Um ano depois, vale a pena relembrar e avaliar as diversas contradições relacionadas à visita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez na nossa Ilha rebelde, centro do poder político e econômico do Maranhão. Como todos devem lembrar o então governador Jackson Lago [antes da sua deposição pelo STF] convidou Chávez para conhecer São Luís e formalizar convênios e parcerias com o polêmico líder venezuelano.
Preliminarmente, deve ser considerado o comportamento histriônico adotado na cobertura midiática oriunda das facções oligárquicas ora em combate no Maranhão. Parecia um Fla-Flu, em dia de Maracanã lotado: de um lado, a cobertura do Sistema Mirante, fulanizando a vinda do presidente venezuelano a São Luís e o "envolvendo" nas lutas paroquiais da política maranhense.
Como se não bastasse, o Sistema Mirante com um discurso pra lá de conservador e reacionário, transformou a vinda de Hugo Chávez em mais um round da "briga" entre o venezuelano e o criador e patrono do Sistema Mirante, o senador amapaense, José Sarney. Naquele contexto, o ex-presidente biônico tem ocupado espaços importantes da mídia nacional e regional para acusar Chávez, dentre outras, de responsável pelo aumento desmedido do belicismo em solo latino-americano.
Na outra ponta de lança desse disputado Fla-Flu destacava-se a mídia então dita governista que, impoluta, escondeu debaixo do tapete suas convicções ideológicas igualmente conservadoras e reacionárias e pôs-se a elogiar (tá no contrato) a atitude do então governador Jackson Lago ao trazer para nosso estado uma liderança política do porte de Chávez.
O inusitado é que o convite para a vinda de Chávez ao Brasil partiu do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, movimento que tem sido permanentemente desqualificado tanto pelo Sistema Mirante quanto pela mídia jackista, no aprofundamento do processo de criminalização dos movimentos sociais no Maranhão e no Brasil.
No que diz respeito ao mérito da visita, em termos de resultados concretos, ao que parece, a visita de Chávez não garantiu maiores apoios ou ajuda para o governo maranhense, restando apenas algumas declarações do governador de ajuda na área de saúde e educação, sem maiores desdobramentos.
O governador Jackson Lago pautou, publicamente, junto à Chávez a necessidade que o estado do Maranhão tem da instalação de uma refinaria, mas, em contrapartida, o presidente venezuelano refutou e jogou essa definição para uma conversa mais amiúde com o seu colega Lula.
O interessante é que após a visita de Chávez a mídia miranteana alardeou pelos quatro cantos do Maranhão que o presidente Lula tinha acatado um pedido do chefe da facção sarneísta, o próprio José Sarney, de que instalaria em solo maranhense uma refinaria da Petrobrás, inclusive relacionando esta promessa lulista à descoberta de campos de petróleo na região de Barreirinhas.
Passados todos estes meses, a conclusão que podemos ter sobre visita tão polêmica é que, no limite, o presidente Hugo Chávez conheceu nossa terrinha (não se sabe se ele tomou uma tiquira), afagou o "bolivarismo" dos nossos decaídos esquerdistas maranhenses do PDT, do PT, do PSB, do PCB, do PCdoB, dando-lhes um pouco de alento "revolucionário" para continuarem suas vidas de assessores palacianos, secretários, adjuntos e aspones do governo oligárquico-tucano do pedreirense Jackson Lago et caterva.
Passado este ano, percebe-se que as determinações do processo histórico no Maranhão sofreram mudanças no que diz respeito à personificação do poder político no Maranhão após o chamado “golpe judicial” que derrubou Jackson Lago do governo e recolocou Roseana Sarney na cadeira principal do Palácio dos Leões.
Conclui-se que a mídia maranhense deixou claro nesse episódio a sua vinculação ideológica e pragmática com o poder estabelecido, na forma em que a mídia denominada governista cobriu acriticamente a visita do líder venezuelano e, por outro lado, todo o reacionarismo e histrionismo adotados na cobertura do complexo Mirante na abordagem feita à presença de Chávez em São Luís aprofundando a distância que tais meios de comunicação ainda preservam dos princípios defendidos pela sociedade civil, qual seja, a comunicação como um direito social e não como aparelhos ideológicos de legitimação do poder e mistificação da realidade.
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