domingo, 19 de dezembro de 2010

DROPS DE FATOS DA “GREVE DE 51”: bambas da imprensa nacional cobrem o conflito político na Ilha Rebelde

Meus camaradas, a “Greve de 51” foi descoberta por mim ao ler, no início dos anos 90, o livro do jornalista-historiador Benedito Buzar, que havia sido publicado em 1982. Desde o primeiro período no curso de História Licenciatura (UFMA) fiquei literalmente fascinado por esse grande evento histórico de nossa Ilha Rebelde.
Numa perspectiva teórico-metodológica diferenciada do trabalho pioneiro e importante de Buzar, corri atrás de fontes que pudessem mostrar-me um contexto sócio-político e cultural de nossa capital ludovicense e a materialidade das coisas que havia: economia, educação, classes sociais e demais feições mostradas pela cidade.
Fiz uma primeira narrativa quando colei grau em abril de 1997, após defender a monografia intitulada provocadamente “Greve de 51: mito ou realidade?”. Ao ingressar no mestrado em 1999 (UFPE), em conjunto com outros colegas historiadores, ampliei a abordagem que havia feito na graduação e trabalhei com vários e diversificados aspectos a seguir: a história oral a partir de depoimentos de pessoas que vivenciaram a greve, as contradições da luta entre as facções oligárquicas do Maranhão pelo butim do aparelho estatal, o papel da imprensa, dentre tantos outros.
No caso da cobertura que a imprensa local, nacional e internacional fez da “Greve de 51” localizei na Biblioteca Nacional (RJ) e me saciei de informações dos grandes jornais brasileiros que cobriram o conflito desde o seu nascedouro no dia 28 de fevereiro de 1951 até o seu epílogo, no dia 6 de outubro de 1951, com a derrota política das “Oposições Coligadas” e a vitória do vitorinismo como facção oligárquica dominante naquele momento através da consolidação do governador Eugênio Barros no exercício da sua função mandatária.
Portanto, decidi que poderia ser interessante que o grande público pudesse ter acesso a documentos históricos alusivos a essa verdadeira batalha que foi a “Greve de 51”. Espero que apreciem a leitura ipsis litteris e se quiserem, vamos ao debate sobre nossa história!
O artigo abaixo transcrito é de autoria do célebre jornalista político brasileiro e parlamentar, Doutel de Andrade e narra a derrota dos oposicionistas daquela época. Fique à vontade!

"MELANCÓLICO EPÍLOGO DA “REVOLUÇÃO” NO MARANHÃO
Escreveu Doutel de Andrade
(enviado especial dos “Diários Associados”)

S. LUIZ, 9 – Para o repórter que aqui veio na certeza de que assistiria acontecimentos extraordinários, nada mais resta, senão adquirir, melancolicamente, passagem de volta, no próximo avião. A cidade retornou inteiramente ao seu ritmo normal de vida e até mesmo a política voltou à sua rotina, com os partidos disputando cargos através dos velhos processos, utilizados no país inteiro. Somente o PSP está disposto a firmar, já esta tarde, em reunião do seu diretório local, uma linha de oposição ao governo.
A sensação de frustração que domina o repórter, ocorre também aos demais jornalistas, inclusive os norte-americanos que aqui chegaram na expectativa de acontecimentos verdadeiramente inéditos. Mas a verdade é que a revolução maranhense não passou, mesmo, de um tremendo “bluff”.
Com o Sr. Eugênio Barros perfeitamente senhor da situação, o único fato político de evidência no momento, diz respeito à prisão da leader comunista Maria José Aragão. Tendo o Tribunal de Justiça negado “habeas-corpus” impetrado a seu favor, a médica agitadora permanecerá presa, respondendo a processo, não estando ainda confirmada a sua libertação. Afora isso, os deputados oposicionistas, que ultimamente só compareciam à Assembléia Legislativa para receber os subsídios, retornaram ao trabalho, com exceção do Sr. Neiva Moreira. Fogem, porém, aos debates sobre os acontecimentos, temerosos das críticas que lhes estão reservadas pelos situacionistas. Mais alguns dias e gregos e troianos estarão confraternizando, na Sala do Café, para maior decepção do povo.
Os dirigentes da fracassada tentativa de sublevação do povo maranhense tratam agora de salvar a pele enviando emissários ao governador, com protestos tardios de solidariedade. Demonstrando grande superioridade moral, o governador declarou que não pretende mover contra eles quaisquer sanções. Até mesmo Raimundo Bastos, chefe do caricato “Exército da Salvação”, e que ora se encontra no Rio, acaba de dirigir-se, por intermédio de um amigo, ao Sr. Eugênio Barros, a fim de saber da sua situação. O Sr. Eugênio Barros respondeu que nada havia contra ele, acrescentando que o “revolucionário” poderia continuar percebendo, tranqüilamente, os seus vencimentos, como sinecurista da Prefeitura. E assim se acaba a história da “guerra” maranhense, que afinal só serviu para mostrar a debilidade dos chefes das oposições coligadas".

Publicada em “O Jornal” – Rio de Janeiro, 10/10/1951. In: SIQUEIRA, Newton Pessoa de. Força da Lei e do Dever. São Luís: [s.n.], 1952

Nenhum comentário:

Postar um comentário