quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO: Aliança Democrática, Sarney, Cafeteira e o PMDB

À guisa de um Prefácio.

Localizei as informações contidas no email abaixo que registram um diálogo democrático entre a deputada estadual Helena Heluy e o falecido e reconhecido jornalista político Walter Rodrigues a respeito da memória política no Maranhão que se referem às posições políticas do PMDB no contexto do crepúsculo da ditadura militar e o alvorecer da redemocratização com a criação da famosa Aliança Democrática e todos os fatos históricos, no plano nacional, vinculados à eleição e morte de Tancredo Neves, a subida de José Sarney ao cargo de presidente da república e, os desdobramentos regionais com a eleição de Cafeteira ao governo tendo o famoso Carcará (João Alberto) como seu vice.
Para mim, o texto-diálogo acima aludido se articula com o texto que lancei neste blog com o título “NUNES FREIRE ENFRENTA O SARNEÍSMO: tensões políticas e rivalidades no âmago das facções da Oligarquia”. A minha intenção fora narrar alguns fatos políticos que estão circunscritos no contexto informado pela deputada e pelo jornalista.
A idéia que tenho é no sentido de fazer um esforço acadêmico de buscar as fontes que poderão nos ajudar a fazer um grande painel histórico dos conflitos intra-oligárquicos no Maranhão e os seus desdobramentos em termos da natureza da governança no estado que se notabilizou e continua se notabilizando pela corrupção, patrimonialismo, clientelismo, empreguismo, etc. como forma de dominação política das diversas facções da Oligarquia.
O debate continua!

INÍCIO DO TEXTO-DIÁLOGO
Quinta-feira, 2 de outubro de 2008
História: o PMDB-MA de 1985
Um emeio da deputada Helena Heluy encaminhado ao blogue no último dia 22 escondeu-se entre outras mensagens e somente agora foi localizado. Ei-lo, antes tarde do que nunca:

“Caro Walter,
A propósito de algumas considerações emitidas em seu blog, permito-me mais uns breves esclarecimentos, a bem da história:
Em 1986, a coligação em torno da candidatura de Cafeteira ao governo do Estado foi apenas entre PMDB, PFL e PTB. O professor Wagner Cabral registra muito bem aquele instante político-eleitoral maranhense, à fl. 16 de seu trabalho intitulado Do ‘Maranhão Novo’ ao ‘Novo Tempo’: a trajetória da oligarquia Sarney no Maranhão, cuja fonte indicada é o TRE-MA. Por isso, não tive dúvidas e nem obstáculos para votar em Delta Martins, embora eu fosse candidata pelo PDT a deputada federal.
Como você bem lembrou no dia 18 último, ingressei, em 1985, no PMDB, “na época o maior partido de oposição ao sarneísmo” (citação sua), no que concordo, também. O PMDB tinha uma aguerrida bancada de deputados estaduais (ressalto, nela, Haroldo Sabóia, Gervásio Santos e Conceição Mota. Lamento se incorrer em algum lapso, no destaque). Havia, efetivamente, um descompasso entre o PMDB daqui e o nacional, naquele pleito, tanto que nem Ulysses Guimarães e nem Renato Archer vieram aqui, por ocasião da campanha, embora esperássemos por isso até o final.
A Convenção do PMDB municipal de são Luís, em 1985, realmente, foi memorável com a vitória do grupo de Haroldo: “PMDB – oposição pra valer.”
O convite que me foi formulado para compor a chapa majoritária, naquela eleição, aconteceu muito antes da Convenção.
A ida de Haroldo Sabóia até o presidente Sarney, numa visita rápida e protocolar, foi já no curso da campanha, no mês de agosto. Já estávamos em plena campanha. Não o acompanhei.
Essa minha ausência à mencionada visita faz parte das minhas saudáveis rebeldias, apesar do esforço e desejo do deputado Cid Carvalho (que eu os acompanhasse) e, também, do comandante Renato Archer – em quem votei, em 1965, para governador, integrando a Grande Marcha, em oposição à candidatura de José Sarney.
Por enquanto, é só. Sem ter a pretensão de polemizar, continuo à disposição para os esclarecimentos que se fizerem necessários sobre os fatos dos quais participei ou, simplesmente, vi.
Cordialmente, Helena.

WALTER RODRIGUES — Agradeço pelos oportunos esclarecimentos, aos quais acrescento minhas próprias memórias e ressalvas:
De fato a coligação pró-Cafeteira em 86 reuniu apenas os partidos citados, mas também é fato que, não tendo lançado candidato formal ao Governo, o PDT em geral fazia a campanha de Cafeteira. Tanto assim que o líder Jackson Lago, que viria a ser secretário de Saúde de Cafeteira, chegou a dividir palanque com Sarney Filho, cujo PFL estava coligado ao PMDB de Cafeteira.
Helena, por exceção, e sem transgredir a fidelidade partidária, votou em Delta Martins, candidata a governador pelo PT, bem como em Neiva Moreira (PDT) para senador. Sendo de registrar que Neiva também dobrava com Cafeteira, além de favorecer nos bastidores a coexistência pacífica entre Jackson e Sarney.
Um ano antes, em 1985, houvera de fato um certo “descompasso” entre o PMDB nacional e o do Maranhão. Mas o que quis assinalar anteriormente — e ninguém haverá de desmentir — é que Haroldo e Cid Carvalho negociaram uma coligação com o PFL na eleição municipal de 1985. A conversa empacou quando Haroldo propôs que Sarney Filho “inventasse uma viagem” e ficasse fora da campanha, para não constranger os eleitores que talvez não apreciassem vê-los juntos.
Cid Carvalho e Sérgio Braga, seu amigo íntimo e correligionário, contaram-me em detalhes esses fatos e também a visita que Cid e Haroldo fizeram a Sarney no Palácio do Planalto. Se não foi antes e sim no meio da campanha — como agora Helena, vice na chapa de Haroldo, me faz lembrar — isso prova que os entendimentos de algum modo prosseguiam.
A visita pode ter sido “rápida”, porém não dá para classificá-la de “protocolar”. Que protocolo exige que um candidato interrompa a campanha para apresentar-se ao presidente da República, ainda mais suposto adversário?
O significado político daquela audiência nada protocolar é absolutamente indiscutível, e acentuado pelo fato de que Helena, a quem nenhum protocolo impedia de comparecer, preferiu atender aos impulsos de uma saudável rebeldia...
A frase de Cid, já citada por mim anteriormente, é mais do que transparente: “Presidente, aqui está o PMDB que lhe convém, um PMDB erecto...”
Quanto à referência ao PMDB maranhense de 1985 como “o maior partido de oposição ao sarneísmo”, a frase é da própria Helena, em discurso feito no recente setembro na Assembléia. Citei-a criticamente em matéria deste blogue em 20/9, exatamente para recuperar as ambiguidades e contradições da época, nem sempre decorrentes de oportunismo ou qualquer interesse censurável dos políticos peemedebistas, mas sim da complicada conjuntura —redemocratização do país sob a liderança de ex-presidente do partido da ditadura.
Mais de 20 anos depois, cada qual analise e julgue como quiser, desde que preserve os fatos básicos:
— Sarney, presidente da República, pertencia ao PMDB.
— Os principais líderes do PMDB-MA, Cafeteira, Renato Archer e Cid Carvalho, aqueles que davam o tom do partido, solaridarizavam-se com o governo federal civil, instaurado após 20 anos de ditadura militar.
— A seção municipal de São Luís preservava muito do anti-sarneísmo tradicional. Mas Cid e Haroldo, em 1985, negociaram secretamente a reprodução municipal da “Aliança Democrática” PMDB-PFL que elegera Tancredo e Sarney no colégio eleitoral. Não deu certo, mas eles continuaram buscando um entendimento mesmo depois de iniciada a campanha.
— O inimigo comum na eleição de São Luís, convém recordar, era Gardênia, mulher de João Castelo, candidata do PDS de Paulo Maluf.
Se Haroldo ultrapassasse Jaime Santana (PFL), candidato de Sarney, está claro que teria o apoio aberto ou dissimulado dos sarneístas contra Gardênia. Pode-se dizer o mesmo e ainda com mais razão de Jackson (PDT), que disputava a eleição com apoio de Cafeteira. Acontece que Jaime ficou em 2o lugar até o fim, com Gardênia em primeiro, Jackson em terceiro e Haroldo em quarto.
É louvável que a deputada Helena Heluy, ao contrário da maioria de nossos políticos, cultive o hábito de reconstituir e polemizar a história dos últimos 30 anos, ou mais. No que me concerne, a conversa nunca tem fim.
FIM DO TEXTO-DIÁLOGO

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