Quando fiz o meu primeiro Blog, me sentia que estava levando
O partido do do Governo de Dino.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
AMOR, PAIXÃO E TRAIÇÃO NA FAMÍLIA ITALIANA: o cinema como espelho da alma moderna
Meus amigos, o cinema apaixona e nos enlaça em enredos de toda sorte os quais nos levam a sentimentos díspares, do choro clássico ao agarradinho do cinema como um testemunho de um casal enamorado e ansioso.
Hoje, destaco a genialidade e a singularidade de Ingmar Bergman e do rol de filmes que lançou e o notabilizou com a alcunha de “cineasta da alma”, em face de sua sensibilidade aguçada e a capacidade de representar os dramas da humanidade em suas mais diversas facetas.
Essa característica de Bergman foi assinalada em seu livro “Imagens”, obra autobiográfica lançada no ano de 1993 no qual Bergman, do alto de sua coerência fílmica afirmou que “fazer filmes é mergulhar até as mais profundas raízes, até o mundo da infância”.
De maneira singela e despretensiosa, ofereço-lhes a dica cinematográfica da película italiana denominada “Ricordati di me”, rebatizada de “No Limite das Emoções” na versão portuguesa. O filme foi produzido pela Itália, França e Reino Unido, sob a direção de Gabriele Muccino. Lançado em 2003, o drama moderno tem em seu elenco os atores Fabrizio Bentivoglio, Laura Morante e Mônica Belucci, estonteante no papel de Alessia, ex-namorada na juventude e amante apaixonada de Carlo no meio da crise conjugal e existencial da família.
O filme é muito interessante e representa a realidade da sociedade italiana moderna a partir do enredo que expressa diversas crises na família de Carlo, Giulia, Valentina e Paolo e os limites éticos e morais que se apresentam para essa família e os desafios que cada um deles deve superar para garantir os seus interesses individuais.
Giulia representa aquela mulher européia moderna de meia idade que, no cerne de uma crise afetiva, vê sua sexualidade reprimida e procura um novo rumo para a sua vida, ao fazer um curso de teatro paralelo ao exercício do magistério.
Os dois filhos de Carlo e Giulia, Valentina e Paolo correm atrás de seus desejos e interesses pessoais; quer seja participar de um programa televisivo e se tornar uma estrela no caso de Valentina ou, aos 19 anos, seduzir e conquistas uma colega para iniciar sua vida sexual, no caso de Paolo.
Meus caros, assistir essa película vale a pena até pela abordagem universal feita pelo diretor, que pode ser uma espécie de espelho da alma européia, latino-americana e muitos outros rincões pelo mundo afora.
Por fim, “Ricordati di me” mostra o lado emotivo e passional dos italianos e a força de seu idioma e de sua cultura.
Meus caros, ao assistir esse filme, quem sabe, você poderá se perceber dentro dessa trama moderna, dramática e divertida ao mesmo tempo.
Arrivederci!
Hoje, destaco a genialidade e a singularidade de Ingmar Bergman e do rol de filmes que lançou e o notabilizou com a alcunha de “cineasta da alma”, em face de sua sensibilidade aguçada e a capacidade de representar os dramas da humanidade em suas mais diversas facetas.
Essa característica de Bergman foi assinalada em seu livro “Imagens”, obra autobiográfica lançada no ano de 1993 no qual Bergman, do alto de sua coerência fílmica afirmou que “fazer filmes é mergulhar até as mais profundas raízes, até o mundo da infância”.
De maneira singela e despretensiosa, ofereço-lhes a dica cinematográfica da película italiana denominada “Ricordati di me”, rebatizada de “No Limite das Emoções” na versão portuguesa. O filme foi produzido pela Itália, França e Reino Unido, sob a direção de Gabriele Muccino. Lançado em 2003, o drama moderno tem em seu elenco os atores Fabrizio Bentivoglio, Laura Morante e Mônica Belucci, estonteante no papel de Alessia, ex-namorada na juventude e amante apaixonada de Carlo no meio da crise conjugal e existencial da família.
O filme é muito interessante e representa a realidade da sociedade italiana moderna a partir do enredo que expressa diversas crises na família de Carlo, Giulia, Valentina e Paolo e os limites éticos e morais que se apresentam para essa família e os desafios que cada um deles deve superar para garantir os seus interesses individuais.
Giulia representa aquela mulher européia moderna de meia idade que, no cerne de uma crise afetiva, vê sua sexualidade reprimida e procura um novo rumo para a sua vida, ao fazer um curso de teatro paralelo ao exercício do magistério.
Os dois filhos de Carlo e Giulia, Valentina e Paolo correm atrás de seus desejos e interesses pessoais; quer seja participar de um programa televisivo e se tornar uma estrela no caso de Valentina ou, aos 19 anos, seduzir e conquistas uma colega para iniciar sua vida sexual, no caso de Paolo.
Meus caros, assistir essa película vale a pena até pela abordagem universal feita pelo diretor, que pode ser uma espécie de espelho da alma européia, latino-americana e muitos outros rincões pelo mundo afora.
Por fim, “Ricordati di me” mostra o lado emotivo e passional dos italianos e a força de seu idioma e de sua cultura.
Meus caros, ao assistir esse filme, quem sabe, você poderá se perceber dentro dessa trama moderna, dramática e divertida ao mesmo tempo.
Arrivederci!
domingo, 19 de dezembro de 2010
DROPS DE FATOS DA “GREVE DE 51”: bambas da imprensa nacional cobrem o conflito político na Ilha Rebelde
Meus camaradas, a “Greve de 51” foi descoberta por mim ao ler, no início dos anos 90, o livro do jornalista-historiador Benedito Buzar, que havia sido publicado em 1982. Desde o primeiro período no curso de História Licenciatura (UFMA) fiquei literalmente fascinado por esse grande evento histórico de nossa Ilha Rebelde.
Numa perspectiva teórico-metodológica diferenciada do trabalho pioneiro e importante de Buzar, corri atrás de fontes que pudessem mostrar-me um contexto sócio-político e cultural de nossa capital ludovicense e a materialidade das coisas que havia: economia, educação, classes sociais e demais feições mostradas pela cidade.
Fiz uma primeira narrativa quando colei grau em abril de 1997, após defender a monografia intitulada provocadamente “Greve de 51: mito ou realidade?”. Ao ingressar no mestrado em 1999 (UFPE), em conjunto com outros colegas historiadores, ampliei a abordagem que havia feito na graduação e trabalhei com vários e diversificados aspectos a seguir: a história oral a partir de depoimentos de pessoas que vivenciaram a greve, as contradições da luta entre as facções oligárquicas do Maranhão pelo butim do aparelho estatal, o papel da imprensa, dentre tantos outros.
No caso da cobertura que a imprensa local, nacional e internacional fez da “Greve de 51” localizei na Biblioteca Nacional (RJ) e me saciei de informações dos grandes jornais brasileiros que cobriram o conflito desde o seu nascedouro no dia 28 de fevereiro de 1951 até o seu epílogo, no dia 6 de outubro de 1951, com a derrota política das “Oposições Coligadas” e a vitória do vitorinismo como facção oligárquica dominante naquele momento através da consolidação do governador Eugênio Barros no exercício da sua função mandatária.
Portanto, decidi que poderia ser interessante que o grande público pudesse ter acesso a documentos históricos alusivos a essa verdadeira batalha que foi a “Greve de 51”. Espero que apreciem a leitura ipsis litteris e se quiserem, vamos ao debate sobre nossa história!
O artigo abaixo transcrito é de autoria do célebre jornalista político brasileiro e parlamentar, Doutel de Andrade e narra a derrota dos oposicionistas daquela época. Fique à vontade!
"MELANCÓLICO EPÍLOGO DA “REVOLUÇÃO” NO MARANHÃO
Escreveu Doutel de Andrade
(enviado especial dos “Diários Associados”)
S. LUIZ, 9 – Para o repórter que aqui veio na certeza de que assistiria acontecimentos extraordinários, nada mais resta, senão adquirir, melancolicamente, passagem de volta, no próximo avião. A cidade retornou inteiramente ao seu ritmo normal de vida e até mesmo a política voltou à sua rotina, com os partidos disputando cargos através dos velhos processos, utilizados no país inteiro. Somente o PSP está disposto a firmar, já esta tarde, em reunião do seu diretório local, uma linha de oposição ao governo.
A sensação de frustração que domina o repórter, ocorre também aos demais jornalistas, inclusive os norte-americanos que aqui chegaram na expectativa de acontecimentos verdadeiramente inéditos. Mas a verdade é que a revolução maranhense não passou, mesmo, de um tremendo “bluff”.
Com o Sr. Eugênio Barros perfeitamente senhor da situação, o único fato político de evidência no momento, diz respeito à prisão da leader comunista Maria José Aragão. Tendo o Tribunal de Justiça negado “habeas-corpus” impetrado a seu favor, a médica agitadora permanecerá presa, respondendo a processo, não estando ainda confirmada a sua libertação. Afora isso, os deputados oposicionistas, que ultimamente só compareciam à Assembléia Legislativa para receber os subsídios, retornaram ao trabalho, com exceção do Sr. Neiva Moreira. Fogem, porém, aos debates sobre os acontecimentos, temerosos das críticas que lhes estão reservadas pelos situacionistas. Mais alguns dias e gregos e troianos estarão confraternizando, na Sala do Café, para maior decepção do povo.
Os dirigentes da fracassada tentativa de sublevação do povo maranhense tratam agora de salvar a pele enviando emissários ao governador, com protestos tardios de solidariedade. Demonstrando grande superioridade moral, o governador declarou que não pretende mover contra eles quaisquer sanções. Até mesmo Raimundo Bastos, chefe do caricato “Exército da Salvação”, e que ora se encontra no Rio, acaba de dirigir-se, por intermédio de um amigo, ao Sr. Eugênio Barros, a fim de saber da sua situação. O Sr. Eugênio Barros respondeu que nada havia contra ele, acrescentando que o “revolucionário” poderia continuar percebendo, tranqüilamente, os seus vencimentos, como sinecurista da Prefeitura. E assim se acaba a história da “guerra” maranhense, que afinal só serviu para mostrar a debilidade dos chefes das oposições coligadas".
Publicada em “O Jornal” – Rio de Janeiro, 10/10/1951. In: SIQUEIRA, Newton Pessoa de. Força da Lei e do Dever. São Luís: [s.n.], 1952
Numa perspectiva teórico-metodológica diferenciada do trabalho pioneiro e importante de Buzar, corri atrás de fontes que pudessem mostrar-me um contexto sócio-político e cultural de nossa capital ludovicense e a materialidade das coisas que havia: economia, educação, classes sociais e demais feições mostradas pela cidade.
Fiz uma primeira narrativa quando colei grau em abril de 1997, após defender a monografia intitulada provocadamente “Greve de 51: mito ou realidade?”. Ao ingressar no mestrado em 1999 (UFPE), em conjunto com outros colegas historiadores, ampliei a abordagem que havia feito na graduação e trabalhei com vários e diversificados aspectos a seguir: a história oral a partir de depoimentos de pessoas que vivenciaram a greve, as contradições da luta entre as facções oligárquicas do Maranhão pelo butim do aparelho estatal, o papel da imprensa, dentre tantos outros.
No caso da cobertura que a imprensa local, nacional e internacional fez da “Greve de 51” localizei na Biblioteca Nacional (RJ) e me saciei de informações dos grandes jornais brasileiros que cobriram o conflito desde o seu nascedouro no dia 28 de fevereiro de 1951 até o seu epílogo, no dia 6 de outubro de 1951, com a derrota política das “Oposições Coligadas” e a vitória do vitorinismo como facção oligárquica dominante naquele momento através da consolidação do governador Eugênio Barros no exercício da sua função mandatária.
Portanto, decidi que poderia ser interessante que o grande público pudesse ter acesso a documentos históricos alusivos a essa verdadeira batalha que foi a “Greve de 51”. Espero que apreciem a leitura ipsis litteris e se quiserem, vamos ao debate sobre nossa história!
O artigo abaixo transcrito é de autoria do célebre jornalista político brasileiro e parlamentar, Doutel de Andrade e narra a derrota dos oposicionistas daquela época. Fique à vontade!
"MELANCÓLICO EPÍLOGO DA “REVOLUÇÃO” NO MARANHÃO
Escreveu Doutel de Andrade
(enviado especial dos “Diários Associados”)
S. LUIZ, 9 – Para o repórter que aqui veio na certeza de que assistiria acontecimentos extraordinários, nada mais resta, senão adquirir, melancolicamente, passagem de volta, no próximo avião. A cidade retornou inteiramente ao seu ritmo normal de vida e até mesmo a política voltou à sua rotina, com os partidos disputando cargos através dos velhos processos, utilizados no país inteiro. Somente o PSP está disposto a firmar, já esta tarde, em reunião do seu diretório local, uma linha de oposição ao governo.
A sensação de frustração que domina o repórter, ocorre também aos demais jornalistas, inclusive os norte-americanos que aqui chegaram na expectativa de acontecimentos verdadeiramente inéditos. Mas a verdade é que a revolução maranhense não passou, mesmo, de um tremendo “bluff”.
Com o Sr. Eugênio Barros perfeitamente senhor da situação, o único fato político de evidência no momento, diz respeito à prisão da leader comunista Maria José Aragão. Tendo o Tribunal de Justiça negado “habeas-corpus” impetrado a seu favor, a médica agitadora permanecerá presa, respondendo a processo, não estando ainda confirmada a sua libertação. Afora isso, os deputados oposicionistas, que ultimamente só compareciam à Assembléia Legislativa para receber os subsídios, retornaram ao trabalho, com exceção do Sr. Neiva Moreira. Fogem, porém, aos debates sobre os acontecimentos, temerosos das críticas que lhes estão reservadas pelos situacionistas. Mais alguns dias e gregos e troianos estarão confraternizando, na Sala do Café, para maior decepção do povo.
Os dirigentes da fracassada tentativa de sublevação do povo maranhense tratam agora de salvar a pele enviando emissários ao governador, com protestos tardios de solidariedade. Demonstrando grande superioridade moral, o governador declarou que não pretende mover contra eles quaisquer sanções. Até mesmo Raimundo Bastos, chefe do caricato “Exército da Salvação”, e que ora se encontra no Rio, acaba de dirigir-se, por intermédio de um amigo, ao Sr. Eugênio Barros, a fim de saber da sua situação. O Sr. Eugênio Barros respondeu que nada havia contra ele, acrescentando que o “revolucionário” poderia continuar percebendo, tranqüilamente, os seus vencimentos, como sinecurista da Prefeitura. E assim se acaba a história da “guerra” maranhense, que afinal só serviu para mostrar a debilidade dos chefes das oposições coligadas".
Publicada em “O Jornal” – Rio de Janeiro, 10/10/1951. In: SIQUEIRA, Newton Pessoa de. Força da Lei e do Dever. São Luís: [s.n.], 1952
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
IGREJA E DITADURA MILITAR NO BRASIL: Teologia da Libertação e bispos combativos defendem seu rebanho
Dom Antonio Fragoso: "Crimes de tortura não podem nunca prescrever"
Recife (PE), 31/10/2003
Dom Antônio Fragoso deu muito trabalho aos militares. Esse paraibano de Teixeira, compulsoriamente aposentado em João Pessoa, aos 83 anos, foi um dos expoentes da ala radical-progressista da Igreja Católica. Um ardoroso pregador da Teologia da Libertação, que infernizou a vida dos militares latino-americanos nos anos de chumbo das décadas 60, 70 e 80. A visão sobre o Golpe de 64 mudou na ótica, mas não na oposição intransigente: o que era uma quebra de fidelidade à Constituição e ao presidente João Goulart, na visão de hoje foi um Golpe Militar, inspirado pela bipolaridade no mundo: o capitalismo americano e o comunismo soviético.
"As elites conservadoras tinham medo do acesso de lideranças populares ao Poder, e não do risco do comunismo no Brasil, mas se utilizaram desse instrumento para liquidar o projeto de governo popular", interpreta o religioso, que por 34 anos comandou a diocese de Crateús, no sertão do Ceará. Dom Fragoso diz que duas décadas de ditadura deixaram uma herança de alienação política para as gerações de jovens até hoje. "Os jovens daquele tempo pagaram um alto preço, tão grande que silenciou a paixão política nos jovens de hoje", disse o bispo a universitários da Universidade Rural de Pernambuco, em palestra sobre 1964, semana passada.
Quase 40 anos depois de Golpe de 64, dom Fragoso mantém-se indignado e irredutível em suas posições, que levaram os militares a lhe ficharem como socialista agitador. Organizador de pobres e desassistidos camponeses em sindicatos e cooperativas, dom Fragoso enfrentou a ira, a provocação e a campanha de oposição dos latifundiários do Crateús.
Defensor da idéia de que o Governo Lula esclareça os crimes, aponte e puna os autores de torturas e mortes, durante o regime militar, dom Fragoso argumenta que "crimes contra a dignidade humana não podem prescrever".
A seguir, a entrevista de Dom Fragoso para o Jornal do Commércio.
JORNAL DO COMMERCIO - 31 de março de 1964. Passados quase 40 anos, como pode ser analisado o Golpe de 64? Mudou a sua visão em relação à que tinha naquela época e ao longo do regime militar?
DOM ANTÔNIO FRAGOSO - Em 1964, apesar da confusão para a análise dos acontecimentos, eu via a chamada "Revolução" como um desrespeito dos militares ao juramento de fidelidade à Constituição e ao presidente da República, como um sinal de medo das Forças Armadas (e das lideranças conservadoras) diante dos "movimentos populares", da possibilidade de acesso ao poder de lideranças dos meios populares, de ameaça ao Capitalismo. O combate ao Comunismo não era o móvel principal da "Revolução", mas um instrumento fácil de manejar para cativar as lideranças conservadoras e as massas populares ainda não articuladas. Hoje, 40 anos depois, estou vendo a "Revolução de 1964" como um "Golpe Militar", inspirado na bipolaridade: a civilização capitalista e cristã, sob a hegemonia dos Estados Unidos, versus a civilização materialista e atéia, sob a hegemonia da então União Soviética.
JC - O que o leva a esta conclusão?
DOM FRAGOSO - Na Escola Superior de Guerra foram preparados, em nível de pós-graduação, os quadros que conduziram o "Golpe Militar". Eram quadros civis e militares. A chamada "Doutrina de Segurança Nacional", talvez subproduto do "War College", dizia que a nação não era o povo, mas a elite no Poder. Evidentemente, a elite militar, pois as Forças Armadas não tinham confiança nos políticos civis. Recuando 40 anos, confirma-se em mim a certeza de que as elites conservadoras tinham medo, não do Comunismo, mas dos meios populares.
JC - Quais as repercussões de 64 sobre os dias de hoje? Ficaram herança, influência ou reflexos daqueles 20 anos?
DOM FRAGOSO - As repercussões de 64 sobre os dias de hoje me aparecem como um preço muito alto que a nação está pagando. O "anticomunismo" negativo, que não tinha nenhum projeto de um Brasil de todos, foi utilizado como arma de justificação da repressão. Mas, pareciam tão evidentes as distorções, que o povo perdeu a confiança em políticas públicas conduzidas pelos militares. O Golpe foi sepultado! Quase ninguém mais festeja 64. Porém, a experiência coletiva suscitou novas expectativas, que se articulam e buscam expressão política em movimentos sociais.
JC - Em recente palestra para estudantes da UFRPE, o senhor destacou que os jovens daquele tempo "pagaram um alto preço (pela liberdade e por seu idealismo)". Um preço tão grande que "silenciou a paixão política nos jovens de hoje"? Por essa interpretação, podemos dizer que a alienação política de hoje é, em parte, conseqüência de 64?
DOM FRAGOSO - No contexto de 64, as lideranças estudantis eram criativas e acreditavam em utopias mobilizadoras. Ao nível da universidade, sobretudo pela mediação da UNE, as lideranças dos jovens eram projetistas. Os "fóruns de estudantes" eram mais cheios de sonhos e de ideais do que os "fóruns de reitores" e que os quadros de direção e de magistério. A UNE é fechada, e a presença das forças de investigação e segurança denunciavam, reprimiam. Nas duas décadas, cerca de dez mil presos políticos ocuparam nossas prisões. Destes, mais de 60% eram jovens. A vigilância nas universidades, a repressão das manifestações estudantis e as torturas quase estancaram a participação aberta nas lutas políticas. A clandestinidade pagou um preço alto. As grandes paixões políticas, as grandes causas de transformação da sociedade, as grandes utopias sociais não são mais a tônica da juventude. As duas décadas de ditadura produziram uma "alienação" que marcou gerações nesses 40 anos.
JC - Em 1964, onde o senhor estava?
DOM FRAGOSO - De julho de 1957 a julho de 1963, fui o bispo auxiliar do arcebispo dom José de Medeiros Delgado, na Arquidiocese de São Luís do Maranhão. Em julho de 1963, fui eleito vigário capitular da Arquidiocese de São Luís, com a missão de administrá-la até à chegada do novo Arcebispo. Em 31 de Março de 1963, eu estava no Arcebispado. As notícias eram confusas. Sabendo que iam ser detidas pessoas que trabalhavam comigo no Movimento de Educação de Base (MEB), na organização dos sindicatos rurais, coloquei-as no Arcebispado e, depois, tiveram que fugir. Pouco tempo depois, uma delas, Regina, que era formada em filosofia, carioca, foi surpreendida pelo DOPS no Rio e sumariamente assassinada sob tortura. Sendo informado de que o presidente do Sindicato Rural de Pindaré-Mirim estava sendo procurado para ser preso, coloquei-o no Arcebispado. Sentindo a sua insegurança, ele foi para o interior, passando "piedosamente" pelo posto da Polícia entre duas irmãs Vicentinas do Chapéu Grande, que usavam o hábito de religiosas.
JC - Como foram os dias seguintes, imediatos após o Golpe?
DOM FRAGOSO - Nos dias seguintes, eu soube que seriam detidas pessoas que trabalhavam no MEB. Fui ao quartel do Exército para dizer que eram de nossa inteira confiança. Então, fui interrogado por um capitão, que era aluno da Faculdade de Filosofia, que integrava a Universidade Católica do Maranhão, da qual eu era o reitor. O capitão era filho de um general reformado, que dom Delgado, meu arcebispo - que já havia sido transferido para a Arquidiocese de Fortaleza -, nomeara diretor do Banco Popular da Arquidiocese de São Luís. O Banco Popular foi organizado por dom Delgado para financiar as cooperativas dos agricultores pobres, que não tinham condições de ser acolhidos pelas instituições oficiais de crédito. A minha "ficha", organizada por indicação do general, pai do capitão, me catalogava como "socialista agitador". Em julho de 1964, fui nomeado como bispo diocesano de Crateús. Aí, fiquei na qualidade de seu primeiro bispo diocesano de agosto de 1964 a maio de 1988.
JC - Os déficits sociais de hoje são os mesmos de 1964: reforma agrária, má distribuição de renda, má assistência à saúde, baixos níveis de educação, desrespeitos aos direitos humanos e impunidade nas classes abastadas. Quarenta anos depois, o Brasil mudou em que?
DOM FRAGOSO - O Brasil mudou muito. A distribuição injusta das riquezas nacionais é mais visível e ampla. Mas, vejo uma crescente insatisfação das maiorias populares que se revela em momentos nacionais de crise, uma ascensão dos movimentos populares, uma sensibilidade crescente aos clamores das crianças, dos jovens pobres, das mulheres, idosos, dos "sem terra" e dos "sem teto". Nunca vi tanta insatisfação gritada em voz alta como nesses últimos anos. Dizia-se, "grite!. Não morra calado como o sapo debaixo da pata do boi".
JC - Centenas de pessoas sofreram torturas, algumas dezenas desapareceram ou morreram sob tortura e outras foram perseguidas por longo tempo. O Brasil, hoje, paga indenizações a sobreviventes e a parentes de desaparecidos e mortos. O senhor acha que o Governo deveria esclarecer os crimes e identificar os autores ou acredita que é revirar o passado e deve-se impedir revides?
DOM FRAGOSO - Sei que se trata de uma área de sensibilidade e turbulência. Lembro-me de que o Prêmio Nobel da Paz, o argentino Adolfo Perez Esquivel, veio ao Brasil e disse que, para todas as nações do mundo, também para o Brasil, é necessário identificar com seriedade os crimes de tortura e repressão e puní-los com firmeza e segundo as exigências da Justiça. Foi detido, interrogado e teve de voltar ao seu país, uma vez que a anistia era ampla, inclusive aos repressores. Mas, eu penso que Perez Esquivel tinha razão. Julgo necessário que o Governo esclareça os crimes, aponte e puna os autores. Crimes contra a dignidade humana não podem prescrever.
JC - O Brasil vive, hoje, um governo de esquerda, num quadro de carência social imensa. Há semelhanças entre as épocas e os Governos Jango e Lula?
DOM FRAGOSO - Penso que não há semelhança entre o projeto político de Jango e o de Lula. E Jango tinha projeto político? Ele me deixava a impressão de ser um "aventureiro" sem utopias mobilizadoras. Lula é um nordestino que experimentou na carne a dor do povo sofrido, lutou nas áreas mais duras do combate sindical, guardou uma fidelidade às aspirações populares e buscou com humilde tenacidade e ousadia a chegada ao Governo. Ele tem uma proposta popular inédita na história política do Brasil. O projeto de Lula não foi improvisado por "intelectuais", em gabinetes, mas emergiu de longas escutas e debates em todos os segmentos do povo brasileiro, sobretudo os trabalhadores.
JC - O senhor define o papel das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como "o esforço mais importante da Igreja popular, no Brasil, para tentar fazer com que desse certo o método Paulo Freire de alfabetização". Qual a função das CEB's no enfrentamento à ditadura de 64?
DOM FRAGOSO - As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nascidas na América Latina após o Concílio Vaticano II e a Conferência do Episcopado da América Latina, em Medellin , Colômbia (1968), tentam pôr em prática, com a limitação que todas as práticas humanas têm, o Modelo de Igreja Popular ou Igreja dos Pobres. O método Paulo Freire, a sua filosofia e o seu método específico de pedagogia, teve forte influência na caminhada das CEBs, principalmente no Brasil. As CEBs não tinham como missão "enfrentar" a ditadura militar. A proposta eclesial das CEBs era, em si mesma, incompatível com a doutrina de Segurança Nacional que inspirou a chamada ditadura. Na prática das CEBs, o conflito era inevitável.
Fonte: Jornal do Commercio.
Recife (PE), 31/10/2003
Dom Antônio Fragoso deu muito trabalho aos militares. Esse paraibano de Teixeira, compulsoriamente aposentado em João Pessoa, aos 83 anos, foi um dos expoentes da ala radical-progressista da Igreja Católica. Um ardoroso pregador da Teologia da Libertação, que infernizou a vida dos militares latino-americanos nos anos de chumbo das décadas 60, 70 e 80. A visão sobre o Golpe de 64 mudou na ótica, mas não na oposição intransigente: o que era uma quebra de fidelidade à Constituição e ao presidente João Goulart, na visão de hoje foi um Golpe Militar, inspirado pela bipolaridade no mundo: o capitalismo americano e o comunismo soviético.
"As elites conservadoras tinham medo do acesso de lideranças populares ao Poder, e não do risco do comunismo no Brasil, mas se utilizaram desse instrumento para liquidar o projeto de governo popular", interpreta o religioso, que por 34 anos comandou a diocese de Crateús, no sertão do Ceará. Dom Fragoso diz que duas décadas de ditadura deixaram uma herança de alienação política para as gerações de jovens até hoje. "Os jovens daquele tempo pagaram um alto preço, tão grande que silenciou a paixão política nos jovens de hoje", disse o bispo a universitários da Universidade Rural de Pernambuco, em palestra sobre 1964, semana passada.
Quase 40 anos depois de Golpe de 64, dom Fragoso mantém-se indignado e irredutível em suas posições, que levaram os militares a lhe ficharem como socialista agitador. Organizador de pobres e desassistidos camponeses em sindicatos e cooperativas, dom Fragoso enfrentou a ira, a provocação e a campanha de oposição dos latifundiários do Crateús.
Defensor da idéia de que o Governo Lula esclareça os crimes, aponte e puna os autores de torturas e mortes, durante o regime militar, dom Fragoso argumenta que "crimes contra a dignidade humana não podem prescrever".
A seguir, a entrevista de Dom Fragoso para o Jornal do Commércio.
JORNAL DO COMMERCIO - 31 de março de 1964. Passados quase 40 anos, como pode ser analisado o Golpe de 64? Mudou a sua visão em relação à que tinha naquela época e ao longo do regime militar?
DOM ANTÔNIO FRAGOSO - Em 1964, apesar da confusão para a análise dos acontecimentos, eu via a chamada "Revolução" como um desrespeito dos militares ao juramento de fidelidade à Constituição e ao presidente da República, como um sinal de medo das Forças Armadas (e das lideranças conservadoras) diante dos "movimentos populares", da possibilidade de acesso ao poder de lideranças dos meios populares, de ameaça ao Capitalismo. O combate ao Comunismo não era o móvel principal da "Revolução", mas um instrumento fácil de manejar para cativar as lideranças conservadoras e as massas populares ainda não articuladas. Hoje, 40 anos depois, estou vendo a "Revolução de 1964" como um "Golpe Militar", inspirado na bipolaridade: a civilização capitalista e cristã, sob a hegemonia dos Estados Unidos, versus a civilização materialista e atéia, sob a hegemonia da então União Soviética.
JC - O que o leva a esta conclusão?
DOM FRAGOSO - Na Escola Superior de Guerra foram preparados, em nível de pós-graduação, os quadros que conduziram o "Golpe Militar". Eram quadros civis e militares. A chamada "Doutrina de Segurança Nacional", talvez subproduto do "War College", dizia que a nação não era o povo, mas a elite no Poder. Evidentemente, a elite militar, pois as Forças Armadas não tinham confiança nos políticos civis. Recuando 40 anos, confirma-se em mim a certeza de que as elites conservadoras tinham medo, não do Comunismo, mas dos meios populares.
JC - Quais as repercussões de 64 sobre os dias de hoje? Ficaram herança, influência ou reflexos daqueles 20 anos?
DOM FRAGOSO - As repercussões de 64 sobre os dias de hoje me aparecem como um preço muito alto que a nação está pagando. O "anticomunismo" negativo, que não tinha nenhum projeto de um Brasil de todos, foi utilizado como arma de justificação da repressão. Mas, pareciam tão evidentes as distorções, que o povo perdeu a confiança em políticas públicas conduzidas pelos militares. O Golpe foi sepultado! Quase ninguém mais festeja 64. Porém, a experiência coletiva suscitou novas expectativas, que se articulam e buscam expressão política em movimentos sociais.
JC - Em recente palestra para estudantes da UFRPE, o senhor destacou que os jovens daquele tempo "pagaram um alto preço (pela liberdade e por seu idealismo)". Um preço tão grande que "silenciou a paixão política nos jovens de hoje"? Por essa interpretação, podemos dizer que a alienação política de hoje é, em parte, conseqüência de 64?
DOM FRAGOSO - No contexto de 64, as lideranças estudantis eram criativas e acreditavam em utopias mobilizadoras. Ao nível da universidade, sobretudo pela mediação da UNE, as lideranças dos jovens eram projetistas. Os "fóruns de estudantes" eram mais cheios de sonhos e de ideais do que os "fóruns de reitores" e que os quadros de direção e de magistério. A UNE é fechada, e a presença das forças de investigação e segurança denunciavam, reprimiam. Nas duas décadas, cerca de dez mil presos políticos ocuparam nossas prisões. Destes, mais de 60% eram jovens. A vigilância nas universidades, a repressão das manifestações estudantis e as torturas quase estancaram a participação aberta nas lutas políticas. A clandestinidade pagou um preço alto. As grandes paixões políticas, as grandes causas de transformação da sociedade, as grandes utopias sociais não são mais a tônica da juventude. As duas décadas de ditadura produziram uma "alienação" que marcou gerações nesses 40 anos.
JC - Em 1964, onde o senhor estava?
DOM FRAGOSO - De julho de 1957 a julho de 1963, fui o bispo auxiliar do arcebispo dom José de Medeiros Delgado, na Arquidiocese de São Luís do Maranhão. Em julho de 1963, fui eleito vigário capitular da Arquidiocese de São Luís, com a missão de administrá-la até à chegada do novo Arcebispo. Em 31 de Março de 1963, eu estava no Arcebispado. As notícias eram confusas. Sabendo que iam ser detidas pessoas que trabalhavam comigo no Movimento de Educação de Base (MEB), na organização dos sindicatos rurais, coloquei-as no Arcebispado e, depois, tiveram que fugir. Pouco tempo depois, uma delas, Regina, que era formada em filosofia, carioca, foi surpreendida pelo DOPS no Rio e sumariamente assassinada sob tortura. Sendo informado de que o presidente do Sindicato Rural de Pindaré-Mirim estava sendo procurado para ser preso, coloquei-o no Arcebispado. Sentindo a sua insegurança, ele foi para o interior, passando "piedosamente" pelo posto da Polícia entre duas irmãs Vicentinas do Chapéu Grande, que usavam o hábito de religiosas.
JC - Como foram os dias seguintes, imediatos após o Golpe?
DOM FRAGOSO - Nos dias seguintes, eu soube que seriam detidas pessoas que trabalhavam no MEB. Fui ao quartel do Exército para dizer que eram de nossa inteira confiança. Então, fui interrogado por um capitão, que era aluno da Faculdade de Filosofia, que integrava a Universidade Católica do Maranhão, da qual eu era o reitor. O capitão era filho de um general reformado, que dom Delgado, meu arcebispo - que já havia sido transferido para a Arquidiocese de Fortaleza -, nomeara diretor do Banco Popular da Arquidiocese de São Luís. O Banco Popular foi organizado por dom Delgado para financiar as cooperativas dos agricultores pobres, que não tinham condições de ser acolhidos pelas instituições oficiais de crédito. A minha "ficha", organizada por indicação do general, pai do capitão, me catalogava como "socialista agitador". Em julho de 1964, fui nomeado como bispo diocesano de Crateús. Aí, fiquei na qualidade de seu primeiro bispo diocesano de agosto de 1964 a maio de 1988.
JC - Os déficits sociais de hoje são os mesmos de 1964: reforma agrária, má distribuição de renda, má assistência à saúde, baixos níveis de educação, desrespeitos aos direitos humanos e impunidade nas classes abastadas. Quarenta anos depois, o Brasil mudou em que?
DOM FRAGOSO - O Brasil mudou muito. A distribuição injusta das riquezas nacionais é mais visível e ampla. Mas, vejo uma crescente insatisfação das maiorias populares que se revela em momentos nacionais de crise, uma ascensão dos movimentos populares, uma sensibilidade crescente aos clamores das crianças, dos jovens pobres, das mulheres, idosos, dos "sem terra" e dos "sem teto". Nunca vi tanta insatisfação gritada em voz alta como nesses últimos anos. Dizia-se, "grite!. Não morra calado como o sapo debaixo da pata do boi".
JC - Centenas de pessoas sofreram torturas, algumas dezenas desapareceram ou morreram sob tortura e outras foram perseguidas por longo tempo. O Brasil, hoje, paga indenizações a sobreviventes e a parentes de desaparecidos e mortos. O senhor acha que o Governo deveria esclarecer os crimes e identificar os autores ou acredita que é revirar o passado e deve-se impedir revides?
DOM FRAGOSO - Sei que se trata de uma área de sensibilidade e turbulência. Lembro-me de que o Prêmio Nobel da Paz, o argentino Adolfo Perez Esquivel, veio ao Brasil e disse que, para todas as nações do mundo, também para o Brasil, é necessário identificar com seriedade os crimes de tortura e repressão e puní-los com firmeza e segundo as exigências da Justiça. Foi detido, interrogado e teve de voltar ao seu país, uma vez que a anistia era ampla, inclusive aos repressores. Mas, eu penso que Perez Esquivel tinha razão. Julgo necessário que o Governo esclareça os crimes, aponte e puna os autores. Crimes contra a dignidade humana não podem prescrever.
JC - O Brasil vive, hoje, um governo de esquerda, num quadro de carência social imensa. Há semelhanças entre as épocas e os Governos Jango e Lula?
DOM FRAGOSO - Penso que não há semelhança entre o projeto político de Jango e o de Lula. E Jango tinha projeto político? Ele me deixava a impressão de ser um "aventureiro" sem utopias mobilizadoras. Lula é um nordestino que experimentou na carne a dor do povo sofrido, lutou nas áreas mais duras do combate sindical, guardou uma fidelidade às aspirações populares e buscou com humilde tenacidade e ousadia a chegada ao Governo. Ele tem uma proposta popular inédita na história política do Brasil. O projeto de Lula não foi improvisado por "intelectuais", em gabinetes, mas emergiu de longas escutas e debates em todos os segmentos do povo brasileiro, sobretudo os trabalhadores.
JC - O senhor define o papel das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como "o esforço mais importante da Igreja popular, no Brasil, para tentar fazer com que desse certo o método Paulo Freire de alfabetização". Qual a função das CEB's no enfrentamento à ditadura de 64?
DOM FRAGOSO - As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nascidas na América Latina após o Concílio Vaticano II e a Conferência do Episcopado da América Latina, em Medellin , Colômbia (1968), tentam pôr em prática, com a limitação que todas as práticas humanas têm, o Modelo de Igreja Popular ou Igreja dos Pobres. O método Paulo Freire, a sua filosofia e o seu método específico de pedagogia, teve forte influência na caminhada das CEBs, principalmente no Brasil. As CEBs não tinham como missão "enfrentar" a ditadura militar. A proposta eclesial das CEBs era, em si mesma, incompatível com a doutrina de Segurança Nacional que inspirou a chamada ditadura. Na prática das CEBs, o conflito era inevitável.
Fonte: Jornal do Commercio.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
ELEIÇÕES DA UEMA 2010: MAIS UM CAPÍTULO LAMENTÁVEL E ULTRAJANTE
Camaradas, o que eu denominei no início do processo eleitoral na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), como sendo um “drama judicial”, um mês e meio depois, retomo o apelido de “golpe civil” que assinalei à maracutaia perpetrada por José Augusto Silva Oliveira, o reitor caudilho; golpe que se utilizou de casuísmos e chicanas típicas de causídicos de grosso calibre.
Promulgada há mais de 20(vinte) anos, a Constituição Federal de 1988 ainda não chegou a UEMA. Apos várias irregularidades praticadas pela direção da UEMA no processo eleitoral 2010 (terceira eleição para reitor, votos de eleitores não habilitados, uso da instituição em benefício de candidaturas, etc.), o atual reitor reuniu secretamente o Conselho Universitário na última sexta-feira, homologou a lista tríplice de candidatos e a enviou para a Governadora.
O procedimento de aprovar a lista tríplice decorre de normas da instituição, porém como da lista existe candidaturas impugnadas e questionadas juridicamente (do atual reitor e do atual vice-reitor), o Conselho Universitário, foi convocado às escondidas para reunião na Faculdade de Arquitetura no Centro da cidade.
Os componentes do Conselho Universitário não simpáticos ao terceiro mandato do Professor José Augusto (atual reitor) não foram convocados para a reunião (ex. Representante do SINTUEMA, Professor Gusmão, representantes dos estudantes), além do mais a reunião não ocorreu no Campus e a notícia de sua convocação foi publicada no site da UEMA após uma hora do seu início.
Ressalta-se que a reunião do Conselho não contou com a presença dos membros lotados no interior do Estado, bem como ocorreu na data das eleições para Diretor de Centro, Diretor de Curso e Chefe de Departamento, impedindo a participação de vários dos seus componentes.
Esse episódio é mais uma demonstração de que o reitor e seu vice usam a UEMA como se fosse um patrimônio particular, desrespeitando a comunidade universitária e a sociedade maranhense.
Na lição e na experiência do advogado Pedro Duailibe, os atos administrativos devem ser públicos possibilitando aos cidadãos a vigilância quanto a legalidade e a aferição quanto ao interesse público, evitando que a administração seja utilizada em benefícios particulares, esses são princípios constitucionais de observação obrigatória previstos no art.37 da nossa Carta Magna, portanto a sociedade maranhense não deve permitir mais um desrespeito vergonhoso as normas básicas da nossa democracia.
Camaradas, qualquer reação à postura vergonhosa da direção da UEMA é importante na construção de um Maranhão sem mandos e mais justo, onde o que vale são as regras postas em detrimento de qualquer interesse pessoal vil.
A luta sem tréguas deve continuar em nome da democracia interna da UEMA e dos milhares de maranhense que trabalham e estudam na Universidade Estadual do Maranhão, um patrimônio acadêmico-científico que é do povo!
A luta continua! Venha compartilhar conosco!
Promulgada há mais de 20(vinte) anos, a Constituição Federal de 1988 ainda não chegou a UEMA. Apos várias irregularidades praticadas pela direção da UEMA no processo eleitoral 2010 (terceira eleição para reitor, votos de eleitores não habilitados, uso da instituição em benefício de candidaturas, etc.), o atual reitor reuniu secretamente o Conselho Universitário na última sexta-feira, homologou a lista tríplice de candidatos e a enviou para a Governadora.
O procedimento de aprovar a lista tríplice decorre de normas da instituição, porém como da lista existe candidaturas impugnadas e questionadas juridicamente (do atual reitor e do atual vice-reitor), o Conselho Universitário, foi convocado às escondidas para reunião na Faculdade de Arquitetura no Centro da cidade.
Os componentes do Conselho Universitário não simpáticos ao terceiro mandato do Professor José Augusto (atual reitor) não foram convocados para a reunião (ex. Representante do SINTUEMA, Professor Gusmão, representantes dos estudantes), além do mais a reunião não ocorreu no Campus e a notícia de sua convocação foi publicada no site da UEMA após uma hora do seu início.
Ressalta-se que a reunião do Conselho não contou com a presença dos membros lotados no interior do Estado, bem como ocorreu na data das eleições para Diretor de Centro, Diretor de Curso e Chefe de Departamento, impedindo a participação de vários dos seus componentes.
Esse episódio é mais uma demonstração de que o reitor e seu vice usam a UEMA como se fosse um patrimônio particular, desrespeitando a comunidade universitária e a sociedade maranhense.
Na lição e na experiência do advogado Pedro Duailibe, os atos administrativos devem ser públicos possibilitando aos cidadãos a vigilância quanto a legalidade e a aferição quanto ao interesse público, evitando que a administração seja utilizada em benefícios particulares, esses são princípios constitucionais de observação obrigatória previstos no art.37 da nossa Carta Magna, portanto a sociedade maranhense não deve permitir mais um desrespeito vergonhoso as normas básicas da nossa democracia.
Camaradas, qualquer reação à postura vergonhosa da direção da UEMA é importante na construção de um Maranhão sem mandos e mais justo, onde o que vale são as regras postas em detrimento de qualquer interesse pessoal vil.
A luta sem tréguas deve continuar em nome da democracia interna da UEMA e dos milhares de maranhense que trabalham e estudam na Universidade Estadual do Maranhão, um patrimônio acadêmico-científico que é do povo!
A luta continua! Venha compartilhar conosco!
LUTA DE CLASSES NO BRASIL: para não esquecer que somos proletários e protagonistas da história
Para Marx "a luta de classes é o motor da história". Esta concepção revolucionária de interpretar a dinâmica do capital nos impõe subverter os modos analíticos vigentes nas Ciências Sociais, os quais têm deixado de lado o uso de categorias fundamentais para a compreensão das sociedades capitalistas tais como: infra-estrutura, superestrutura, aparelhos ideológicos do Estado, força de trabalho, forças produtivas, relações de produção.
O trabalho e a produção material são as bases estruturantes da história da humanidade. Os homens produzem os seus meios de existência, fabricando utensílios, trabalhando a terra, desenvolvendo técnicas e tecnologia e transmitindo-as de geração em geração. Esses utensílios circunscrevem os indivíduos em relações de produção que são a base objetiva da sua existência numa sociedade capitalista, historicamente determinada, definindo, desta forma, a divisão social do trabalho.
Dado o grau de complexidade atingido pelas forças produtivas ao longo da história, chegou-se à divisão técnica do trabalho, surgindo, por conseguinte, as bases das relações de trocas mercantis: cada um coloca no mercado aquilo que produz além do seu próprio consumo; cabe ao mercado regular a troca e a repartição das riquezas.
Numa dada sociedade capitalista, há uma separação do trabalho intelectual em relação ao trabalho manual, em vistas do aumento do nível de especialização da produção. A etapa fundamental nos termos da divisão social do trabalho é aquela em que uma parte da sociedade se apropria dos meios de produção, permitindo, desta maneira, a exploração da maioria dos indivíduos que o processo histórico separou dos meios de produção.
Vislumbra-se, então, a estruturação da sociedade de classes onde os capitalistas proprietários dos meios de produção passam a explorar os proletários que não têm outra possibilidade senão vender “sua própria pele” no dizer de Marx, ou seja, o proletariado. Este é o trabalhador “livre” da sociedade capitalista.
A exploração de classe gera necessariamente a luta de classes, principalmente sob a forma atual do capitalismo, nos marcos da hegemonia ideológica do neoliberalismo, na busca do lucro máximo, definindo, para os explorados que estes não têm outra saída senão a de lutar para avançar ou resistir bravamente para manter os direitos sociais em vigência.
Em contraposição às análises de Marx, perguntar-se-ia: mas as classes não desapareceram na nossa época? Sabemos que a consciência social recuou dramaticamente no seio das classes trabalhadoras de inúmeros países, inclusive o Brasil onde o processo de cooptação do proletariado é hegemônico e descaracteriza a natureza de classe, impondo o jugo do patrão. Esse difícil processo não está desligado das renúncias dos partidos e dos sindicatos de classe no campo teórico e ideológico.
A repartição dos indivíduos em classes sociais é um dado objetivo que resulta do fato de os capitalistas comprarem a força de trabalho e os proletários venderem-na. A consciência e a identidade de classe são um fenômeno político e ideológico que depende das relações de força na luta de classes. O recuo da consciência política da classe proletária não prova, pois, de modo nenhum, a inexistência de classes.
Determinados interesses de específicas classes e de suas respectivas frações de classe, tem a ver com as circunstâncias que fazem com que elas adquiram maior ou menor capacidade organizativa, que as levem ou não, a se transformarem em força social independente e autônoma, podendo produzir como resultado visível a construção dialética de uma nova direção política através de partidos políticos vinculados à uma ideologia de classes ou expressão da ascensão dos movimentos sociais.
Meus caros, ao que me parece, esse é o grande desafio histórico do proletariado brasileiro nesta virada da segunda década do terceiro milênio. Para avançarmos nessa quadra é preciso cerzir uma nova unidade na esquerda socialista e revolucionária. Sob essa unidade real e histórica, poderemos tornar a luta de classes no Brasil um momento de avanço e de conquistas da classe trabalhadora.
A luta te convida!
O trabalho e a produção material são as bases estruturantes da história da humanidade. Os homens produzem os seus meios de existência, fabricando utensílios, trabalhando a terra, desenvolvendo técnicas e tecnologia e transmitindo-as de geração em geração. Esses utensílios circunscrevem os indivíduos em relações de produção que são a base objetiva da sua existência numa sociedade capitalista, historicamente determinada, definindo, desta forma, a divisão social do trabalho.
Dado o grau de complexidade atingido pelas forças produtivas ao longo da história, chegou-se à divisão técnica do trabalho, surgindo, por conseguinte, as bases das relações de trocas mercantis: cada um coloca no mercado aquilo que produz além do seu próprio consumo; cabe ao mercado regular a troca e a repartição das riquezas.
Numa dada sociedade capitalista, há uma separação do trabalho intelectual em relação ao trabalho manual, em vistas do aumento do nível de especialização da produção. A etapa fundamental nos termos da divisão social do trabalho é aquela em que uma parte da sociedade se apropria dos meios de produção, permitindo, desta maneira, a exploração da maioria dos indivíduos que o processo histórico separou dos meios de produção.
Vislumbra-se, então, a estruturação da sociedade de classes onde os capitalistas proprietários dos meios de produção passam a explorar os proletários que não têm outra possibilidade senão vender “sua própria pele” no dizer de Marx, ou seja, o proletariado. Este é o trabalhador “livre” da sociedade capitalista.
A exploração de classe gera necessariamente a luta de classes, principalmente sob a forma atual do capitalismo, nos marcos da hegemonia ideológica do neoliberalismo, na busca do lucro máximo, definindo, para os explorados que estes não têm outra saída senão a de lutar para avançar ou resistir bravamente para manter os direitos sociais em vigência.
Em contraposição às análises de Marx, perguntar-se-ia: mas as classes não desapareceram na nossa época? Sabemos que a consciência social recuou dramaticamente no seio das classes trabalhadoras de inúmeros países, inclusive o Brasil onde o processo de cooptação do proletariado é hegemônico e descaracteriza a natureza de classe, impondo o jugo do patrão. Esse difícil processo não está desligado das renúncias dos partidos e dos sindicatos de classe no campo teórico e ideológico.
A repartição dos indivíduos em classes sociais é um dado objetivo que resulta do fato de os capitalistas comprarem a força de trabalho e os proletários venderem-na. A consciência e a identidade de classe são um fenômeno político e ideológico que depende das relações de força na luta de classes. O recuo da consciência política da classe proletária não prova, pois, de modo nenhum, a inexistência de classes.
Determinados interesses de específicas classes e de suas respectivas frações de classe, tem a ver com as circunstâncias que fazem com que elas adquiram maior ou menor capacidade organizativa, que as levem ou não, a se transformarem em força social independente e autônoma, podendo produzir como resultado visível a construção dialética de uma nova direção política através de partidos políticos vinculados à uma ideologia de classes ou expressão da ascensão dos movimentos sociais.
Meus caros, ao que me parece, esse é o grande desafio histórico do proletariado brasileiro nesta virada da segunda década do terceiro milênio. Para avançarmos nessa quadra é preciso cerzir uma nova unidade na esquerda socialista e revolucionária. Sob essa unidade real e histórica, poderemos tornar a luta de classes no Brasil um momento de avanço e de conquistas da classe trabalhadora.
A luta te convida!
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
NAS FRONTEIRAS ENTRE O CINEMA E A HISTÓRIA
Por Rafael Evangelista e Andréia Barbieri
As fontes de que os historiadores se utilizam para produzirem seus conhecimentos sobre o passado vão muito além dos documentos escritos, preservados nos arquivos históricos. Do mesmo modo, os meios de que os historiadores se utilizam para transmitirem suas idéias sobre o desenvolvimento da história gradativamente deixam de ser apenas os livros e os artigos acadêmicos.
Desde a verdadeira revolução causada pelos historiadores participantes da francesa Escola dos Annales, a ciência histórica tem incorporado como seus objetos (e sujeitos) não apenas os grandes fatos e personagens políticos, mas também as idéias, os costumes e as mentalidades de cada período. A "História Nova", como ficou conhecida, foi um movimento surgido inicialmente entre os membros da revista Annales d'histoire economique sociale – fundada em 1929 por Lucien Febvre e Marc Bloch e que, a partir de 1946 passa a se chamar Annales, Economies, Societés, Civilizations – em direção de novas abordagens para a compreensão da história, fazendo uso de muitos dos métodos e conceitos de outras ciências humanas, como a sociologia, a economia, a psicanálise e, principalmente, a antropologia.
É nesse contexto, de assimilação de novos objetos e de novos métodos que surge o trabalho do francês Marc Ferro. Em 1971, no artigo "O filme: uma contra-análise da sociedade?" – publicado no livro História: novos objetos, de Jacques Le Goff e Pierre Nora – Ferro, um influente participante da revista dos Annales, estabelece contatos iniciais para a apropriação do cinema como um documento histórico.
"Resta estudar o filme, associá-lo ao mundo que o produz. A hipótese? Que o filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é História; o postulado? Que aquilo que não se realizou, as crenças, as intenções, o imaginário do homem, é tanto a história quanto a História." Marc Ferro, no artigo "O filme: uma contra-análise da sociedade?"
Ferro foi um pioneiro na incorporação do cinema como fonte para o entendimento das ideologias e mentalidades dos sujeitos da História. Através dos filmes, passou a buscar evidências que pudessem ajudá-lo a perceber e compreender determinados eventos e períodos históricos. Conforme afirmou em uma conferência, quando da sua recente presença no Brasil, "estudar só o cinema é um absurdo, como também é um absurdo estudar o mundo sem o cinema".
Segundo Ferro, o filme seria uma importante fonte para revelar tanto aquilo que o autor busca expressar – que está contido na narrativa, as idéias sobre determinados personagens, fatos, práticas ou ideologias – como para se perceber o que não se queria mostrar, como os modos de narrar uma história, a maneira utilizada para marcar as passagens do tempo, os planos de câmera. A partir destes seria possível penetrar, de acordo com Ferro, em "zonas ideológicas não-visíveis" da sociedade.
Outra área de atuação postulada por Ferro para os historiadores situa-se na produção de filmes históricos. Para Ferro, os historiadores devem procurar também fazer uso do cinema como meio de comunicação de suas concepções sobre a História. O trabalho dos historiadores seria importante para acrescentar algo que, segundo ele, o jornalismo geralmente não faz, que é explicar a origem dos fenômenos e poderia acontecer tanto em colaboração com jornalistas e cineastas como em documentários históricos.
Além de ter publicado uma vasta bibliografia historiográfica, Marc Ferro foi autor de alguns filmes que tematizaram alguns de seus objetos de pesquisa como a Revolução Russa e a história da medicina (La Grande Guerre, 1964; Lénine par Lénine, 1970; Une histoire de la médecine, 1980). Hoje, além de dar aulas e viajar pelo mundo todo dando conferências em diversas universidades, produz(ia) e apresenta(va) semanalmente o programa História paralela na televisão francesa (TV5), em que discute História e atualidades fazendo uso de imagens.
Iniciativas como a de Marc Ferro foram responsáveis pela formação de diversos grupos de pesquisa sobre o tema, inclusive no Brasil...
Fonte: http://www.comciencia.br/
As fontes de que os historiadores se utilizam para produzirem seus conhecimentos sobre o passado vão muito além dos documentos escritos, preservados nos arquivos históricos. Do mesmo modo, os meios de que os historiadores se utilizam para transmitirem suas idéias sobre o desenvolvimento da história gradativamente deixam de ser apenas os livros e os artigos acadêmicos.
Desde a verdadeira revolução causada pelos historiadores participantes da francesa Escola dos Annales, a ciência histórica tem incorporado como seus objetos (e sujeitos) não apenas os grandes fatos e personagens políticos, mas também as idéias, os costumes e as mentalidades de cada período. A "História Nova", como ficou conhecida, foi um movimento surgido inicialmente entre os membros da revista Annales d'histoire economique sociale – fundada em 1929 por Lucien Febvre e Marc Bloch e que, a partir de 1946 passa a se chamar Annales, Economies, Societés, Civilizations – em direção de novas abordagens para a compreensão da história, fazendo uso de muitos dos métodos e conceitos de outras ciências humanas, como a sociologia, a economia, a psicanálise e, principalmente, a antropologia.
É nesse contexto, de assimilação de novos objetos e de novos métodos que surge o trabalho do francês Marc Ferro. Em 1971, no artigo "O filme: uma contra-análise da sociedade?" – publicado no livro História: novos objetos, de Jacques Le Goff e Pierre Nora – Ferro, um influente participante da revista dos Annales, estabelece contatos iniciais para a apropriação do cinema como um documento histórico.
"Resta estudar o filme, associá-lo ao mundo que o produz. A hipótese? Que o filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga autêntica ou pura invenção, é História; o postulado? Que aquilo que não se realizou, as crenças, as intenções, o imaginário do homem, é tanto a história quanto a História." Marc Ferro, no artigo "O filme: uma contra-análise da sociedade?"
Ferro foi um pioneiro na incorporação do cinema como fonte para o entendimento das ideologias e mentalidades dos sujeitos da História. Através dos filmes, passou a buscar evidências que pudessem ajudá-lo a perceber e compreender determinados eventos e períodos históricos. Conforme afirmou em uma conferência, quando da sua recente presença no Brasil, "estudar só o cinema é um absurdo, como também é um absurdo estudar o mundo sem o cinema".
Segundo Ferro, o filme seria uma importante fonte para revelar tanto aquilo que o autor busca expressar – que está contido na narrativa, as idéias sobre determinados personagens, fatos, práticas ou ideologias – como para se perceber o que não se queria mostrar, como os modos de narrar uma história, a maneira utilizada para marcar as passagens do tempo, os planos de câmera. A partir destes seria possível penetrar, de acordo com Ferro, em "zonas ideológicas não-visíveis" da sociedade.
Outra área de atuação postulada por Ferro para os historiadores situa-se na produção de filmes históricos. Para Ferro, os historiadores devem procurar também fazer uso do cinema como meio de comunicação de suas concepções sobre a História. O trabalho dos historiadores seria importante para acrescentar algo que, segundo ele, o jornalismo geralmente não faz, que é explicar a origem dos fenômenos e poderia acontecer tanto em colaboração com jornalistas e cineastas como em documentários históricos.
Além de ter publicado uma vasta bibliografia historiográfica, Marc Ferro foi autor de alguns filmes que tematizaram alguns de seus objetos de pesquisa como a Revolução Russa e a história da medicina (La Grande Guerre, 1964; Lénine par Lénine, 1970; Une histoire de la médecine, 1980). Hoje, além de dar aulas e viajar pelo mundo todo dando conferências em diversas universidades, produz(ia) e apresenta(va) semanalmente o programa História paralela na televisão francesa (TV5), em que discute História e atualidades fazendo uso de imagens.
Iniciativas como a de Marc Ferro foram responsáveis pela formação de diversos grupos de pesquisa sobre o tema, inclusive no Brasil...
Fonte: http://www.comciencia.br/
Assinar:
Postagens (Atom)