processo dificilmente teria se tornado uma realidade sem que houvesse uma forte intervenção do aparelho estatal na tarefa de criar e implantar novos instrumentos de ação institucional, claramente direcionados para as políticas de planejamento e execução de importantes investimentos em infra-estrutura, buscando suplantar o tipo de organização territorial oriundo da economia primário-exportadora.

Mesmo no âmago desta forte intervenção do Estado, o patamar em que chegou a integração regional foi incapaz de superar as disparidades oriundas do período colonial, quando o Nordeste ainda detinha uma parcela significativa da riqueza nacional. No entanto, na medida em que a marcha da industrialização concentrou-se no Sudeste, principalmente em São Paulo, esta tendência histórica aprofundou certas disparidades, demandando ao Estado a necessidade de criar e implantar políticas específicas de planejamento regional, até então pioneiras no país (Cano, 1977).

As classes sociais oriundas do capital cafeeiro, no contexto mencionado, não se tornaram de todo hegemônicas no sentido de serem capazes de levar adiante este processo de modernização capitalista, uma espécie de hegemonia inacabada, levando o Estado a um ponto de mediação desses interesses em jogo, definindo-se como um “Estado de Compromisso” (Oliveira, 1993).

No Brasil, a União Federada foi alicerçada sobre as oligarquias que deram sentido e significado a República, e, como corolário desse processo, na opinião de Francisco de Oliveira (1999), o nosso republicanismo não encarava as grandes questões da cidadania moderna, uma vez que seus pilares foram erigidos com conteúdo e princípios antidemocráticos.

Para Cano (1998), depois de 1930, a integração do mercado nacional levou à alteração desse quadro, dado o aprofundamento das relações econômicas entre São Paulo e as demais unidades federativas. Ao passo em que se acelerava o desenvolvimento e a industrialização de São Paulo, o processo de trocas se tornava mais complexo e aumentava em quantidade, passando a exigir que fossem realizadas várias e importantes modificações do processo produtivo em termos das estruturas regionais e, ao mesmo tempo, motivando seu crescimento econômico.

O período entre 1930 e 1970 representou uma tendência histórica na qual o Brasil, de maneira permanente e sistemática, alcançou taxas de crescimento econômico em patamares sempre superiores à média do mundo capitalista. Neste sentido, São Paulo acompanhou a tendência de crescimento, apresentando inclusive taxas anuais acima da média nacional.

Tendo em vista este forte crescimento econômico verificado em São Paulo, estas condições históricas aliadas às características típicas do processo de concentração econômica regional daí decorrente, fizeram com que o país vivenciasse uma significativa disparidade nos níveis de renda per capita e das condições de vida das populações entre as diversas regiões, com destaque para o Nordeste, o Sudeste e o Sul. Em 1970 – auge deste processo de concentração – São Paulo detinha cerca de 60% da produção industrial brasileira.

Para Wilson Cano, a concentração antes referida não causou atraso ou algum tipo de estagnação à periferia nacional. Na verdade, ocorreu o contrário, uma vez que as demais unidades federadas alcançaram de mesmo modo, taxas elevadas de crescimento, decorrentes do desenvolvimento de maiores e melhores relações econômicas com a “locomotiva” paulista.

Esta tendência levaria a uma integração do mercado interno, tanto no plano comercial quanto na produção propriamente dita, a partir da industrialização. É o momento em que várias regiões são inseridas na lógica de acumulação do capital, lógica esta que atravessa a economia nacional, ampliando os investimentos em várias regiões, vinculando a dinâmica econômica regional à reprodução do capital industrial.

Consolidada a matriz industrial do país, no interregno entre 1970 e 1985, a acumulação capitalista no Brasil cobrava um empenho maior na área periférica em termos de produção, tendo em vista a necessidade de se utilizar os recursos naturais disponíveis nestas regiões. Assim, a instalação de um número considerável de projetos econômicos e estruturais de grande porte (hidrelétricos, não-ferrosos, químicos e petroquímicos) acabou tendo como destino final as regiões periféricas, ampliando as suas possibilidades de crescimento.

Para concluir, ressalte-se que este deslocamento da instalação de novas unidades produtivas na periferia, somada aos resultados oriundos das políticas de desenvolvimento regional, implantadas sob a égide da Ditadura Militar, acabou levando a criação das condições para a irrupção de importante processo de desconcentração industrial em várias regiões do país.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Memórias de memoriais lutas

A intenção em publicar neste blog a carta-aberta que deu origem à jornada de muitas lutas e conquistas no seio da Universidade Estadual do Maranhão, a nossa querida UEMA, tem o condão de registrar essa bela e combativa história de professores, servidores técnico-administrativos e alunos que, cansados do velho bordão “professor, na UEMA é assim mesmo” - numa espécie de determinismo histórico tosco e inaceitável – resolveram dizer um rotundo NÃO e colocaram-se em movimento.

Naquele dia 5 de dezembro de 2000, a mobilização em frente ao portão de entrada da UEMA – território da luta – marcou o início do levante da Universidade que não aceitava mais ficar restrita aos seus muros. Munidos de cópias da tabela salarial daquela época, fomos à mídia local e expusemos a dramática situação dos mestres, que lutavam para equiparar os seus vencimentos ao patamar do salário mínimo do ano de 2000, no mesmo contexto em que a mandatária Roseana Sir Ney vendia seu peixe do salário mínimo de 100 dólares, engabelando os servidores e iniciando sua trajetória na disputa presidencial de 2002 e finalizando no escândalo da Lunus.

Os jornalistas não entendiam como um professor da UEMA ganhava menos que o salário mínimo como vencimento básico. Mas, a Comissão de Imprensa daquele dia de paralisação de advertência espalhou essa incrível notícia e a repercussão foi grande. O movimento cresceu e animou os colegas para novos embates como de fato acabaram ocorrendo.

Neste contexto, nascia o embrião do Coletivo Autonomia e Luta, movimento de base, crítico, combativo e protagonista de muitas lutas e conquistas para os professores, com independência de classe e de peito aberto, fizeram uma verdadeira revolução na academia e na consciência dos segmentos que vivem o cotidiano da comunidade acadêmica.

Muitos amigos, lutadores de fibra, colegas do peito e do convívio na construção da mudança social no interior da UEMA, merecem todo o meu respeito e a minha saudade de tantas emoções e alegrias que vivemos juntos.

Só espero que quando chegar o dia do nosso reencontro, teremos muito o que conversar e retomar o fio da meada de homens e mulheres que mostraram e continuam mostrando a sua coragem e o seu compromisso com a construção de uma Universidade Pública, autônoma e democrática, com qualidade social, capaz de cumprir a sua missão histórica para os filhos dessa terra chamada Maranhão.

Aquele bate-papo está nos chamando, com aquela loira gelada e muitas histórias para contar e saudades a transbordar sobre nós.

Para não esquecer as lutas e as conquistas na UEMA

TEXTO ORIGINAL DO BOLETIM DA APRUEMA, ANO 2000

APRUEMA Associação dos Professores da UEMA 244-2740

CARTA ABERTA À SOCIEDADE PELA CONSTRUÇÃO de uma UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO PÚBLICA, GRATUITA e DEMOCRÁTICA, com AUTONOMIA e SALÁRIOS DIGNOS!

A governadora Roseana Sarney não valoriza a Universidade Estadual do Maranhão e seus segmentos acadêmicos (alunos, professores e técnico-administrativos). Para os funcionários da UEMA, os últimos seis anos se traduzem no maior arrocho salarial da sua história. Os técnicos-administrativos, por exemplo, estão desde fevereiro esperando o salário de 100 dólares prometido pela governadora, com estardalhaço, em toda a imprensa nacional.

A inflação do Plano Real, de julho/1994 a outubro/2000, medida pelo INPC/IBGE, chegou a 93,02% e enquanto isso, os nossos salários tiveram reajuste negativo. Neste período, a governadora aumentou as alíquotas de desconto para o IPEM e não destinou para os nossos salários os aumentos do salário mínimo, ou de algumas categorias do funcionalismo estadual, num desrespeito ao tratamento igual que deve ser dado conforme a constituição.

Neste dia 03/12, por exemplo, a governadora Roseana Sarney anunciou um aumento para a Polícia Militar e para os técnicos de nível superior do estado. Depois de um ano, a governadora disse que vai dar os 100 dólares. E a UEMA vai ficar de fora mais uma vez?

É importante que a sociedade saiba que nosso Plano de Carreira está defasado e que recebemos hoje R$760,00 o que representa metade do que recebe um professor 40 horas do ensino médio da rede estadual. O salário base de um professor 20 horas é de R$141,11, menor que o mínimo. Essa discriminação não pode continuar! Exigimos igualdade de direitos!

Queremos construir uma Universidade para os maranhenses, que tenha a sua autonomia respeitada e que isto não seja apenas letra morta na Constituição Estadual. Afinal, em 1999, por exemplo, o governo repassou apenas 23% dos recursos orçamentários da UEMA. Esta situação não pode continuar! Para onde está indo o dinheiro da UEMA?
Realizamos, hoje, um DIA DE PARALISAÇÃO DE ADVERTÊNCIA em todos os campi da UEMA, denunciando as nossas perdas salariais de 93,02% e a negativa do governo em reajustar os nossos salários. Estamos cobrando da governadora o atendimento da pauta de reivindicações, entregue à ela e ao Reitor, em meados deste ano e não respondida até agora.

Faz-se urgente que a comunidade universitária se una em defesa do caráter público e gratuito da UEMA. A nossa vitória representará uma melhoria para todos os segmentos acadêmicos e viabilizará uma universidade com um ensino de qualidade, com pesquisas e programas de extensão voltados para a sociedade que a sustenta com os impostos.
A negativa da governadora e do Gerente Danilo Furtado em não conceder nenhum reajuste salarial para os docentes da UEMA, mesmo tendo recebido a pauta de reivindicações, é uma atitude inaceitável e terá como resposta a mobilização e a luta dos seus trabalhadores.

Lutamos pelo repasse integral do orçamento da UEMA; reposição salarial de 93,02%, incorporação da gratificação de 222%; novo Plano de Carreira; democracia verdadeira, com eleição direta em todos os níveis e nomeação do mais votado; mais laboratórios; construção do prédio das licenciaturas e mais salas em São Luís e viabilização dos prédios dos Centros no interior; mais pesquisas com ampliação dos programas de pós-graduação, com a liberação dos docentes e garantia de bolsas; não à privatização, com a garantia do PROCAD transparente, público e gratuito, bancado pelo governo estadual e municipais.

São Luís(MA), 05 de dezembro de 2000

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um pouco de poesia

O Delta pariu um Camarada

Camarada das artérias
Impacientes
Convulsivas
Impertinentes
Abusivas
Camarada da pressão que não cede
Mas, aumenta
os batimentos
Deixando o Ser
num frêmito sem controle
Que nem uma mineira conciliadora
Consegue segurar.
Ainda Camarada
Com esses óculos fundo de garrafa
e um charuto, cubano, Che?
A olhar de soslaio naquelas enfadonhas
reuniões
E pensar e dizer: vão tomar no...
Esse Camarada, realmente, é o Cara!
Que a vida lhe seja Eterna
e que tua Saúde e Vigor não pereçam jamais,
Camarada!

Democratizar a comunicação é preciso!

Camaradas,

Tenho consciência e um pouco de experiência adquirida em longas conversas com colegas docentes, alunos-blogueiros, blogueiros-jornalistas, etc., que o metier dessa figura [o blogueiro] nascida no seio daquilo que chamam de “pós-modernidade” no contexto do aprofundamento do papel histórico cumprido pela tecnologia aplicada aos meios de comunicação inclusive na sua versão fetiche, é uma ferramenta interessante que busca pautar a idéia da liberdade de cada um e do seu próprio pensamento pelas infovias e, ao mesmo tempo, pela materialidade do cotidiano.

Os milhões de escribas-blogueiros que levam aos quatro cantos do mundo a sua verve multicolorida talvez estejam prestando um grande serviço ao processo histórico de enfrentamento do controle da grande mídia e da sua lógica mercantil no palco desse grande aparato de construção de hegemonia representado pelos monopólios da comunicação social, com os seus escudeiros: os coronéis eletrônicos da “pós-modernidade”, como é o caso de Sir Ney no Maranhão, do falecido ACM, na Bahia, e mais uma penca dessas figuras decaídas.

Essa lógica do lucro fácil e dos processos de mistificação e manipulação das consciências deve ser denunciada, por um lado, e, por outro, devemos procurar alternativas que nos levem a construir novos paradigmas e maneiras de informar e educar o conjunto da população, que deve cobrar a produção da informação de qualidade e democrática, superando essas estratégias mistificadoras que levam ao aprofundamento mais completo da alienação e da sujeição ao consumismo desenfreado e alheamento da sua própria realidade.

A luta deve ser feita. Quem se dispõe?

domingo, 21 de fevereiro de 2010

BOX CINEMA: monopólio cultural e desrespeito à cidadania ludovicense.

A cidade-capital São Luís do Maranhão tem - como não poderia deixar de ser - suas próprias características e manias de se viver. Uma delas, que corre pelo senso comum é representada pelo epíteto “cidade do já teve”, numa referência direta a uma espécie de “cultura” ou permanência que acaba levando inúmeros empreendimentos econômicos e culturais em geral ao descaso, à decadência e ao desprestígio por parte de importantes segmentos da sociedade.

Afinal, quem não se lembra do glamour dos cinemas (Passeio, Roxy, Eden, Tropical, Colossal), dos bares de antigamente (Moto Bar, etc.), das casas de espetáculo e outras variadas atrações culturais que já existiram na Ilha Rebelde e muitas delas feneceram, reforçando esse mito da “cidade do já teve”, tal qual se possa comparar com uma destas nossas lendas que serpenteiam por debaixo dos labirintos que existem no subsolo da nossa Ilha quatrocentenária.

No intuito de demonstrar a validade de tal lenda e de seu mito revelado, observamos que o Box Cinemas, ao que parece, está padecendo do carma da “cidade do já teve”, senão vejamos: para aqueles de boa memória e cinéfilos de carteirinha, a vinda do empreendimento localizado nas dependências do Shopping São Luís, apesar dos preços caros cobrados na bilheteria e no balcão da pipoca e do refrigerante, rapidamente se legitimou e encantou os ludovicenses com as suas instalações modernas, som dolby stereo, funcionários treinados e simpáticos, gerentes prestativos para consagrar a modernidade cinéfila em nossa Upaon-Açu.

Esta grande novidade foi lançada nos idos de 2003 e conquistou a cidade, arrebatando dinheiro à beça que foram redirecionados para engordar os caixas de seus proprietários. Isto ocorreu no mesmo momento em que o Colossal Cinema aprofundou o processo difícil e doloroso de esvaziamento de seu cativo público, provocado por uma nova geografia econômica em que o Colossal se mostrou incapaz de enfrentar a concorrência da novidade Box Cinema, inclusive por seus próprios erros.

Quem não haverá de se lembrar das salas do Colossal onde não mais funcionavam os aparelhos de ar-condicionado, a péssima qualidade das películas, o total desrespeito com as determinações do Código do Consumidor, levando o cinema a uma queda drástica no atendimento ao público, que virou alvo de todo tipo de descaso e incompetência gerencial, levando parte da população a se revoltar e migrar rapidamente para o Box Cinemas?

A verdade é que “rei morto, rei posto”, como nos assevera o ditado popular. Muito rapidamente o Colossal Cinema definhou e acabou aumentando a mortandade dos empreendimentos econômicos e culturais de nossa cidade “patrimônio cultural da humanidade”. Por conseguinte, um novo “rei” cinematográfico foi coroado: O Box Cinemas.

No entanto, talvez fruto dos processos de monopolização da atividade econômica, o Box Cinemas não rezou a cartilha direito e acabou – paulatinamente – repetindo os mesmos erros do Cinema Colossal.

Ressalte-se que o verdadeiro primor que eram as instalações e o atendimento desse novo empreendimento começaram a decair, com inúmeras reclamações do seu público usuário. Por vários momentos, em dias de grande movimentação, a população tem sido obrigada a esperar demasiadamente pela boa vontade e esforço de um ou dois funcionários nas bilheterias do cinema.

Como se não bastasse, por diversas vezes, aparelhos de ar-condicionado sem funcionar, além de ocorrência de vários problemas técnicos com as películas e outros equipamentos.

Acaso o senso comum prevaleça e sem a necessidade de aprofundar essa realidade aqui demonstrada, é de bom tom que a direção do Box Cinemas fique de olhos bem abertos para não repetir o mito da “cidade do já teve”.

Afinal, a partir deste ano (2010), o Box terá que enfrentar a sua primeira concorrência de peso e uma relativa queda do seu monopólio, a partir do lançamento do Shopping Rio Anil que promete instalar seis salas de cinema em mais um templo de consumo na cidade. Como se não bastasse, no contexto dessa expansão do consumismo na capital maranhense, também será lançado em 2011 o Shopping da Ilha com a promessa de lançar oito salas de cinema.

A população não merece mais conviver com esse epíteto severo que tem nos tirado boas atrações e lugares da cultura popular de nosso convívio. No caso do cinema, como o Box continua a fazer pouco caso dos seus clientes e teima em repetir o Colossal naquilo que foi desastroso em sua existência, é bom que seus proprietários mudem de postura. É certo que os blockbusters hollyoodianos são os atrativos principais do Box. Os novos cinemas que serão instalados devem repetir esse mesmo tipo de mercadoria e hegemonia cultural ianque. Na contramão dessa oferta praticamente única, temos o Cine Praia Grande, que, apesar de todas as dificuldades e falta de apoio, mantém a coerência oferecendo filmes de qualidade, representativos da pluralidade cultural que viceja em nossa cidade patrimônio da humanidade. Na realidade, os milhares de amantes do cinema que vivem por aqui querem mesmo é qualidade e respeito aos seus direitos de consumidores e aficcionados pela sétima arte.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Um novo desafio

Camaradas,

Depois de uma inserção pessoal na globosfera na condição de leitor assíduo de alguns blogs de política, economia, cultura e sociedade, resolvi aceitar o desafio que alguns camaradas blogueiros lançaram para mim: lançar o meu próprio blog.

Sei da responsabilidade que passo a ter nessa blogosfera, na medida em que tenho que corresponder às expectativas dos camaradas e do público leitor. Espero que eu corresponda a essas expectativas e que eu faça o melhor debate possível.

Espero a visita dos camaradas e que estes ofereçam as suas contribuições para realizarmos uma conversa de primeira, levantando as questões fundamentais que norteiam o debate hoje no mundo, no Brasil e em nosso território maranhense.

Um abraço a todos e todas!

Paulo Rios

DE PROLETÁRIO A ASSOCIADO E COLABORADOR: exploração do trabalho e mistificação discursiva

“Nenhum eufemismo por mais belo e reconfortante que seja é capaz de alterar concretamente a condição proletária do trabalho sob a égide da produção capitalista de mercadorias”. Karl Marx

Das entranhas do feudalismo e na transição para a modernidade, o capitalismo se consolidou como sistema produtor de mercadorias a partir da exploração do trabalho humano via extração da mais-valia. Mas o capitalismo não é só mercadoria tangível e o consumismo como paradigma; representa um novo padrão de sociabilidade expressa através de uma nova cultura e de todo um processo ideológico de subordinação do proletário às múltiplas determinações da reprodução do capital.

O sistema capitalista desde as suas origens se deparou com a ocorrência de crises de várias dimensões. Da “Grande Depressão” na década de 1870, do Crash da Bolsa de New York em 1929, as grandes guerras, passando pela crise do petróleo nos anos 1970 e chegando à atual crise que lançou, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) cerca de 235 milhões de desempregados no mundo, em 2009, somando aos cerca de 730 milhões de seres humanos que vivem em condição de subemprego, com uma renda diária inferior a um dólar americano.

Da crise do Estado de Bem-Estar Social à superação do modelo fordista de acumulação dos anos 1970 para cá, o mundo capitalista se deparou com uma situação de crise estrutural. Com a crise, o capitalismo impôs um vigoroso processo de reestruturação produtiva, em termos dos países do capitalismo avançado a partir de inovações técnicas, organizacionais, financeiras e informacionais, no intuito de implantar um novo padrão de acumulação, o toyotismo, como estratégia para recuperar os níveis de produtividade, debelar tal crise e, por conseqüência, aumentar os índices de extração da mais-valia em escala global, bem como manter os pilares de vigência do sistema numa versão que foi e continua sendo denominada de neoliberal.

Tais inovações compõem o novo paradigma flexível. Esse padrão de acumulação caracteriza-se pelo conflito aberto com a rigidez do modo fordista de produção. A essência desse novo padrão está na flexibilidade dos processos e dos mercados de trabalho, bem como dos produtos e dos padrões de consumo. O trabalho é condenado ao total estranhamento levando os trabalhadores a oferecer a sua própria vida ativa às determinações e à incontrolabilidade do capital, isto não sem a irrupção de algum tipo de resistência. Para conformar essa nova realidade sócio-econômica, o neoliberalismo impôs ao longo destas duas últimas décadas um mix de desregulamentação do mercado de trabalho, desemprego estrutural, flexibilização, terceirização ou subcontratação, precarização, trabalho parcial, o banco de horas, a redução de salários e redução ou supressão de gastos e o desmonte dos direitos sociais previstos na Constituição de 1988.

Neste contexto, o capitalismo define as suas grandes classes sociais constitutivas e antagônicas, criando identidades a partir da posição de cada uma delas no processo de produção e extração da mais-valia. Para minar a resistência dos trabalhadores, o capital renova as formas de controle do processo de trabalho. Impõe a necessidade de que o proletário adote o ideário da empresa, devendo tê-la como o fim em si mesmo de sua própria existência social, numa demonstração cabal da influência dos métodos relacionados com o toyotismo, expressada na ideologia neoliberal, de apropriação do intelecto e manipulação da subjetividade da classe trabalhadora.

No decorrer de tais transformações na esfera da acumulação a classe trabalhadora é “rebatizada” em elemento de colaboração, a fim de identificar os interesses conflitantes e extinguir os antagonismos da relação capital-trabalho. Essa nova acumulação passou a ser chamada por alguns autores pós-modernos,
de “Semiocapitalismo”, ou seja, uma espécie de capitalismo semiótico (imaterial e cognitivo) que ocorre primordialmente no setor de serviços. O semiocapitalista, na realidade, é profundamente constituído por discursos verbais e não-verbais, cujo objetivo estratégico é utilizar o marketing no intuito de ampliar cada vez mais o processo da circulação e o consumismo, criando símbolos de um suposto mundo sem contradições. Instala-se uma “máquina de subjetivação capitalística” extremamente eficaz, na medida em articula forma e conteúdo, em discursos fáceis de ser assimilados, naturalizando e banalizando a ordem capitalista e seus valores essenciais, devidamente espalhados por toda a sociabilidade.

Nesse diapasão, o trabalho imaterial diz respeito ao trabalho intelectual ou lingüístico e a produção de idéias, símbolos, códigos, bem como produtos culturais, devidamente relacionados com o “trabalho afetivo”, que cria afetos, e sensações de bem-estar, comodidade, culminando na satisfação e excitação típicas do consumista pós-moderno. O trabalho imaterial leva à criação de uma espécie de adoração tangível pelos objetos do consumo, de uma “simpatia capitalizada, da amabilidade vulnerável, pelo Controle ‘criativo’ da dosagem de afetos e signos. Esses são os ‘novos recursos para o bom adestramento’” no dizer de Nery Atem.

Neste sentido, as atuais práticas do mundo empresarial, ao que parece, almejaram aquilo que a sociedade capitalista ainda não havia conseguido séculos após séculos: eliminaram as contradições entre os pólos do trabalho e do capital. Dal Rosso diz: “de contradição o trabalhador se transforma em elemento de colaboração”. Hoje, tanto em São Luís, no Brasil como em todo o mundo, parece ser prática comum das empresas rebatizarem seus “assalariados”, “operários” ou “empregados” de “colaboradores”, “parceiros” ou “associados”.

Devemos perguntar, então: quais são os desdobramentos desse “rebatizado” do proletariado? Podemos afirmar que os processos de alienação da classe operária foram diminuídos ou eliminados? Ou, de outra maneira, o simples rebatizado, por assim dizer, do “assalariado” ou “trabalhador” de “colaborador” ou “parceiro” provoca mesmo uma inversão concreta em sua consciência, na direção da superação das contradições capital-trabalho?

A respeito do processo de fragmentação e rebaixamento da identidade de classe do conjunto dos trabalhadores “podemos considerar que na medida em que a reengenharia empresarial exige que seus empregados acreditem plenamente que trabalham para seus clientes, e não para seus chefes, imaginar-se como trabalhador torna-se descontextualizado”; segundo assevera Rafael Seabra. Afinal, reconhecer-se na condição de proletário/operário acaba sendo um disparate e uma ofensa pessoal. Isto porque o “trabalhador”, tornado “parceiro”, “associado” ou “colaborador”, não mais trabalha, apenas sente-se obrigado – subjetivamente – em atender as demandas do seu cliente, principalmente aqueles que lhe são fiéis, que têm em suas mãos o cartão de fidelidade da empresa. Para Marx: “o trabalho não é, por isso, a satisfação de uma carência, mas somente um meio para satisfazer necessidades fora dele”.

Como desdobramento real desse perverso processo de alienação do trabalho, na medida em que se “inverte” a ideologia do direito de propriedade e se aprofunda a exploração do trabalho como uma dolorosa recordação histórica da vigência da mais-valia absoluta, desta feita combinada com a mais-valia relativa, as empresas impõem suas estratégias de lucro a partir da fixação de metas para os empregados, de remuneração flexível, prêmios e avaliação ininterruptas sobre o desempenho de cada um, sem dó nem piedade.

Conclui-se que as falsas promessas de uma objetiva e real “parceria” e “colaboração” não cabem no figurino e nas determinações da lógica da lei do valor e sua extração da mais-valia a partir do trabalho humano. Afinal, o trabalhador do setor de serviços ou de outros setores da economia, não são, via de regra, sócio nem proprietário das empresas onde trabalham e nem perderam a sua condição proletária do trabalho, haja vista que a personificação do trabalho como atitude individual não consiste de nenhuma maneira na identidade entre trabalho e capital.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

MARIA ARAGÃO NO FOGO CRUZADO DAS OLIGARQUIAS NO MARANHÃO*: comunismo e agitação política no contexto da *Greve de 51*

Na literatura especializada, os comunistas do PCB não aparecem como força política organizada no seio da política maranhense, fato esse que denota talvez um desconhecimento ou certo desinteresse dos estudiosos da política local, mas que deve merecer a atenção e o esforço acadêmico das novas gerações de pesquisadores. Efetuando um corte histórico para detectarmos a existência ou não de acontecimentos elucidativos da atividade política dos comunistas do Maranhão, podemos citar a participação da sua principal líder, a médica Maria Aragão no famoso comício realizado pelo “*Cavaleiro da Esperança*”, Luís Carlos Prestes, no estádio do Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 1945, após ter ficado oito anos preso incomunicável pelo regime fascista de Vargas. Com a posse de Dutra, os comunistas têm o seu partido legalizado, elegem alguns deputados federais e Prestes como senador. No entanto, o PCB não conseguiu resistir ao reacionarismo de Dutra e seu governo, o que culminou com a decretação da ilegalidade do partido em 07 de maio de 1947.
Em depoimento pessoal a este autor, Maria Aragão ressaltou o magnetismo pessoal de Prestes, que a encantou e juntamente com as suas convicções pessoais, a fez se dedicar à propagação dos ideais comunistas no Maranhão. Apesar dessa paixão revolucionária de Maria Aragão pelo PCB - partido que ainda expressava o universo da revolução brasileira neste contexto histórico do ingresso de Maria – sabe-se que o PCB, desde a sua fundação em 1922, já havia mudado sua estratégia e táticas políticas inúmeras vezes, e iniciava a implantação de uma nova linha a partir de 1º de agosto de 1950, com a publicação de um manifesto de Luís Carlos Prestes, linha política esta que ficou conhecida como “ultra-esquerdista”, no dizer do pesquisador brasilianista Ronald Chilcote.
Na rapidez do tempo histórico da revolução, contudo, ocorreu uma inflexão nessa linha política, pois segundo Chilcote, *“de fins de 1950 até o IV Congresso do partido, porém, o PCB se deslocou gradativamente de uma postura inicialmente militante e revolucionária para uma estratégia e um programa de reformas sociais moderadas e com objetivos a curto prazo”*. No âmago da contenda do importante embate político intra-oligárquico entre o *Vitorinismo* e as *Oposições Coligadas*, na luta pelas “*posições oficiais*”, neologismo para o controle dos aparatos estatais; os comunistas maranhenses encaminhavam as tarefas e as resoluções emanadas das instâncias do partido, atuando em acordo com a linha política decidida pelos órgãos diretivos do PCB. Participam através de um pequeno grupo, tendo a Dra. Maria Aragão, maranhense da gema e do Pindaré, como sua liderança maior.
A atuação dos comunistas foi o subterfúgio utilizado pelas autoridades para acusarem Maria de ter incendiado o TRE, tendo sido presa em face de tal acusação, sendo-lhe negado o *habeas-corpus* pelo Desembargador Eugênio de Lima, não ficando posteriormente nada provado da acusação que lhe fora assacada. A prisão de Maria Aragão no frêmito da *Greve de 51* insere-se nos marcos da pregação anticomunista levada a efeito pelas forças políticas atuantes nas facções rivais da oligarquia maranhense, as quais, num acordo tácito, não sofreram quaisquer punições por suas atitudes durante todo esse inesquecível movimento de massas. A tentativa dos comunistas maranhenses de dar vazão ao seu ideário político recebe como resposta dos grupos dominantes, uma posição preconceituosa e excludente, numa tentativa de restrição quase que total do espaço de atuação dos militantes do PCB.
Na verdade, os dois grupos políticos que se engalfinhavam na conjuntura de 1950/51, procuravam sempre acusar os adversários de terem se aliado aos comunistas, o que deveria merecer o repúdio de toda a sociedade e particularmente dos seus partidários mais diretos, como se os comunistas fossem uma espécie de praga ou doença que devesse ser rapidamente eliminada ou isolada. No “*Jornal do Povo*”, de 26/9/1951, por exemplo, o editor e jornalista, deputado estadual mais votado na eleição de 1950, Neiva Moreira, ainda enredado pelas tentativas de resolução daquela crise política, onde várias propostas estavam sendo apreciadas pelos contendores, não esconde de ninguém a sua aversão e o seu desdém aos comunistas maranhenses, ao afirmar que: *“Preferimos advertir o Ministro da Justiça sobre a exploração em moda em torno da situação maranhense, qual seja, o da infiltração comunista.
Em São Luís não há comunismo. A última estatística que nos veio às mãos dava notícia de dezoito militantes, contando com alguns visionários que não sabem mesmo o que são. Esse pequeno grupo não exerce sobre a massa a menor influência. A maioria é praticamente desconhecida e mesmo a marechala é mais popular pelas receitas do que mesmo pela didática marxista”*. O então deputado estadual Neiva Moreira se referia também ao episódio narrado pelo Jornal “*O Imparcial*”, edição de 3/3/1951: *“No momento em que se encerrava o comício de ontem à tarde na Praça João Lisboa, ocorreu um incidente imprevisto. A Dra. Maria Aragão, médica conterrânea e líder do P.C. no Maranhão, improvisou, no meio da praça, uma pregação de suas idéias e de combate aos norte-americanos.
Os líderes oposicionistas, percebendo a manobra, tocaram sirene, reunindo-se novamente o povo e reclamaram contra o desvirtuamento que se pretendia fazer da campanha contra a posse do Sr. Eugênio Barros.”* Esse registro histórico deve ser compreendido no contexto próprio em que o então deputado Neiva Moreira foi um dos principais líderes das Oposições Coligadas desde 1950 até a cassação de seu mandato de deputado federal pela cruenta ditadura militar que se abateu sobre os brasileiros, no dia 1º de abril de 1964. A “*caça às bruxas*”, ou melhor, aos comunistas, foi uma realidade não apenas na capital. No interior do estado, na cidade de Coroatá, segundo um trecho da Ata n.º 9, da sessão ordinária da diretoria da Associação Comercial do Maranhão, realizada no meio da paralisação em São Luís, no dia 8/3/1951: *“(...) o Presidente da Associação Comercial de Coroatá pede providências quanto ao pretenso desejo de elementos comunistas apoiados pelas Oposições coligadas de fechamento do comércio naquela cidade, declara que a reclamação em apreço ao Comandante da Décima Região Militar (...)”* Como se destacou aqui, os comunistas foram vítimas da intolerância política das facções oligárquicas no Maranhão dos anos 50, intolerância essa que não era privilégio apenas dos políticos, mas da maioria da população, açulada que era pela propaganda anticomunista oriunda da mídia da época. No entanto, deve ser destacada a postura da comunista Maria Aragão, mulher de fibra e luta que, apesar da pequena inserção de seu PCB na seara política do Maranhão, foi fiel ao seu compromisso com a revolução, da maneira como ela e o seu partido buscaram construí-la. O balanço do legado do *Partidão*já foi feito, resultando em outras formações partidárias, como se sabe.
O que é preciso concluir nesta contemporaneidade da política maranhense é que a memória de Maria não pode ser deturpada ou esvaziada de seu conteúdo histórico. Ou ainda que os conservadores com os quais ela travou memoráveis batalhas políticas, queiram nesta altura do campeonato roubar essa memória da luta permanente de Maria Aragão em favor do proletariado e da causa da revolução e transformá-la numa espécie de popstar como fizeram com o saudoso *Che Guevara*, ou algo parecido. Os que conviveram e lutaram junto com Maria não deixarão passar essa ignomínia. Maria merece respeito!

CAIO PRADO JÚNIOR E A REPUBLICANIZAÇÃO DO ESTADO: um projeto socialista para o Brasil é preciso

Após quinhentos e mais alguns anos de “história reconhecida”, descontados os cerca de 40 mil anos de história propriamente dita, de acordo com os achados arqueológicos da Serra das Capivaras, em São Raimundo Nonato, no vizinho Estado do Piauí, o Brasil ainda não se encontrou consigo mesmo.

Nestas ondas longas do tempo histórico, na verve braudeliana, nós, brasileiros, deveríamos aguçar nossa sensibilidade para as coisas de nosso país, para percebermos a existência de um verdadeiro “mal-estar”, de algo que incomoda aqueles que objetivam compreender a realidade histórica, a nossa formação social, as deformações congênitas que vêm sendo perpetuadas na construção desta grande nação tropical.

Para o economista e professor da Unicamp, Plínio de Arruda Sampaio Júnior, se for mantida a dependência do Brasil às determinações do capital internacional, como se viu ao longo de sua história, o país, por mais ufanismo que o governo possa alardear, poderá ser arrastado, novamente, nesta conjuntura em que persiste mais uma crise estrutural do capitalismo, mesmo que a mídia tente passar a idéia de que tal crise já passou. Na realidade, a crise se mantém com a ocorrência de novos desdobramentos a exemplo dos que foram noticiados nos últimos dias “Crise na Europa e incerteza nos EUA derrubam as bolsas”, “Queda das commodities intensifica perda no país” e, por fim, “BC reforça expectativa de que vai aumentar os juros”

Com a recorrência da crise, está em jogo a capacidade de liderança e transformação que a esquerda socialista autêntica que não se entregou às determinações do capital transnacional terá no que diz respeito a lançar as bases sólidas de um projeto socialista para o Brasil. Esse dilema histórico não é de hoje. Caio Prado Júnior, paulista de boa estirpe, mas com alma revolucionária, refletindo sobre o Brasil, algumas décadas atrás, já o assinalava e propunha a refundação da res publica na terra brasilis.

Ao proferir o seu grave juízo sobre o papel das elites dominantes na nossa formação econômica e social, Caio Prado as acusa de terem mantido intactas as “grandes e fundamentais questões que se propõem no Brasil desde longas datas”. Para este grande brasileiro, do equacionamento destas questões “depende a integração da nação brasileira nos níveis da civilização deste século em que vivemos”. Da essência do pensamento de Prado, destacamos a perspectiva da necessidade histórica de construção de um novo ciclo histórico, em que a construção da nação brasileira seja a garantia do atendimento dos direitos e das necessidades centenárias de seu povo.

O humanista e democrático Caio Prado, na sua condição de homem de letras, mas também de ação política militante, exigia uma Nação para os brasileiros, uma construção cívica, apoiada, no dizer do historiador Raimundo Santos, “no tripé formado pela força do trabalhador livre, da opinião pública e dos partidos”. O campo de luta em torno dos desígnios da República era percebido por Prado, que queria a sua “republicanização”, ou seja, a verdadeira constituição de uma esfera pública democrática e transparente em nosso país. Para superar a persistência das mazelas estruturantes da vida nacional, Caio Prado queria desencadear um processo civilizador, republicano e integrador do povo brasileiro.

Essa idéia de uma espécie de refundação do Brasil, “nos autoriza a pensar […] pela primeira vez, [que] os dominados estão fazendo história. O Brasil pode sair de um longo ciclo iniciado com a Revolução de 30, de uma “história passiva”, conduzida pelos blocos dominantes, para uma história ativa, em que os dominados dão uma marca muito forte na política do Estado”. Quem nos diz isso é Chico de Oliveira, luminar da Sociologia no Brasil, e que, enquanto durou o governo de FHC, manteve uma crítica profunda e pertinente às suas políticas desintegradoras do patrimônio nacional, da nossa soberania, do aumento da exclusão social a olhos vistos, do seu descompromisso com as grandes causas do povo brasileiro.

Chico de Oliveira quer nos mostrar que a refundação do Brasil, a constituição de uma efetiva res publica será realizada com sucesso na medida em que, de fato, os setores dominados da sociedade puderem expressar as suas marcas no cotidiano do governo, na implementação de políticas públicas de superação desse atraso centenário que teima em perseguir aqueles que não têm nem como reagir, dada a precariedade de suas vidas, completamente abandonadas pelo Estado.

Em face de tudo isso, devemos incluir o direito a uma espécie de reproclamação da república, de uma república democrática e livre, onde o espaço público da política seja plenamente exercido por toda a cidadania ativa no dizer do jovem Karl Marx, não apenas pelos endinheirados e seu poder econômico que maculam a vontade soberana do povo, a exemplo dos corrompidos processos eleitorais burgueses que mistificam e manipulam as consciências das massas.

Nestes termos, a esquerda socialista autêntica que lidera o processo de reconstrução da luta política e dos novos instrumentos da reorganização do movimento social em nosso país após a débâcle do mensaleiro e sanguessuga PT e de seus satélites, deve enfrentar o desafio histórico apresentando um projeto socialista para o Brasil, trazendo para o seu lado as massas espoliadas e os lutadores sociais que mantêm sua utopia de uma sociedade igualitária e democrática.

O LICEU MARANHENSE: resquícios da escola pública de qualidade na memória coletiva

Para alguns, a modernidade capitalista transformou o homem em um ser insensível e sem memória, levando à destruição de valores concretos. Para outros, a sociedade moderna deve se contrapor a isso, revalorizando a tradição, para transmitir e preservar a memória, o passado. Afinal, manter viva a memória de um povo, é dar sentido e significado à sua existência, é uma forma de guardar a tradição, incentivando a lembrança do passado através da narração e da experiência do cotidiano social.
A lembrança está relacionada a elementos subjetivos da relação da pessoa com a família, com a classe social a que pertence, com a escola. Na maioria das vezes lembrar não é apenas reviver, mas, acima de tudo, refazer, reconstruir, repensar com imagens e representações de hoje as experiências vivenciadas no passado e tentar dialogar com o presente.

O Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense” fundado em 1838, pelo presidente da província Vicente Tomaz Pires de Figueiredo Camargo é um exemplo dessa memória da boa escola pública. O “Liceu” se constituiu, ao longo da história, como a principal referência de qualidade do ensino para a sociedade, local de encontro de inúmeras gerações de personalidades que se notabilizaram na cena social, política, econômica e cultural não apenas do Maranhão, mas também da nação brasileira, a exemplo do poeta Sousândrade, dos escritores Aluísio Azevedo e Josué Montello, do geógrafo e escritor Antonio Lopes, do professor e historiador Jerônimo de Viveiros, do professor Nascimento Moraes, do professor Luiz Viana, do escritor Herbert Santos, da professora e historiadora Lourdinha Lauande. Deve ser ressaltado que ao longo de sua história, o Liceu Maranhense foi um centro fundamental na formação de várias personalidades integrantes das famílias que detém o poder econômico e político no Estado, como é caso de José Sarney, chefe da longeva facção oligárquica que leva o seu nome e outros a exemplo do ex-senador Clodomir Cardoso.

Num contraponto ao imaginário social da escola pública de qualidade localizada no passado, nos recônditos da memória, o Liceu Maranhense viveu, a partir de meados da década de 1960, um forte crescimento em termos de matrícula em decorrência do processo de massificação do ensino, com a entrada dos setores excluídos da sociedade.

Neste processo os governos vinculados à Ditadura Militar e na órbita do sarneísmo levaram a escola pública ao sucateamento e perda de qualidade, refletido na falta de material didático, bibliotecas, democracia, salários dignos aos professores, dentre outras deficiências institucionais, gerando, por conseguinte, elevadas taxas de repetência e de evasão da escola, no quadro geral de péssimos indicadores educacionais que teimam em macular essa história guardada nos labirintos da memória individual e coletiva de nossa terra.
A centralidade do Liceu Maranhense no conjunto da educação ao longo das últimas décadas se coaduna com o processo político criado no seio da sociedade brasileira no sentido de cobrar do Estado a democratização do ensino, na perspectiva de que todos venham a ter o direito assegurado a uma escola pública de boa qualidade, direito este assegurado na Constituição do país.
A guarda dessa memória individual da escola pública de qualidade é sempre formada no coletivo, ou seja, no contato com a sociedade de convívio dos indivíduos, com suas tradições. A partir dos estudos sobre a memória individual e coletiva e através da história oral, pode-se analisar esta realidade, reconstruindo a memória do “Liceu”, “velha e boa” escola pública, lugar de conhecimento e formação das elites dirigentes do Maranhão e que ainda hoje faz questão de guardar e tentar manter este status.
Neste caso concreto que se refere ao à história e memória do Liceu Maranhense, a oralidade nos estudos históricos nos leva a obter informações e análises partindo de fontes novas; por isso a oralidade se torna um espaço de contato e influências interdisciplinares e oferece interpretações qualitativas de processos histórico-sociais. O recurso da oralidade para o conhecimento das vivências dos ex-alunos do Liceu Maranhense tem possibilitado que estes personagens da história da educação transmitam seus modos de ver o mundo e a sua história pessoal e a permanência da memória da escola pública de qualidade no contexto de sua formação cultural e ética e nos desdobramentos que tal formação teve para a própria sociedade.
Na reiterada menção ao papel histórico que o Liceu Maranhense cumpriu nestes 170 anos, observamos que a simbologia e a memória da antiga escola pública levam em conta os processos de luta desenvolvidos pelos educadores vinculados à renovação política do magistério com perfil combativo nas últimas décadas do século XX a partir de movimentos de base a exemplo do Movimento de Oposição na Educação Pública do Maranhão (MOSEP) e, mais recentemente, do Movimento de Resistência dos Professores na pressão permanente sobre o governo estadual, hoje nas mãos de Roseana Sarney, cuja ação política em seus governos sempre foi nefasta para a educação pública.

Para que a educação pública saia da situação de abandono e descaso em que se encontra, com péssimos indicadores educacionais, é preciso conectar a memória social oriunda dos professores, diretores, funcionários e alunos do Liceu Maranhense e do conjunto das escolas estaduais e municipais à luta pela construção de uma escola pública democrática e de qualidade social, capaz de oferecer o melhor de si para os maranhenses e seus filhos.