A cidade-capital São Luís do Maranhão tem - como não poderia deixar de ser - suas próprias características e manias de se viver. Uma delas, que corre pelo senso comum é representada pelo epíteto “cidade do já teve”, numa referência direta a uma espécie de “cultura” ou permanência que acaba levando inúmeros empreendimentos econômicos e culturais em geral ao descaso, à decadência e ao desprestígio por parte de importantes segmentos da sociedade.
Afinal, quem não se lembra do glamour dos cinemas (Passeio, Roxy, Eden, Tropical, Colossal), dos bares de antigamente (Moto Bar, etc.), das casas de espetáculo e outras variadas atrações culturais que já existiram na Ilha Rebelde e muitas delas feneceram, reforçando esse mito da “cidade do já teve”, tal qual se possa comparar com uma destas nossas lendas que serpenteiam por debaixo dos labirintos que existem no subsolo da nossa Ilha quatrocentenária.
No intuito de demonstrar a validade de tal lenda e de seu mito revelado, observamos que o Box Cinemas, ao que parece, está padecendo do carma da “cidade do já teve”, senão vejamos: para aqueles de boa memória e cinéfilos de carteirinha, a vinda do empreendimento localizado nas dependências do Shopping São Luís, apesar dos preços caros cobrados na bilheteria e no balcão da pipoca e do refrigerante, rapidamente se legitimou e encantou os ludovicenses com as suas instalações modernas, som dolby stereo, funcionários treinados e simpáticos, gerentes prestativos para consagrar a modernidade cinéfila em nossa Upaon-Açu.
Esta grande novidade foi lançada nos idos de 2003 e conquistou a cidade, arrebatando dinheiro à beça que foram redirecionados para engordar os caixas de seus proprietários. Isto ocorreu no mesmo momento em que o Colossal Cinema aprofundou o processo difícil e doloroso de esvaziamento de seu cativo público, provocado por uma nova geografia econômica em que o Colossal se mostrou incapaz de enfrentar a concorrência da novidade Box Cinema, inclusive por seus próprios erros.
Quem não haverá de se lembrar das salas do Colossal onde não mais funcionavam os aparelhos de ar-condicionado, a péssima qualidade das películas, o total desrespeito com as determinações do Código do Consumidor, levando o cinema a uma queda drástica no atendimento ao público, que virou alvo de todo tipo de descaso e incompetência gerencial, levando parte da população a se revoltar e migrar rapidamente para o Box Cinemas?
A verdade é que “rei morto, rei posto”, como nos assevera o ditado popular. Muito rapidamente o Colossal Cinema definhou e acabou aumentando a mortandade dos empreendimentos econômicos e culturais de nossa cidade “patrimônio cultural da humanidade”. Por conseguinte, um novo “rei” cinematográfico foi coroado: O Box Cinemas.
No entanto, talvez fruto dos processos de monopolização da atividade econômica, o Box Cinemas não rezou a cartilha direito e acabou – paulatinamente – repetindo os mesmos erros do Cinema Colossal.
Ressalte-se que o verdadeiro primor que eram as instalações e o atendimento desse novo empreendimento começaram a decair, com inúmeras reclamações do seu público usuário. Por vários momentos, em dias de grande movimentação, a população tem sido obrigada a esperar demasiadamente pela boa vontade e esforço de um ou dois funcionários nas bilheterias do cinema.
Como se não bastasse, por diversas vezes, aparelhos de ar-condicionado sem funcionar, além de ocorrência de vários problemas técnicos com as películas e outros equipamentos.
Acaso o senso comum prevaleça e sem a necessidade de aprofundar essa realidade aqui demonstrada, é de bom tom que a direção do Box Cinemas fique de olhos bem abertos para não repetir o mito da “cidade do já teve”.
Afinal, a partir deste ano (2010), o Box terá que enfrentar a sua primeira concorrência de peso e uma relativa queda do seu monopólio, a partir do lançamento do Shopping Rio Anil que promete instalar seis salas de cinema em mais um templo de consumo na cidade. Como se não bastasse, no contexto dessa expansão do consumismo na capital maranhense, também será lançado em 2011 o Shopping da Ilha com a promessa de lançar oito salas de cinema.
A população não merece mais conviver com esse epíteto severo que tem nos tirado boas atrações e lugares da cultura popular de nosso convívio. No caso do cinema, como o Box continua a fazer pouco caso dos seus clientes e teima em repetir o Colossal naquilo que foi desastroso em sua existência, é bom que seus proprietários mudem de postura. É certo que os blockbusters hollyoodianos são os atrativos principais do Box. Os novos cinemas que serão instalados devem repetir esse mesmo tipo de mercadoria e hegemonia cultural ianque. Na contramão dessa oferta praticamente única, temos o Cine Praia Grande, que, apesar de todas as dificuldades e falta de apoio, mantém a coerência oferecendo filmes de qualidade, representativos da pluralidade cultural que viceja em nossa cidade patrimônio da humanidade. Na realidade, os milhares de amantes do cinema que vivem por aqui querem mesmo é qualidade e respeito aos seus direitos de consumidores e aficcionados pela sétima arte.
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