O desafio da esquerda socialista brasileira, de construir um projeto de nação para o Brasil deve estar atento também ao diagnóstico professado pelo grande revolucionário intelectual e militante Florestan Fernandes.
Para Florestan “as sociedades capitalistas com extremas desigualdades econômicas, sociais, culturais, raciais, políticas e regionais enfrentam problemas e dilemas históricos de difícil solução. Se as elites das classes dominantes forem muito egoístas e praticarem, em associação com as nações capitalistas hegemônicas, formas de espoliação e exploração sistemática dos sem classe, das classes trabalhadoras e das ralas classes médias impotentes, a violência e a contraviolência instauram-se de modo aberto ou oculto no estilo normal de vida”.
Afinal, para este brasileiro filho de imigrantes portugueses, que começou a trabalhar aos seis e aos nove anos, já recebia o equivalente a um adulto, que estudou no antigo Curso Madureza, ele está falando do Brasil, do país e do seu povo que ele conheceu e estudou como poucos.
Florestan Fernandes, ao compreender, com profundidade as mazelas da formação histórica brasileira considera a incapacidade das elites em realizar a sua própria “revolução” quando diz que “no Brasil e na América Latina, a revolução burguesa foi interrompida em níveis precoces, favorecendo a coexistência do arcaico, do moderno e do ultramoderno” com todas as conseqüências advindas das profundas assimetrias impostas pelo capitalismo oligárquico e predador, subordinado completamente aos ditames do imperialismo.
Assim, a formação tardia do Estado-Nação em solo pátrio, não se completou, se fez de maneira completamente deformada, com um liberalismo às avessas, pela metade, pois a “a ordem legal está em contradição com a ordem social. Esse é o fator crucial. Se o equilíbrio instável entre ambas não proceder de cima, ele terá de impor-se de baixo para cima”.
Para o grande mestre Florestan, “os privilegiados da terra não poderão usufruir para sempre de certas vantagens pré e subcapitalistas e chegou o momento de uma escolha: ou eles toleram reformas e revoluções inerentes ao capitalismo ou eles regredirão a uma posição neocolonial na era dos monopólios gigantes e de seu tipo de imperialismo conquistador”.
Para o ex-deputado constituinte Florestan Fernandes, a saída para esse descompasso está na organização autônoma e consciente dos setores explorados. Na possibilidade de se constituírem em sujeitos da história. Para ele, a alternativa “procederá de uma rebelião popular incontrolável. O povo deixou de ser o espectador surdo, mudo e manietado.”
Esta rebelião a que alude Florestan, necessariamente poderá não ser uma guerrilha armada, mas poderá, nos termos hodiernos, vir a ser essa capacidade da esquerda autêntica de construir um projeto socialista e classista para superar o capitalismo. É preciso libertar a classe trabalhadora de algumas amarras e controles ideológicos para declarar em alto e bom som a sua vontade de mudanças e rupturas estruturais, que a seu juízo devem ser conduzidas pelos “de baixo”.
Tais amarras estão hoje consubstanciadas no transformismo, no possibilismo, no populismo reacionário ao gosto do grande capital, capital este que nunca na história do Brasil explorou tanto, lucrou tanto como na Era de Luis Inácio (Lula), o verdadeiro Calabar da classe trabalhadora de nosso país.
O desafio, portanto, é aglutinar os setores revolucionários do proletariado brasileiro em torno de um projeto comum e classista, nos moldes de uma construção mais efetiva no seio da luta de classes deste imenso país, de modo que a classe trabalhadora, em suas múltiplas facetas e atitudes, avance na consciência de classe e se prepare para a construção do socialismo desde já.
Nenhum comentário:
Postar um comentário